Setembro é considerado o mês da prevenção ao suicídio. A campanha brasileira iniciada em 2015 é uma ação do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Uma pesquisa da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) informa que a taxa entre os adolescentes que vivem nas grandes capitais aumentou quase 25% entre 2006 e 2015 e, ainda, o estudo comprova que os jovens do sexo masculino cometem o suicídio até três vezes mais.
O dia 10/09 é considerado, desde 2003, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Os especialistas acreditam que a precaução é a melhor forma de ajudar. Por isso, no mês nove são organizados eventos com debates sobre o suicídio, alertando a população sobre a conscientização. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a medida preventiva auxilia 90% dos casos.
O psicólogo e professor da PUC-SP Marcelo Borelli explica “com certeza boa parte das tentativas de suicídio ou mesmo o suicídio poderiam ser evitados se de fato houvesse um acompanhamento mais próximo dessa pessoa, se ela tivesse seu espaço para poder falar o que está sentindo, se ela puder pensar sobre questão da vida dela”. Borelli ainda conta que é muito importante chamar atenção para a questão do suicídio e da saúde mental no mês de setembro, mas, que esse assunto precisa ser discutido, inclusive com campanhas, ao longo do ano.
Considerado um problema de saúde pública com 32 mortes diárias, o estado do Rio Grande do Sul registra a maior taxa, 10,2 suicídios por 10 mil habitantes, dados do Ministério da Saúde de 2010. A campanha “falar é a melhor solução” busca maior visibilidade à causa e, para isso, ilumina e pinta lugares ou pontos estratégicos para chamar atenção da população.
Lucas Ganemian, jornalista, foi diagnosticado com depressão há menos de dois meses e falou como o apoio da família foi primordial “acredito que ao falar com meus pais, apesar da preocupação que eles tiveram, consegui procurar ajuda rapidamente. Eles, com meu irmão e meu cunhado me deram total apoio”.
O diálogo constante é importante principalmente devido a alguns mitos que as pessoas, sem informação, falam como por exemplo “quem ameaça se matar, está querendo chamar atenção”. O especialista explicou “isso (esses mitos) é muito triste. Na verdade, a pessoa que tem depressão está sofrendo muito, um sofrimento que ela não tem controle, ela não tem vontade de fazer as coisas mais simples”. Ele ainda esclareceu que apenas a comunicação consegue mudar essas narrativas.
“Minha família nunca foi uma opção de conversa, porque eles são muito fechados, eu sinto que eles não entendem, eles acham que é uma besteira, que é só pensar positivo que vai passar” relatou uma estudante que prefere não ser identificada e sofre de depressão há 11 anos, ao menos quatro vezes tentou se matar. Ela ainda nos contou como seu ex namorado tratava a depressão dela “ele não entendia nem um pouco o que eu sentia, o que eu tinha. Ele não deixava eu chorar, porque, segundo ele, chorar é um sinal de fraqueza”.
Mayllon Soares, professor de educação física, namorou por dois anos uma mulher que tem depressão. Ele acredita que ela desenvolveu no relacionamento anterior que aparentava ser abusivo. Ele ainda comenta “tomei alguns cuidados depois que fiquei sabendo da depressão. Um deles, foi marcar uma sessão com a psicóloga dela para entender melhor como eu poderia ajuda-la superar a depressão de maneira mais rápida”.
O desemprego também tem sido um fator de risco das tentativas de suicídio. Borelli concorda com isso quando afirma “acho que parte disso tem a ver com o modo que a nossa sociedade está estruturada. As pessoas mais velhas, além de se sentirem mais sozinhas, não tem lugar no mundo. Os jovens por outro lado, vão sentindo cada vez mais uma pressão sobre o seu futuro, então, muitas vezes a vida pode ficar mais rasa, mais superficial. Aí a gente pode pensar que essas duas populações estão mais vulneráveis”.
“Meu primeiro gatilho foi o bullying e também a falta de atenção dos meus pais. O segundo, foi recentemente, faz um ano, meu ex-namorado era muito abusivo, ele me maltratava muito, meio que me abusava sexual e psicológicamente. Com isso, eu piorei e tenho recaídas até hoje, mas eu estou melhorando, sendo acompanhada, tendo bom amparo” contou a estuante.
Quem pensa que só pessoas do anonimato sofrem com depressão, estão enganadas. Diversos casos já foram relatados por celebridades, como a atriz internacional Catherine Zeta-Jones, o ator Jim Carrey a cantora Adele, o ator brasileiro Selton Mello e a atriz Adriana Esteves. Alguns casos são mais graves, Sophie Turner, famosa pelo seu papel de Sansa Stark em Game of Thrones, disse que pensou várias vezes em suicídio. Ela ainda disse que acredita que sofreu muito pela profissão que escolheu, diferente dos seus amigos de escola. Outros famosos que já assumiram que sofrem depressão e que também pensaram em cometer suicídio foram a cantora Demi Lovato e Paula Fernandes.
A OMS estabeleceu a meta de reduzir em 10% os casos de mortes por suicídio até 2020.
No mês de setembro algumas ações no Brasil foram realizadas:
- Vozes do silêncio: música de Carlinhos Brown em parceria com a CVV para a campanha #falarpodemudartudo.
- Sessão de terapia: série do GloboPlay está aberta a todos durante o mês de Setembro, sendo um convite à cuidar da saúde mental.
- Grande labirinto de girassóis (15/09): mais de dois mil girassóis foram espalhados no Largo da Batata em São Paulo, com o desejo de acabar com o preconceito e o silêncio sobre a depressão.
- Corinthians espalha girassóis pela arena (21/09): antes do jogo contra o Bahia, uma campanha alerta sobre depressão e suicídio, com o lema: “Na direção da vida - Depressão sem Tabu”, 70 crianças acompanharam os jogadores segurando girassóis.
- 4ª Caminhada pela Vida – Encerramento do Setembro Amarelo:
Data: 29/09 | a partir das 9h30
Local de saída: Av. Paulista, 37 – em frente à Casa das Rosas
Organização: CVV
Apoio: Uninove | Coren | Ecofit | Rede Social do Centro
Participação: Gratuita
Informações: cvvsp@cvv.org.br
A ONG mais antiga do país ajuda no apoio emocional e prevenção ao suicídio, a “CVV: Como vai você?” está disponível 24h pelo telefone 188 gratuitamente, chats no site https://www.cvv.org.br/ e pessoalmente.
A cor amarela:
Por detrás da cor, de acordo com a Associação Catarinense de Psiquiatria, há uma história: Em 1994, um americano de 17 anos, chamado Mike Emme, tirou a vida dirigindo seu carro amarelo. Seus amigos e familiares distribuíram no funeral cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando o mesmo desespero de Mike, e a mensagem foi se espalhando mundo afora.