STJD suspende John Textor por acusações sem provas

Mandatário do Botafogo ficará afastado de qualquer atividade relacionada ao futebol por 45 dias, além de pagar multa
por
Giovanna Brito
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02/05/2024 - 12h

Na sexta-feira (26), o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) suspendeu o empresário John Textor, CEO do Botafogo, por 45 dias longe de qualquer atividade relacionada ao futebol. Por já ter ficado suspenso por 28 dias, faltam apenas 17 de afastamento para cumprir. Ainda pelas punições, Textor terá de pagar multa de R$100 mil, sendo R$50 mil para à CBF e R$50 mil para instituições de caridade. 

As punições foram consequência das acusações, sem provas, feitas pelo empresário após o jogo entre Botafogo e Palmeiras, no Campeonato Brasileiro de 2023. Na ocasião, a equipe paulista venceu de virada por 4 a 3, no Estádio Nilton Santos. 

No final do jogo, o dirigente do time carioca disparou contra a arbitragem e Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). As reclamações do empresário eram por conta da expulsão do zagueiro Adryelson, no segundo tempo, em lance com o atacante Breno Lopes. 

“O mundo todo viu, isso não é cartão vermelho. Ele (Adryelson) pegou a bola primeiro. Não tenho certeza nem se foi falta. Mas não é cartão vermelho, ele mudou o jogo. Isso é corrupção, isso é roubo. Por favor, me multa, Ednaldo, mas você precisa renunciar amanhã de manhã. É isso que precisa acontecer. Esse campeonato se tornou uma piada”, disse Textor à TV Globo.

Após a sua fala, Textor foi punido de forma preventiva por 30 dias. A suspensão chegou a ser aumentada para 35 dias, mas o time carioca conseguiu efeito suspensivo para que o empresário conseguisse acompanhar a reta final do Brasileirão.

Ao final da temporada, o alviverde paulista terminou como campeão do Brasileirão série A, com 70 pontos, enquanto o Glorioso ficou apenas na quinta colocação, com 64 pontos.

John Textor em sessão da CPI falando ao microfone e com a mão esquerda levantada.
John Textor depondo para a CPI. Foto: Roque de Sá / Agência Senado

 

Polêmica para gringo ver

Já em 2024, John Textor voltou a fazer acusações sobre manipulação de resultados e favorecimento de times. Em março, o dirigente do Botafogo publicou em site próprio um vídeo onde acusava árbitros de “divisão menor”. A explicação aconteceu após o CEO apontar que árbitros teriam reclamado por não receber propina após um jogo. 

“Eu nunca disse que tenho gravação de árbitro envolvido em manipulação de resultados em jogos da Série A do Campeonato Brasileiro, ou em jogos do Botafogo, na Série A ou Série B”, argumentou. “Foi numa divisão menor. É um jogo conhecido por nós. Tem um treinador, tem um time, tem pessoas que identificamos. E tem uma gravação de um juiz falando que ele estava triste de ter perdido dinheiro porque o jogo que ele estava tentando manipular não tinha ido do jeito que ele tentava influenciar. Ele foi específico. Ele deu um minuto de acréscimo, deu um pênalti que não devia, e o atacante bateu o pênalti na trave. E ele reclamou, disse ter feito tudo que podia. É um sotaque carioca. Isso nos permite identificar o árbitro. Ele tentou de tudo, mas não conseguiu achar outro pênalti”, completou Textor ao contextualizar em que ocasião teria ocorrido a suposta gravação.

A suposta gravação teria sido autenticada e entregue para autoridades competentes. No entanto, Textor foi denunciado com base nos artigos 220-A e 223 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) por “deixar de colaborar com os órgãos da Justiça Desportiva e com as demais autoridades desportivas na apuração de irregularidades ou infrações disciplinares e deixar de cumprir ou retardar o cumprimento de decisão, resolução, transação disciplinar desportiva ou determinação da Justiça Desportiva”.

Outra acusação feita pelo empresário diz respeito a manipulação em partidas do Campeonato Brasileiro nas temporadas de 2022 e 2023 - ambos vencidos pelo Palmeiras. Segundo o próprio empresário, a base das acusações são relatórios feitos por uma inteligência artificial especializada.

Diante das denúncias, o STJD iniciou uma investigação e exigiu que todas as provas fossem apresentadas em três dias. Porém, Textor não cumpriu com os prazos, o que levou a decisão do Tribunal pelas punições. 

Essa não foi a única vez que Textor foi punido por não apresentar provas. Em novembro de 2023, o mandatário acusou a CBF de corrupção, devido a erros de arbitragem e foi denunciado por não apresentar provas referente às afirmações.

Durante entrevista ao  “Canal do Medeiros” no dia 01 de abril deste ano, Textor continuou comentando sobre a situação vivida no último campeonato, onde o Botafogo chegou a abrir 13 pontos de vantagem para o segundo colocado Palmeiras e terminou na quinta colocação, enquanto a equipe paulista ergueu a taça. 

“Ano passado foi turbulento. Não vou deixar o que aconteceu ano passado passar batido. Estamos em uma nova temporada. Temos provas pesadas, 100% confirmadas de que o Palmeiras vem sendo beneficiado por manipulação de resultados por pelo menos duas temporadas. Desculpe se isso vai criar barulho, mas tenho provas, vou mandar aos procuradores. Estou aqui para defender a honra do meu clube. Posso prometer a vocês que ninguém vai mexer nas nossas partidas desse ano”, afirmou.

Com tantas alegações, Textor foi convidado a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga possíveis manipulações de jogos no futebol brasileiro. O empresário apresentou relatórios e documentos que, de acordo com ele, evidenciam a manipulação de resultados no futebol. 

“Sou dono de um clube, quero ganhar campeonatos e se eu puder provar, além de uma margem de dúvida, que 2022 foi manipulado, que 2023 foi manipulado, juntos de outras evidências de anormalidades, poderia fazer com que o Tribunal Desportivo, a polícia e esse corpo legislativo possam tomar ações”, disse durante a sessão na CPI.

Em novas denúncias, sem apresentar nenhuma evidência, o CEO da SAF do Botafogo menciona uma suposta manipulação dos jogadores no confronto entre Palmeiras e São Paulo, quando o Verdão venceu por 5 a 0. 

O alviverde paulista já classificou a acusação como “bizarra tentativa” de justificar a perda do título Brasileiro de 2023, e acionou o empresário juridicamente. A equipe tricolor também interpelou criminalmente o dirigente norte-americano, chamando de “ato impensado” e “irresponsável” as acusações. 

A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, e o do São Paulo, Julio Casares, também foram convidados a depor no na CPI das Apostas no Senado. Ambos já se pronunciaram publicamente e negaram todas as acusações e criticaram Textor. 

Os relatórios produzidos por inteligência artificial também colocaram sob suspeita um confronto entre Palmeiras e Fortaleza, pelo Brasileirão de 2022. Na ocasião, pela 32ª rodada do campeonato, o Palmeiras venceu a equipe cearense por 4 a 0. O Leão do Pici também repudiou “de forma veemente” as declarações do presidente do Botafogo. 

 

Nota do Palmeiras: “O Palmeiras vem adotando todas as medidas jurídicas cabíveis contra o dono da SAF do Botafogo, John Textor, e não pretende se manifestar novamente sobre a bizarra tentativa do caricato cartola de justificar a perda do título brasileiro de 2023. Confiamos que as autoridades competentes tomarão as providências necessárias com a urgência que o tema exige.”

 

Nota do São Paulo: “O São Paulo Futebol Clube tomou conhecimento e repudia veementemente as graves e infundadas acusações de participação de atletas do elenco tricolor em manipulação de resultado feitas pelo dono da SAF Botafogo. Tal afirmação sem nenhum vestígio de prova ataca a idoneidade de jogadores do elenco profissional masculino e a lisura da instituição São Paulo FC em seus 94 anos de história. O clube já acionou seu departamento jurídico, que estudará e tomará as medidas cabíveis na esfera legal.”

 

Nota do Fortaleza: "O Fortaleza repudia de forma veemente as declarações do Sr. John Textor, dono da SAF do Botafogo, que acusa atletas do tricolor de estarem envolvidos em esquema de manipulação de resultados. Lamentamos que essas afirmações proferidas, sem a apresentação de quaisquer provas, possam macular a reputação de nossa instituição centenária, gerando assim danos na imagem do clube. Não acreditamos nessa forma de fazer futebol, preferimos o caminho da verdade, e caso o Sr. John Textor tenha provas, que as apresente para que os culpados sejam punidos. O Fortaleza Esporte Clube espera que tudo, seja esclarecido de forma legal, e caso necessário, tomará todas as medidas judiciais cabíveis."