Paula Rodrigues, que adotou o nome social “PC”, se descobriu gênero-fluido há 6 anos e detalhou em entrevista para o jornal Agemt como se expressa na sociedade atual e quais são os desafios enfrentados pelo desconhecimento dessa identidade de gênero.
Segundo o jornal Queer, o termo “genderfluid” surgiu oficialmente na década de 1990. “A pessoa flui entre os gêneros, ela pode se identificar como homem, mulher, neutra, sem um período de tempo definido, podendo se entender como mulher por anos e depois se reconhecer como um homem por um dia, tendo diversas variáveis”.
Reprodução - Bandeira gênero-fluido
A bandeira gênero-fluido foi criada somente em 2012, por JJ Poole, 22 anos após o surgimento do termo. Cada cor da bandeira tem um significado que rege em torno da fluidez de gênero. A cor rosa simboliza a feminilidade, a branca representa a ausência de gênero, a roxa é a combinação entre masculinidade e feminilidade, a preta mistura todos os gêneros e o azul representa a masculinidade.
Nesse sentido, PC afirma que em alguns dias se expressa de forma feminina e delicada, usando vestidos e maquiagens e em outros momentos utiliza bermudas e roupas mais largas masculinas, estando “dentro de várias caixinhas e não de uma só”. No entanto, sua fluidez não se limita às vestimentas, já que quando está mais masculino percebe que anda de uma forma mais bruta e inconscientemente se inclina para frente como se fosse camuflar os seios.
Segundo PC pessoas gênero-fluido transicionam infinitamente, "é como se envolvesse mais que dois gêneros, tem dias até que sou uma mistura deles, e o conceito de ser mulher e homem vai muito além dessas duas definições, você pode ser um homem com jeitos “femininos” e isso não te torna menos homem."
Qual a diferença entre gênero-fluido e não binário?
Pessoas não binárias são aquelas que não se limitam aos gêneros masculino e feminino, se identificando com a ausência de gênero, diferente de pessoas gênero-fluido que transitam na fluidez entre o feminino, o masculino e as demais identidades de gênero.
Reprodução - Símbolo gênero-fluido
“Tem dias que sou ele/dele, outros ela/dela e sempre digo para as pessoas com qual deles estou me identificando. Tem dias que é difícil explicar quem eu sou, na linguagem binária, e por conta disso acho importante a existência de pronome neutro para nós”, afirma PC. O devido uso dos pronomes de uma pessoa gênero-fluido demonstra respeito e acolhimento em relação à sua identidade.
Todavia, a família de PC insiste em adotar somente o pronome feminino e “tentam ignorar o fato que sou gênero-fluido, fingem que é apenas uma fase”, revela. Já a relação com os amigos é de compreensão, desde o momento em que assumiu, em 2017.
Lidar com aqueles que não entendem a sua identidade de gênero é algo vivenciado corriqueiramente, ser taxado como pessoa indecisa e que “quer ser tudo ao mesmo tempo”. Ao sair com vestimentas masculinas em um dia em que está se identificando com o gênero masculino, PC tem o costume de ouvir perguntas como: “mas então agora você virou homem?”, passando pelo constrangimento de ter que explicar a sua identidade de gênero constantemente, como se esta fosse a função das pessoas fluídas ou algo do tipo.
Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo