“Se fosse o Mamonas, ele ia dizer que foi um expoente do Brasil”: a repercussão da crítica de Rick Bonadio ao funk

Produtor lamentou a falta de exportação de “música boa” brasileira no Grammy, em face da homenagem de Cardi B ao funk carioca
por
Hiero de la Vega de Lima
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06/04/2021 - 12h

Durante a cerimônia do renomado prêmio musical estadunidense Grammy Awards (14/03), este ano realizada remotamente devido à pandemia de covid-19, o produtor musical Rick Bonadio comentou a participação do Brasil na premiação: entre as performances realizadas durante o show, a rapper Cardi B apresentou uma versão de “WAP”, hit da cantora com Megan Thee Stallion, que incluía um trecho de um remix feito pelo DJ Pedro Sampaio.

O remix, de uma música já originalmente erótica, apresentava um trecho de funk de tom sexual, o que provocou a raiva de Bonadio. Em sua página no Twitter, ele afirmou: “precisamos exportar música boa, e não esse ‘fica de quatro’”, disse, em referência à principal frase presente na faixa. O comentário foi repudiado por artistas de funk, incluindo a cantora Anitta, que tuitou para o produtor: “escolhe um ritmo brasileiro à sua altura, faz uma música e exporta para o mundo”.

Para o cantor e multi-instrumentalista Melvin Santhana, ex-Os Opalas, o tuíte do produtor espelha uma tentativa de retornar à relevância. “Ele levantou da tumba, né? Porque nunca mais conseguiu lançar nada de pontual, mas aí conseguiu esquentar o nome dele”, diz. Santhana acredita que a resposta de Anitta acabou por “dar palco” para o discurso do produtor, que classifica como “elitista, classista e racista”.

Homem negro, barbado, de camiseta branca, batuca em tambor
Melvin Santhana (foto: reprodução/Instagram @melvinsanthana)

O músico aponta que, apesar de Bonadio ter produzido bandas como os Mamonas Assassinas, famosos por “esculachos xenofóbicos, até homofóbicos”, ele critica o tom erótico do funk. “Se fosse o Mamonas [no Grammy], ele ia dizer que foi um expoente do Brasil”, acrescenta. Apesar do comentário, Santhana acredita que o funk tem chance de alcançar popularidade no estrangeiro: as músicas do próprio têm influência do funk e rap, entre outros ritmos afro-americanos, como o samba.

Ainda que aprecie a atenção que Cardi B trouxe ao funk no estrangeiro, questiona: “que tipo de música é permitido se produzir no Brasil? Só existe sertanejo, funk e brega?”. Ele afirma que, mesmo com a ajuda da Internet, é difícil ficar famoso, mesmo nacionalmente, ao se desviar destes três ritmos. “A gente sabe que não é uma internet democrática, é um racismo comercial”.

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