Solidariedade através das telas

por
Gabriella Lopes e Isabela Câmara
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21/04/2020 - 12h

Depois de muitos pedidos de seus fãs, Jorge e Mateus – uma das maiores duplas sertanejas atuais no país – fizeram um show virtual por quatro horas e meia no YouTube no dia 3 de abril. A live está disponível no canal dos cantores e até o momento que foi escrita esta matéria, tem mais de 38 milhões de visualizações. Segundo o Uol, eles quebraram o recorde mundial de transmissão, conseguindo 3,2 milhões de espectadores ao mesmo tempo. Eles também aproveitaram a visibilidade e arrecadaram “216 toneladas de alimentos que ajudarão inúmeras famílias pelo país”, como declararam no Twitter.

Jorge e Mateus não foram os primeiros a tomarem tal atitude e com certeza não são os últimos. Outros artistas já estavam fazendo shows em diferentes plataformas, como o comediante Whindersson Nunes no dia 1 de abril. O cantor Mumuzinho, a pedido do Fantástico, da Globo, no dia 27 fez um show na varanda de seu apartamento para os outros prédios de seu condomínio na zona oeste do Rio de Janeiro. Além disso, começou um cronograma de shows que estão acontecendo virtualmente e, entre eles, constam apresentações da Marília Mendonça, Péricles, Zé Neto e Cristiano, Wesley Safadão, Bruno e Marrone, Gusttavo Lima e vários outros.

Shows que antes eram muito caros, agora estão sendo oferecidos de graça, devido à quarentena. Como disse Eliane Brum, em seu texto O vírus somos nós (ou uma parte de nós), “as pessoas se aproximaram socialmente com o isolamento social”. Mesmo que o texto de Brum se refira ao meio ambiente, podemos interligá-lo – assim como fez o Papa Francisco durante sua encíclica de Páscoa – com a empatia e o cuidado com o outro como parte de cuidar do mundo – algo que negligenciamos tanto quanto cuidar das mudanças climáticas do nosso planeta. E, nesse caso, falamos sobre os cuidados com a saúde mental.

Nem todos os envolvidos nessa onda de empatia são artistas, empresas também aderiram à ideia. Amazon, Telecine e Lacta são exemplos de corporações que aderiram ao ‘Fique em casa”, cada um à sua maneira. Seja disponibilizando e-books gratuitos, um mês de filmes grátis ou adotando o delivery de ovos de páscoa. Cada um fazendo sua parte nesses últimos dias para manter o público entretido em casa e diminuir a necessidade de mobilidade.

As iniciativas em favor do isolamento social ter surgido efeitos nas pessoas. Em uma entrevista, Isabella Silvestre declara ser cliente assídua da Amazon, e diz estar muito satisfeita.

Jornalista: A quanto tempo possui o Kindle?

Isabella: Tenho o aplicativo desde 2015 e o aparelho há mais ou menos um ano.

J: Qual a sua avaliação sobre a Amazon em geral? Sempre esteve satisfeita com o serviço?

I: É um site ok. Fácil de mexer. Tem uma grande variedade de produtos e um preço ok. A respeito do serviço, nunca tive problemas, em um geral o atendimento ao cliente deles é rápido e bom.

J: O que achou quando a Amazon anunciou o começo dos e-books gratuitos devido à quarentena?

I: Ao entrar na Amazon era comum encontrar alguns e-books gratuitos antes mesmo da pandemia, porém, com o início da quarentena, muitos autores e editoras decidiram disponibilizar e-books gratuitos para o entretenimento durante esse período. A iniciativa é interessante pois é uma forma de entreter o leitor durante um período difícil e que também permitiu muitas pessoas terem acesso a diversos livros de forma gratuita.

J: Quase dois meses depois de realizar esta iniciativa, eles continuam disponibilizando, como uma ação para manter a quarentena mais suportável. Acha que está funcionando?

I: Acredito que ainda funcione, porém não com tanta eficácia como no início. Antes havia toda aquela preocupação e um pouco de desespero e eu acho que o serviço dos autores e das editoras, assim como outros, ajudaram a acalmar as pessoas, dando a elas algo para ocupar a mente e até estimulando as pessoas a ficarem em casa. Vale lembrar que a decisão de disponibilizar livros gratuitos deve partir das editoras e dos autores por meio da plataforma Kindle na crise epidêmica. Resta aos consumidores a imaginação de como utilizar o serviço, como ler ao mesmo tempo que os amigos, socializar vendo as mesmas séries (como a Amazon Prime, Netflix, Telecine Play, GloboPlay que também disponibilizaram um mês gratuito de seus serviços de streaming). 

Até 2020 artistas e instituições privadas e públicas nunca tinham realizado tal feito. O uso em massa dos serviços de vídeo online tem mostrado novos tipos de relações entre consumidor e fornecedor. Por ser algo pioneiro, não é perfeito, mas demonstram que existe a capacidade de democratizar culturas e serviços como nunca vistos antes.

A solidariedade e a união afloraram fortes logo no momento que a separação veio duramente imposta pela covid-19. A tecnologia pode ser uma grande aliada nesses tempos: vídeo chamadas, ligações e mensagens instantâneas têm permitindo o home office e o ensino à distância.

Mas a tecnologia serve apenas como meio para nos manter sãos enquanto estamos isolados. São as ações humanitárias de artistas, empresas e dos próprios cidadãos (que visam ajudar quem precisa nesse momento tão difícil) que servem como fim. E vale lembrar, ainda, que devem partir de nós a iniciativa de manter contato, mesmo à distância, com nossos amigos e familiares. Em outras palavras, a mudança deve partir de nós seres humanos e não da inovação tecnológica.

 

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