"Ser jovem não é mais um ato revolucionário"

Jornalista Andrea Dip encontra alunos da PUC-SP para uma reflexão sobre a extrema direita e a geração de adolescentes e jovens adultos que passaram a simpatizar com a onda conservadora
por
Isabelle Muniz
|
10/04/2025 - 12h

​     

      O fato de a extrema direita estar em constante crescimento entre a geração mais jovem não é novidade para quem minimamente se interessa por política. Andrea Dip, repórter investigativa independente, conta suas experiências infiltrada em congressos da direita, compostos pela bancada evangélica, fundamentalistas cristãos e conservadores. A repórter menciona que essas figuras de poder se reúnem, em média, mensalmente, para debater sobre discursos nacionalistas, eugenistas, xenófobos e homofóbicos. O questionamento a se fazer é: o que atrai o público jovem e de que maneira esse discurso se infiltra nas raízes da nova geração?

      A jornalista informa, sobre a aproximação dos jovens com o discurso radical, que “a extrema direita está sabendo capitalizar e instrumentalizar, sabe usar muito melhor as redes sociais, sabe dar respostas fáceis e utiliza uma visão idealizada do passado para propor o futuro”. Tendo em vista tal afirmação, faz-se necessário realizar uma reflexão sobre a atual situação social. Figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira e o ex-presidente da República, atualmente inelegível, Jair Messias Bolsonaro, utilizam suas redes sociais como ferramentas para conquistar cidadãos jovens que são amplamente engajados nas comunidades virtuais. No último domingo (30/04), Nikolas ridicularizou o deputado federal André Janones, apoiador da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de uma comparação física entre André e um personagem de desenho animado, gerando grande repercussão e viralizando entre adolescentes e jovens adultos.

Nikolas Ferreira tirando sarro de deputado em sua rede social X
Nikolas Ferreira ridicularizando deputado em rede social. Fonte: X.

       As piadas aparentemente inocentes são intencionais para fisgar jovens pouco informados politicamente, que veem figuras políticas que, através de um estereótipo, tendem a apresentar alto nível de seriedade, transformando pautas sérias em diversão. Tal metodologia de abordagem ideológica tem dado resultados, visto o crescimento de discursos conservadores e repetitivos entre adolescentes, raramente embasados. Associar a extrema direita com a ideia de rebeldia vem se tornando uma realidade entre estudantes. Na década de 80/90, ser rebelde era sinônimo de oposição ao sistema, à direita e ao conservadorismo. Discursos neonazistas e neofascistas, também resultado da idealização de um passado distorcido e da ausência de manutenção da memória coletiva da sociedade, têm se tornado cada vez mais comuns. Jovens frustrados, com receio de rejeição e com vontade de se “oporem” a um sistema que é, na visão apresentada para eles em redes sociais como visto acima, de esquerda, têm uma tendência maior a adotar discursos semelhantes aos de regimes totalitários e nacionalistas. A repórter afirma que ser jovem deixou de ser um ato revolucionário; com a era moderna, a esquerda deixou de ler a direita, e a direita segue interpretando e se inserindo na sociedade mundialmente.

      Nos Estados Unidos, o atual presidente, Donald Trump, apresenta respostas simples para problemas complexos, e seus discursos transfóbicos e eugenistas atraem a nova geração. Desde seu primeiro mandato, a higienização social resultante do descaso de povos marginalizados no país norte-americano é o pilar de seu discurso. Agora, com a renovação de seu cargo, a expulsão de brasileiros e o decreto que decide o banimento de mulheres transgênero de práticas esportivas foram amplamente apoiados pelo público estadunidense e majoritariamente pelos jovens.