Sem suporte do Governo, artistas buscam formas de se adaptar à pandemia

Experimentação, novos formatos e lives são os recursos utilizados pelos profissionais da cultura para se manter durante a quarentena.
por
Carlos E. Kelm
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26/06/2020 - 12h
Marietta posa para foto
Marietta. Foto: Raquel Vital

Artistas recorrem à experimentação para se adaptar à pandemia. As políticas de distanciamento social inviabilizaram shows e espetáculos, interrompendo a principal fonte de renda destes profissionais.

“A gente trabalha com aglomerações”, comenta Marietta, que teve o lançamento do seu novo álbum “Analógica” adiado. “O retorno estava totalmente apoiado nas ações voltadas pros shows, que ainda são a maior fonte de renda da música”

A cantora trabalhava no projeto há três anos e chegou a lançar o primeiro single “Analógica” em janeiro. Mãe solteira, revelou que a rotina tem sido difícil: “Eu tenho uma filha pequena e, sem a creche, meu trabalho tá muito grande”

Marietta está produzindo uma série de vídeos caseiros intitulada “Videobilhetes” para o seu canal no IGTV e planeja lançar mais um single ainda na quarentena: “Este momento está forçando tanto artistas quanto outros profissionais a pensar alternativas”, conclui.

A cantora revelou que planeja fazer uma live, mas lembra: “A live não substitui o show. A qualidade técnica ainda não chegou num patamar que possa garantir a integridade do trabalho”

“Já era difícil antes”, declara ao falar sobre a situação da cultura no país, “A princípio houve uma grande morte do setor”. No entanto, a cantora é otimista quanto à comunidade artística: “Acredito que a gente vai conseguir se organizar e trazer medidas práticas que possam reduzir os danos”

 

Foto de André Grecco
André Grecco. Foto: Acervo pessoal.

 

A comédia “A Banheira”, na qual ator e diretor de teatro André Grecco atua há dois anos foi suspensa, assim como o seu monologo “A Dama da Noite”, que entraria em cartaz na Biblioteca Mário de Andrade.

Sem as bilheterias, Grecco, que também é professor, ministra aulas remotas para se manter. “Estamos entre artistas que tinham uma reserva financeira e estão vivendo com ela, artistas que, como eu, dão aula e estão dando aulas de maneira remota, e artistas que estão dependendo de fundos levantados por colegas ou de ações do governo para poder sobreviver”

Grecco pretende aderir às plataformas virtuais e planeja realizar uma montagem que será apresentada remotamente, tendo parte de sua casa como cenário. “Eu acho que esses novos formatos podem ser muito interessantes, pode ser um momento de muitas descobertas na relação entre arte e tecnologia”, comenta o ator. No entanto, não acredita que o teatro físico possa ser substituído: “Acho que teatro é o ‘pessoalmente’ não só o ‘ao vivo’”

O ator também critica a falta de preocupação do Governo Federal com a cultura: “A cultura sempre esteve em último lugar, eles querem que ela sirva à religião deles e à ideologia deles”

Para Grecco, a cultura desempenha papel importante na Saúde Pública: “Se não tivesse nenhum tipo de arte agora, cinema, séries, as lives, a saúde psicológica do povo não estaria pior?”

O ator revela que artistas e técnicos das artes cênicas estão se mobilizando para pressionar os órgãos públicos: “Estamos lutando para que, através do Fundo Nacional da Cultura, façam alguma coisa por nós, para que os teatros que não estão tendo como se sustentar possam sobreviver a essa crise”

“A Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, na figura Hugo Possolo está lutando, e agora conseguiram apressar os editais para que recebamos pelo menos uma parte do dinheiro e consigamos produzir ainda esse ano”, comenta Grecco.

Comedia "A Banheira". Escrita por Gugu Keller.
Comédia "A Banheira". Direção: Alexandre Reinecke

Foi aprovada no dia 4 de junho, a lei de auxilio emergencial à Cultura, por unanimidade no Senado. O projeto visa direcionar R$ 3 bilhões à classe artística. Para ser aplicada, a lei ainda deve passar pela sanção presidencial; caberá ao Presidente da República, Jair Bolsonaro, a sua aprovação ou veto.

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