A 43ª Semana de Jornalismo da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) com eventos online, temáticos e diários, finalizou na última sexta-feira (11) com a mesa “No Olho do Furacão: Jornalismo e Hard News”. Mediada pelo jornalista, mestre em ciências da comunicação e professor de telejornalismo Marcos Cripa, a videoconferência contou com a presença de grandes nomes do jornalismo, como Sergio Utsch, Gabriela Mayer, Myrian Clark e Fábio Pannunzio, que contaram um pouco de suas experiências no ambiente do jornalismo em tempo real.
O evento realizado de forma online pelo aplicativo de videoconferências Zoom, assim como todos os outros que ocorreram durante aquela semana, era aberto a todos aqueles que se inscreveram anteriormente, sendo assim, mais de 140 pessoas estiveram presentes simultaneamente, e que além de assistir tiveram também a oportunidade de fazer perguntas diretas aos jornalistas convidados, prática comum na Semana de Jornalismo e que aproxima o estudante daqueles que admira.

A abertura foi feita pelos alunos-coordenadores da mesa, Camilo Mota e Rafaela Serra, que leram uma carta em homenagem ao jornalismo, relembraram o consórcio de veículos criado na pandemia de Covid-19 a decisão do Supremo Tribunal Federal pela culpabilização do Estado frente à agressão ao fotojornalista Alex da Silveira e aos mais de 480 mil mortos até àquele dia.
“Frente à crise sanitária em que vivemos, as crises social, política e econômica, matrizes de tantas outras crises, o jornalismo precisa lidar diariamente com a segunda maior pandemia que estamos vivendo - a desinformação.
Com a nova doença, a covid-19, da qual ainda pouco se sabe, juntamente com a intransparência e manipulação de dados pelo próprio governo, o jornalismo diário, factual ou hardnews, se tornou ainda mais necessário. (...)
Esta mesa também homenageia os mais de 480 mil vitimados por esta doença no Brasil, àqueles que choram pelo extermínio de negros e pobres diariamente, aos jornalistas agredidos todos os dias ao exercerem sua profissão, e reverencia o jornalismo que vem sendo um dos maiores aliados na busca pela verdade, no combate à desinformação e na difusão dos fatos reais, além da defesa da vida durante a pandemia. (...)”.

O professor Marcos Cripa apresentou os convidados, passando a palavra a Sérgio Utsch, correspondente da SBT em Londres para cobrir a pandemia. E Sérgio começa sua apresentação contando como foi o início de sua cobertura na Inglaterra. Sérgio conta que foi logo no início da pandemia, quando não se sabia muito o que estava acontecendo e que geralmente ele observava outros países, de longe, como a China ou a Itália. “Foi a cobertura mais longa e sem dúvida a mais cansativa que eu já fiz, exigindo muita pesquisa, ainda mais porque a comunidade científica pouco sabia também. Então tem sido um desafio absurdo”, diz. O correspondente também falou sobre o dia a dia. Para ele o que dificulta bastante, também, é a forma solitária em que se é necessário usar a tecnologia, já que ele trabalha sozinho e o hardnews, segundo diz, depende não só da rapidez nas pautas mas também no manuseio dos aparelhos tecnológicos, pois é preciso mandar a informação da forma mais depressa possível. Em contraponto, Sérgio diz sempre reafirmar que, para além disso, é necessário que uma notícia tenha todo o contexto possível. “Não é suficiente apenas dizer que um crime aconteceu na rua ‘x’ e morreu pessoa ‘a’”.

Ao se apresentar, Gabriela Mayer relembra que saiu do Jornal da Cultura - Primeira edição, da TV Cultura e foi para a Rádio Band News, do grupo Bandeirantes. Segundo ela, na televisão o jornalista consegue pensar no que vai colocar com mais tranquilidade. Na sua primeira semana, houve o atentado em Barcelona e comenta que era mais fácil entrar em contato com as pessoas do local. Na rádio, você tem que descrever e ela acessava muito o Google Maps para poder explicar ao público. São os âncoras que operam a mesa
Deixa uma provocação: sobre contexto, principalmente no campo das notícias factuais. “Para se ter contexto, precisa ter uma desaceleração. Precisamos desacelerar para construirmos algum nível de humanidade na informação. O Hard News está num momento de muita aceleração e talvez possamos fazer um convite para que ele se desacelere. Como podemos pensar nessa desaceleração?” E finaliza sua apresentação falando que está buscando por essas respostas.
Mayer acredita no jornalismo mais construtivo, que colabore para a emancipação de pensamento. “O Hard News ele pode ser hard, mas não precisa ser fast demais, para que as pessoas possam absorver o que estão vendo.”

Já Myrian Clark, jornalista e apresentadora do canal MyNews, no Youtube, inicia sua participação com muito entusiasmo. A jornalista parabeniza e agradece os alunos e professores que tornaram o evento possível. Conta brevemente sobre sua carreira, citando os jornais e emissoras por onde passou. Clark comenta que começou trabalhando com hardnews, em um jornal policial do Grupo Folha, onde tinha a missão de apurar as informações, visitando os locais das ocorrências. Nos anos seguintes, trabalhou na produção do Programa do Jô, da Rede Globo.
Nos últimos anos, Clark deixou a grande imprensa para se dedicar ao jornalismo independente. O canal MyNews, onde trabalha atualmente, surgiu como proposta de um jornalismo mais leve, que tratasse de assuntos de relevância social. Clark foi convidada a participar do canal pelos fundadores, Mara Luquet, jornalista de economia, e Antonio Tabet, humorista e roteirista. O MyNews vem se destacando no ramo desde a sua fundação em 2018. O canal conta com quadros semanais, onde os apresentadores, junto aos convidados, falam sobre temas como política e economia.
Fábio Pannunzio, duas vezes vencedor do prêmio Esso de jornalismo, atuando nas mídias eletrônicas há quatro décadas, edita o Blog do Pannunzio, site de postagens dedicado à crítica social, delação a violência e corrupção - coadministrado por Adriana Vandoni e também atuando com Myrian Clark, outra convidada da palestra que já teve sua sessão dedicada aos seus feitos e sua produção.

Ele relata as dificuldades do período de pesquisas de dados sem os recursos oferecidos pela internet, a interação por meio das cartas, da metodologia de produção de pauta, assim como todo o treinamento necessário para a adaptação aos novos meios de comunicação e aos recursos do exterior. Chegando na conclusão que no jornalismo atual, está ausente a figura de um mediador, de "traduzir o que era acreditado que a opinião pública deveria receber" um ato que ele realmente admite como um tanto ditatorial.
"As pessoas ficavam nas manchetes dos jornais, porque o mundo acabava ali." Ele afirma que as aberturas democratizantes disponibilizadas pela internet, resultam em uma maior pluralidade dessa produção, mas não tem controle de texto apropriado para a sua produção. "Nessas referências de realidade tão fluídas, o mundo líquido que a gente está vivendo, a realidade que se lixe", ressalta Pannunzio, que explica que após escolher um objeto para construir uma notícia, você a desenvolve para falar com um público específico e não deveria ficar surpreso pela capacidade de não se identificar com outro público diferente, o próprio condutor da mensagem entrega um sentido diferente dependendo do indivíduo.
Comenta também as dificuldades das mudanças das linguagens de comunicação, indicando essa como a chave para a sobrevivência no mercado de trabalho "A única coisa que dá capacidade analítica é a amplitude horizontal de nosso universo intelectual", conclui. O debate está disponível na integra no canal Rede PUC no Youtube, se quiser assistir clique aqui.