Eu juro que entrei, que passei pelos arcos da entrada, e levantei os braços: “Estamos de volta!”. Lembrei de quando meu pai me trazia para ver os intermináveis filmes egípcios (com três horas de duração) em meio a "inteligentinhos" cinéfilos de boina. De qualquer forma, “Estamos de volta!”.
É uma afronta o desmonte cultural que estamos sofrendo nos últimos anos; como essas antigas paredes de tijolos (roídas pelo tempo), a cultura - assim como o samba, se me permitem - agoniza mas não morre. Confesso que engasguei durante os discursos de abertura, que engasguei quando vi as cenas do incêndio (de causas ainda não concluídas) consumindo a história do cinema nacional. A nossa história.
Lá fora, a praga que corrói nossa cultura; aqui dentro, "A Praga" de José Mojica, filme inédito, feito em português e dublado em português devido a seu áudio estar corrompido e perdido com os anos de esquecimento. Ali, voltamos à primeira vez em que vimos o Zé do Caixão amedrontar nossos sonhos e fazer com que cortássemos nossas unhas o mais curto possível, voltamos ao primeiro estranhamento do cinema perturbador que temos aqui no Brasil… todo mundo estava em novidade.
Quando Zé do Caixão abre o filme nos perguntando se somos supersticiosos ou se desafiamos o desconhecido, eu sabia que era de verdade.
Sexta feira 13. Ali, éramos as almas da cinemateca brasileira.