A cultura brasileira hoje arde de vazio pois daqui pra sempre faltará o Brasil que ele cantou, contou e resgatou.
Tirar o Brasil da gaveta não é tarefa fácil pelo tamanho do nosso país e pelo peso do seu legado. Isso ele carregava com o riso e presepada característicos do nosso povo brasileiro. Faço questão de chamá-lo de Sr Brasil pois sei que carregava o quanto podia (e quanto podia!) dessa nossa casa desde jovem, e por confiar nele o que tanto carregava.
Sei que viu seu último dia do saci, seu último carnaval, seu último São João, Divino, São Gonçalo, Catira, Frevo, Samba, Repente, Modão como sempre: sabendo que aqui é um lugar especial.
Trazia sempre um causo - aqueles que expressam o quão sabido e cheio de ideia é o povo brasileiro, o quão bonito é seu país e o quão casado esse está com sua terra - e de todos que ouvi, gostei. Nada melhor do que ver um senhorzão grande (o Sr. Brasil!), narigudo e de cabelos brancos, com toda a bagagem que poderia querer ter, se fazendo de porta voz de causos populares contados pelos mais longínquos brasileiros - afinal, o que é de alguém desse país se não um contador de causos - dos mais longínquos territórios.
Quantos caboclos ele não interpretou? O quieto, o falante, o rezadêro, o violeiro, o pescador, o esmoleiro, o ateu, o fazendeiro, a mãe, a irmã, o peão. Com tantos causos fez rir a plateia, cativou e fez lembrar, daqueles que estavam longe de casa, de como era a vida fora da cidade.
Nos convencia com toda a proclamação que era o caboclo que representava. Tomando aquele café na xícara vazia e sentando no banquinho de madeira, contava e contava causos, recebia e recebia artistas, e, óbvio, falava e falava de Brasil.
Parceiro de Ariano, o Sr Brasil, quando cantava que “A viola fala alto no meu peito, mãe” aposto que queria dizer que o Brasil falava alto em seu peito. Isso pois sim, falava e falou alto por seus 86 anos de vida, durante os quais tirava da gaveta nosso país para nos contar e lembrar dele. “Tem que fechar a história, deixar marcada na história nossa vida brasileira”, dizia ele.