A 42ª semana de jornalismo, promovida pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, apresentou como tema da última mesa “Erros e acertos no combate à desinformação nas redes”. A responsável por mediar o encontro foi a professora Pollyana Ferrari Teixeira, que teve como convidados: Patrícia Campos Mello (Folha de São Paulo), Guilherme Amado (Época) e Eugênio Bucci (ECA-USP). O encontro contou com cerca de 155 pessoas e trouxe diversos debates sobre as viralizações de notícias falsas e métodos para combatê-las.
Os convidados, falaram abertamente sobres seus pontos de vista sobre como a desinformação vem ganhando força na sociedade.
O combate à desinformação está sendo um dos maiores desafios para o jornalismo, pois os fatos e as checagens não têm as mesmas visualizações se comparados às notícias falsas, que são mais facilmente compartilhadas. Então, como o jornalismo pode passar por essa crise da informação?
O assunto tratado na mesa é tão vasto e de tamanha importância, que até inspirou o livro “A Máquina do Ódio”. Obra esta escrita por Patrícia, uma das convidadas da noite, que opinou: “As pessoas até sabem que são notícias falsas, mas por colaborarem com crenças pessoais, elas acabam compartilhando. O problema é a educação do povo brasileiro? Existem pessoas muito bem educadas, de classe alta até, que saem compartilhando notícias falsa. Se só colocar a informação verídica na linha fina ninguém vai ler. Senão fizer a contextualização no título, ninguém vai ler. A gente não sabe combater fake news e o jornalismo está perdendo de 10 a 0" ― finalizou.
Em sua apresentação, Bucci acrescenta um outro ponto de vista: "A verdade dos fatos não importa, pois não é mais importante se é verdade ou mentira. A questão não é se é verdade ou mentira, mas se aquela verdade ou mentira corresponde ao um ódio muito grande de alguém. A verdade dos fatos é apenas um expediente da propaganda".
Os convidados apontaram o conceito da “pós-verdade” que é quando a informação da fake news vai de acordo com a verdade de cada pessoa: “Se conformou um ambiente, no mundo, que favorece a propagação de conteúdos que existem para tocar as pessoas na áreas sensíveis, não para informar e criar um debate”- falou Bucci.
Já o jornalista da Época afirmou: “A gente tende a achar que o boato é bem sucedido quando ele viraliza, ou quando uma grande parcela da população é enganada por aquilo. Mas um texto que li pontuava que elas são bem-sucedidas muito antes (...) Pois nós já perdemos muito tempo, e estamos perdendo tempo agora, falando de ‘cristofobia’ e de ‘índio queimando Amazônia’ (...) O propagador de fake news, quando sofre no bolso, ele tende a parar”
Para o combate à circulação de notícias falsas ou tendenciosas muito se fala sobre a educação midiática, ou seja, a população é ensinada a usar as redes com maior responsabilidade e consciência, e Amado é um dos comunicadores que defendem essa ideia. Porém, a jornalista da Folha de São Paulo explica que esse método esbarra em dois empecilhos, que seriam: “(...) qual a disposição das pessoas de irem atrás de uma checagem? E, muitas vezes, mesmo mostrando fatos, as pessoas compartilham pois vão de acordo com suas crenças.”
As fake news, atualmente, são usadas como ferramenta política, pois se faz o uso dela para atingir os interesses de alguém. É o que explica o professor da ECA: “O principal é varrer o inimigo, e qualquer pessoa vira um agente de mentira. O mais importantes é saber se isso atinge o inimigo”. Ele ainda acrescenta que o resultado disso é a acumulação de um ódio muito grande dentro da sociedade, que não consegue ver o todo, os fatos, mas que, por conta do sentimento, colocaram a culpa em um único alguém: “o inimigo”.
Após suas falas, foi aberto o espaço para aqueles que acompanhavam a palestra fazerem perguntas. Uma delas foi: "Estamos falhando em sermos menos diretos na exposição dos fatos?"
"Eu vejo uma mudança aos poucos em não ficar com eufemismos. Mas não adianta fazer essa contextualização na linha fina ou no texto, temos que contextualizar no título, se não estamos 'factuando' essa verdade. Tem que ficar claro isso. E os veículos estão começando a fazer isso, se não, só vamos reverberar" ― comentou Patrícia.
“Não somos nós que estamos falhando, é uma luta que já começa inglória. Enquanto uma checagem demora seis minutos para espalhar, a outra (notícia falsa) demora um minuto. A fake news é sexy, ela mexe com nossos sentimentos, sempre, então sempre vai ser uma luta inglória”. ― acrescentou Amado
"Se conformou um ambiente, no mundo, que favorece a propagação de conteúdos que existem para tocar as pessoas nas áreas sensíveis, não para informar e criar um debate" ― concluiu Bucci
Como bem apontou Teixeira: "a desinformação é o parasita desse século". As fakes news estão presentes no cotidiano dos usuários das mídias digitais, e o jornalismo é um meio para confrontá-las. Contudo, como afirma Mello, o jornalismo ainda não descobriu a forma de viralizar as notícias corretas. "Há colegas que defendem que deveríamos ignorar as fakes news, mas eu discordo. Se conhecemos as técnicas para desmentir, temos que fazer!" ― disse Amado.