A solidariedade em tempos de COVID-19 acaba com a fome de moradores de rua

A pandemia tem se mostrado eficaz em expor a fragilidade das pessoas, mas pouco é explanado sobre a cenário de pessoas em situação de rua
por
Eduardo Rocha
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06/09/2020 - 12h

Em um clima de descontração, com música, pessoas alegres e vontade de fazer o bem, é realizada a entrega de mantimentos na tenda franciscana, no largo São Francisco, no centro de São Paulo.

Segundo o frei João Paulo Gabriel, coordenador da Tenda Franciscana, é visível que o perfil dessas pessoas mudou e muito, desde 27 de maio, quando se fez necessário montar a tenda. Acompanhando a entrega de marmitas, pães e garrafas de água mineral, é possível ver a extensão da fila formada e é nítido e até chocante ver as pessoas que a enfrentaram embaixo do sol escaldante. Muitas são visivelmente dependentes de drogas e álcool e outras tantas enfrentam essa fila, simplesmente por não terem como se alimentar. Famílias inteiras, entregadores de comida por aplicativo com suas bicicletas, que sentem o cheiro do que iram entregar, mas não tem o que comer. Uma verdadeira pluralidade de pessoas em diversas condições, mas que tem a fome como mal comum.

 “O SEFRAS (Serviço Franciscano de Solidariedade) a 20 anos atende pessoas em situação de rua, mas isso sempre foi realizado com o que ficou popularmente conhecido como ‘Chá do Padre’, que é um centro de acolhida, escuta e partilha na cidade de São Paulo. Nesse centro, além da entrega de mantimentos, são realizados atendimentos psicológicos, auxílio a encaminhamento a trabalho entre outros, mas com o aumento da procura pelos serviços e por atendermos em um espaço pequeno, fez-se necessário a criação emergencial da tenda” – nos relata Frei João Paulo.

A tenda que foi idealizada, montada e é mantida pelos freis e voluntários e que se encontra disposta na calçada, em frente ao prédio histórico da faculdade de direito da USP, não teve qualquer financiamento da prefeitura ou do governo do estado. “Entramos com uma solicitação, junto a prefeitura, para que nos cedessem um espaço para a montagem da tenda e apenas nos foi liberado o uso da calçada. Já houve caso de um rapaz sofrer um ataque epilético enquanto aguardava sua vez na fila e nos o acolhemos e chamamos o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mas não foi nos dado atenção quando foi dito que se tratava de uma pessoas em situação de rua. Apenas depois de duas horas, após uma viatura da polícia militar, que estava passando, e foi cercada pelas pessoas que estavam na fila, ter chamado o serviço de urgência” – diz.

Outro dado importante citado pelo frei João Paulo é a falta de transparecia quanto ao número de vítimas entre essas pessoas, seja por frio, fome, suicídio, assassinato, ou agora, causadas pela COVID. Estando na linha de frente do atendimento e na acolhida que também é feita conversando, ouvindo, costumam saber, pelos próprios ajudados, sobre casos ocorridos.

São distribuídas, de domingo a domingo, uma média de 1200 refeições, no almoço e no jantar. Para atender essa demanda, 600 refeições são feitas em cozinhas da própria igreja, sendo elas instaladas na sede do SEFRAS no bairro do Pari e a outra na região do Bixiga. Todo o mantimento vem de doação. As demais refeições são feitas e montadas por voluntários.

“A tenda foi criada com intuito de atender mais e melhor, mas acabou nos dando mais visibilidade. Dessa forma, muitos que tem o coração generoso, que já realizavam a partilha, mas tiveram que para, por medo do vírus, passou a nos procurar, através do site (http://doesefras.org.br/) para fazer usas doações.  E como tivemos um aumento expressivo da população em situação de rua no entorno, foi instalado, pela prefeitura, do outro lado da rua, um sistema de higienização, onde estes podem tomar banho e lavar suas roupas. Não sabemos dizer se isso já estava nos planos da prefeitura, ou se causamos essa iniciativa indiretamente, mas somos gratos por mais essa ação”.

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