Roda de conversa afirma que nova era geológica chegou

Ativistas, cientistas e jornalistas se encontram na comemoração de 13 anos da Agência Pública
por
Artur Maciel Rodrigues
Giovanna Takamatsu
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25/03/2024 - 12h

Antropoceno e os colapsos ambientais foram os temas centrais da última palestra do dia 13 de março, em comemoração aos 13 anos da Agência Pública. Com participação do ativista e escritor, Ailton Krenak, do professor e Climatologista, Carlos Nobre, e da repórter ambiental e internacional, Daniela Chiaretti, a roda de conversa ocorreu no teatro Tucarena, em São Paulo, onde a discussão sobre a crise climática e o que nos espera no futuro tomou conta da arena.    

A pergunta “estaríamos vivendo uma era antropocena” (ou a “era dos humanos”) iniciou a discussão. Isso porque em uma reunião recente da Comissão Internacional de Estratigrafia (ICM), foi definido que não. Por essa decisão, é possível perceber que a ICM ignora a marca que os seres humanos fizeram na geologia da terra pelos próximos anos. O professor Carlos Nobre explica: “[A] união internacional de Geologia quer ver se essas épocas geológicas não têm nenhuma que acontece na escala de séculos só em milhares de anos”, diz Nobre.

O professor explica que, diferente da Comissão, ele concorda com a nova nomeação da era: “Se a gente continuar com as emissões, nós vamos chegar em 2100 com 4 graus de aumento. Em 100 anos, nós vamos ter o mesmo aquecimento que levou 12.000 anos para sair da época Glacial e chegar na Interglacial”. No fim de sua fala, o climatologista exemplifica o impacto disso, explicando que, quando a temperatura subir, resultará em uma grande extinção: “Nós estamos tão próximos dessa extinção que fica difícil imaginar porque que não pode se chamar antropoceno”.

Após o professor falar, foi a vez de Ailton Krenak. O ativista inicia exemplificando o pensamento binário da ciência, e apresenta a ideia de uma fita métrica que guia os cientistas: "A metade do planeta já morreu, mas a ciência pode dizer ‘não, ainda não morreu, porque naquele ponto ali [na fita métrica]. Ele menciona que as ações do homem influenciaram tanto o planeta que a era antropocena foi antecipada: “Nunca na história do planeta nenhum organismo espertalhão, como os humanos, acelerou tanto as mudanças no mundo”.

O eruditismo dos povos tradicionais, em respostas a tendências específicas da ciência, toma cada vez mais rumo nas conversas. Krenak argumenta que a perspectiva científica da coisa está atrasada. Ele questiona “E se o nome da coisa não fosse “era geológica”? Se fosse por exemplo uma “era de sensibilidade cósmica”, essa coisa que você não acha que vive só dentro de uma esfera”. Ele conclui: “Para mim, as cosmovisões têm muito mais alcance que uma apreciação geológica”. 

A jornalista Daniela Chiaretti diz que a grande mídia tem papel importante na exploração e distribuição dessa informação sobre as crises ambientais.  Afirma também que no início das conversas sobre o aquecimento global, havia dificuldade para explicar alguns conceitos: “As convenções que iam ser feitas de clima de biodiversidade. Eu me lembro dos editores falando ‘o que é biodiversidade?’ Daí eu falava ‘é diversidade biológica", ressalta Chiaretti.

Parte da ciência moderna é compreender os pensamentos de comunidades tradicionais. A jornalista do Valor conta sobre sua experiência: “Eu adorei depois tentar traduzir um pouco o pensamento dos povos tradicionais indígenas Isso é Um Desafio". 

Por fim, Ailton Krenak falou sobre sua experiência com o mundo contemporâneo e com as hipocrisias de estar falando desse tema em uma “estrutura ferro, cimento, fazendo os abrigos subterrâneos como se a gente já tivesse no apocalipse nuclear adiantado”. Descalço, o ativista e escritor perguntou qual a verdadeira utilidade e conhecimento acadêmico nessa luta a favor da vida na terra e da vida: “Deveriam fechar, por exemplo, uma faculdade de arquitetura que só reproduz essas coisas de ferro, cimento e vidro. Tá passando um atestado de que ela é incompetente e burra. Porque ela está construindo cemitérios futuristas para todos nós”, afirma Krenak.