No último sábado (29) aconteceu no Autódromo de Interlagos, zona sul da cidade de São Paulo, o segundo dia do festival Internacional de música Lollapalooza. Dessa vez sem chuva, mas com um pouco de barro do dia anterior, se apresentaram artistas como Benson Boone, Marina Lima, Zedd, Tate McRae, Alanis Morissette, e Shawn Mendes.
Os portões abriram mais cedo que o anunciado, por volta das 10:40, e não houve filas ou confusões. Contratados pelo evento indicavam com megafone o caminho até o portão A ao longo da avenida Interlagos, ajudando quem chegava de carro ou a pé. No portão G, para quem vinha de transporte público, havia grades desde a saída da estação Autódromo da linha 9 turquesa, a mais próxima do local.
Ao meio-dia a música começou a tocar com atrações sulistas nos palcos Samsung Galaxy e Perry by Fiat. No primeiro deles, o palco secundário do evento, a banda de Porto Alegre, Picanha de Chernobil, entregou o seu rock alternativo que frequentemente pode ser encontrado aos finais de semana na Avenida Paulista. Já no destinado aos DJs, o curitibano Fatsync, deu um gosto da música eletrônica que estava por vir.

Com sol forte e temperaturas na casa dos 30 graus, a tarde seguiu com a apresentação efusiva da banda paulista Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo. Formada em 2019 com uma sonoridade que mistura rock, indie e pop, chamou a atenção pelas manifestações políticas no telão ao longo do show. Frases como “Palestina Livre” e “Bolsonaro Réu” foram entoadas pela plateia ainda pequena no palco Mike’s Ice, de música alternativa.
Em seguida foi a vez de Marina Lima contagiar o público com seus hits dos anos 80 e 90 acompanhados da irreverência da artista carioca. Às 15:50 o show começou com “À Francesa” de 1988 e o sucesso “Fullgás” de 1984. Durante a apresentação alguns problemas técnicos ocorreram com o volume da guitarra usada por Marina, que reclamou: “Mais alto, mais alto, isso é um festival!”
Mesmo assim a energia não caiu e apesar do horário ruim para um festival, as principais atrações e artistas internacionais se apresentam à noite, diante de milhares de pessoas. Conhecida por seu ativismo em defesa das mulheres e pessoas LGBTQIAPN+, o trecho da escritora Fernanda Young “Nada mais indigesto para o mundo dominador que a liberdade de uma mulher” foi exibido no telão antes de cantar “Árvores alheias”.

O show ainda contou com um cover de “Lunch” da estadunidense Billie Eilish e a participação especial de Pabllo Vittar na faixa de 1984, “Mesmo que Seja Eu”. As duas cantaram em seguida “K.O” de Vittar, que enalteceu a artista: “Quero falar quanto você é inspiradora para mim e para a música. Viva Marina Lima”, entoou Vittar, ao final da aparição surpresa.
A música eletrônica também esteve presente em Interlagos ao longo do dia. O DJ paulista Bruno Martini se apresentou no palco do gênero às 16:30, logo antes do também brasileiro Zerb. Enquanto isso, após Marina Lima, o cantor, compositor e produtor grego, Artemas, trouxe sua sonoridade alternativa durante o fim da tarde, com destaque para o hit do tik tok ‘I like the way you kiss me’ de 2024.
O início da noite foi com Benson Boone, artista estadunidense conhecido pelas suas performances acrobáticas e pelo hit viral no Tik Tok, “Beautiful Things”. Com um figurino todo brilhante e inspirado na bandeira do Brasil, começou com seu último single “Sorry I’m Here For Someone Else”, lançado em 27 de fevereiro. A performance seguiu com algumas faixas dos EPs “Pulse” de 2023 e “Walk Me Home…” de 2022, como “Death Wish Love” e “What Was”, mas foi o seu álbum de estreia, “Fireworks & Rollerblades”, que dominou a apresentação.

Com seus vocais característicos e pouco uso de playback animou a plateia no palco secundário, e durante a faixa “In The Stars”, em homenagem a sua avó, se emocionou ao explicar a origem da composição e pedir que o público cantasse sem os seus celulares. “Essa música não é minha, é nossa”.
Boone ainda interagiu bastante com a plateia entoando um “Ayoo” ao estilo Freddie Mercury antes de finalizar seu primeiro show no Brasil, e tocou a inédita “Young American Heart”. Para fechar com chave de ouro, a faixa mais ouvida do mundo em 2024 nas plataformas digitais segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica ecoou por Interlagos, “Beautiful Things”. O jovem finalizou tirando o seu colete verde e amarelo e se jogando na plateia.
Sem nem mesmo o clima esfriar, muitas pessoas já corriam para o palco Budweiser, principal do evento, para a apresentação de Tate McRae, também estreante e com hits virais entre os jovens nas redes sociais. O posicionamento dos dois palcos exigia que o público percorresse um longo percurso e sem muita sinalização, que exigia seguir um fluxo intenso de pessoas e bem mais que cinco minutos de caminhada, tempo de intervalo entre os shows.
A canadense começou seus 60 minutos de palco com o hit “Sports Car”, em seguida foi a vez de “2 Hands”, além de uma pausa para interagir com o público. “Meu nome é Tate McRae e eu estive esperando a minha vida toda para vir ao Brasil [...] este é o último show da minha turnê pela América do Sul, vocês prometem fazer deste o mais alto?” A resposta foi um grito bem alto da plateia, que mesmo com pessoas já à espera de Shawn Mendes cantou os sucessos da cantora pop de apenas 21 anos.
O show seguiu com faixas do seu último álbum, “So Close To What”, lançado em fevereiro deste ano e número um na parada norte-americana Billboard Hot 100, além do uso do disco de 2023, “Think Later”, demonstrando o seu vasto repertório de sucessos. Na hora de “you broke me first”, canção com que Tate atingiu o mainstream em 2020, a cantora se emocionou ao lembrar que o seu primeiro fã clube foi brasileiro.
Um ponto marcante de suas performances são as coreografias, muito bem trabalhadas e energéticas, com destaque para o combo “It’s ok I’m ok” e “exes”, lembrando que antes de se lançar como cantora, a jovem era dançarina. Durante “Revolving Door”, seu último single e sucesso nas redes, mais uma vez a dança foi o ponto alto e a potência vocal da artista ficou em segundo plano, com o pré e pós refrão da faixa cantados um tom abaixo da gravação e com playback alto.

A finalização ficou com o maior hit da cantora, “greedy”, que conta com mais de 1,5 bilhão de streams na plataforma de música Spotify. Enquanto Tate dançava a plateia lotada ecoava o refrão a plenos pulmões, e após o fim da canção, ela agradeceu o público com acenos e beijos e seus dançarinos ergueram uma bandeira do Brasil no meio do palco.
No mesmo horário do show de Tate, a banda sul coreana Wave to Earth fez uma apresentação incrível para um pequeno público, carisma e talento não faltaram no palco, músicas como “love”, “Bad” e “reasons” foram cantadas e agitaram o público do K-indie.
Do outro lado do autódromo, a dupla musical Kasablanca fez uma performance intensa para os fãs de música eletrônica, apesar do público também ser pequeno, a energia cativou o público principalmente com remixes das músicas de Tame Impala e Daft Punk presentes no setlist.
A primeira headliner do segundo dia do Lollapalooza foi Alanis Morissette, que entregou vocais poderosos e a presença de palco que só uma carreira de décadas pode proporcionar. Nascida em Ottawa, Canadá, é um dos maiores nomes do rock segundo a Billboard e desde os anos 90 emplaca sucessos como “All I Really Want” e “Right Through You”, presentes na setlist de sua apresentação.
Com direito a uma hora e meia de show, Alanis iniciou com o sucesso de 1995, “Hand In My Pocket”, composto em pouco mais de uma hora por ela e que de cara levantou a plateia. Características da cantora sempre foram a sua voz, que continua idêntica mesmo depois de 30 anos, uma naturalidade e energia no canto que encheram o palco mesmo sem um corpo de baile, além do uso da guitarra e gaita por ela durante as faixas.
Sim, eu admito!!!!! “Ironic” mexe com meu coração lembrando de Bruno e Fatinha ❤️😭❤️😭#GloboplayPremium #AlanisMorissetteNoMultishow #LollaBrNoMultishow pic.twitter.com/AbqAVUiHg5
— globoplay (@globoplay) March 30, 2025
O show seguiu com hits do álbum “Jagged Little Pill”, responsável por colocar Alanis no mainstream nos anos 90. A última vez que esteve no Brasil foi em novembro de 2023 com a turnê de comemoração de 25 anos do álbum inclusive, que deu a ela 5 Grammys. A plateia formada por adultos e jovens cantou incessantemente do início ao fim, com destaque para a faixa “Ironic”.
Nos telões passaram mensagens em defesa de causas abordadas pela artista em sua carreira como feminismo, apoio à comunidade LGBTQIAPN+ e igualdade social. Mas continuando a atmosfera nostálgica proposta pelos seus shows, trechos de videoclipes da cantora e fotos pessoais também foram exibidos, destacando a atemporalidade de Alanis, que tem 10 álbuns de estúdio e mais de 85 milhões de discos vendidos pelo mundo.
Em contraposição aos artistas mais jovens que performaram anteriormente, a banda recriou com perfeição os instrumentais vibrantes e crus do rock dos anos 90, e a postura de Alanis continua confiante e livre de acrobacias ou coreografias de redes sociais. Se destacaram sucessos do álbum “Supposed Former Infatuation Junkie”, de 1998 também, como “Are You Still Mad” e “Sympathetic Character”.
Mesmo assim algumas faixas mais recentes estiveram presentes, como “Lens” de 2012 e “Reasons I Drink” de 2020, essa do último álbum da artista, “Such Pretty Forks in the Road”. A finalização se deu com “Thank U”, sucesso de 1998. Como o nome sugere, a apresentação foi acompanhada de mensagens de agradecimento de fãs da cantora ao redor do mundo ao longo dos anos, e visivelmente emocionada, agradeceu ao público brasileiro.
E para fechar o sábado, Shawn Mendes subiu ao palco principal às 21:45, apenas 5 minutos depois do fim do show de Alanis Morissette. Apesar da já citada distância dos palcos, o tumulto do intervalo foi bem menor que o visto entre os shows de Benson Boone e Tate McRae. Além disso, apesar do público estimado em 80 mil pessoas, a apresentação do canadense pôde ser assistida com tranquilidade na plateia, sem intercorrências ou empurra empurra.
Diferente dos artistas que o antecederam, um terceiro telão completava o palco melhorando a visão do público, mas o tempo de show foi também de uma hora e meia. Após um atraso de pouco mais de 10 minutos, a setlist começou com “There's Nothing holding Me Back”, sucesso do álbum “Illuminate” de 2017, com mais de 2 bilhões de reproduções apenas na plataforma Spotify.
Seguiram as faixas “Wonder”, “Treat You Better”, “Monster” e “Lost In Japan”, a mesma ordem da última apresentação do cantor no Brasil, em setembro do ano passado no Rock In Rio. Nesse sentido, pôde-se perceber uma semelhança grande ao longo de todo o show, sem nenhuma faixa inédita do último álbum autointitulado de novembro de 2024.
Além de cantar mais hits como “Señorita”, “Mercy” e “Stitches”, entoados pelo público com força do início ao fim, foi a interação com a plateia e o abraço de Shawn pela cultura brasileira que marcou a apresentação. Ainda no meio do show, ele desceu do palco e correu pelo espaço que dá acesso a plateia, pegando um chapéu e uma bandeira do Brasil dos fãs.
UM AMOR! Shawn Mendes desceu para a plateia durante seu no Lollapalooza Brasil. #LollaBR
— Shawn Mendes Brasil (@ShawnMendesBRA) March 30, 2025
pic.twitter.com/SNrhbyvzLF
Mais tarde, durante a performance de “Youth”, que fala sobre a necessidade de se manter jovem e lutar, músicos brasileiros subiram ao palco. Joabe Reis, Sylvanni Sivuca, Ricardo Braga e Mama Soares foram os convidados a levar o Brasil para o palco, dando um toque de samba à canção em inglês. Mas Shawn foi além, e em seguida a canção de 1962 de Jorge Ben Jor, “Mas que Nada” foi performada por ele. Com violão na mão, ainda soltou a conhecida frase da atriz Fernanda Torres, “a vida presta”.
Incrementando o setlist do Rock In Rio, cantou “If I Can’t Have You” de 2019, levantando o astral da apresentação. Mas o final não mudou de lá para cá e ficou de novo com “In My Blood”. Os vocais de Shawn se destacaram mais uma vez, com as notas agudas do refrão mantidas e executadas com emoção. E encerrando o sábado de um jeito carismático, voltou para a plateia antes de se despedir com um “eu te amo” e “obrigado”.

O Lollapalooza Brasil 2025 continua e contará em seu último dia com nomes do rock como a banda brasileira Sepultura e a norte-americana Tool, headliner ao lado de Justin Timberlake, principal atração do domingo (30), prometendo mais música boa e emoção.