Resistência no Brasil sempre foi pauta de quem luta para existir. Para existir além das estatísticas, além dos números de vítimas do feminicídio, do ódio, do racismo, da homofobia, da intolerância. Para existir em vida, e não em lembrança.
Resistiram aqueles que sobreviveram à Covid-19. Mas não respiram mais aqueles que dependiam do oxigênio até seu último suspiro. Antes fosse todo esse luto da extrema direita, luto por essas vidas.
Resistiram aqueles que levantaram bandeiras coloridas, que brilhavam na Avenida Paulista. Infelizmente, muitos desses agora só brilham como estrelas de gente que se foi - e que não estará aqui para ver que o arco íris aparece depois da chuva.
Resistiram os de pele preta, de cabelo armado. Ora que ironia, quantos negros foram vistos armados sem arma na periferia? Foram acertados como alvos perfeitos por balas supostamente perdidas?
Resistiram os estudantes, aqueles que comiam merenda de menos de um real por dia. Aqueles que não sabiam mais se a educação ainda podia ser a saída. Eis aqui os que tinham medo de faculdades serem invadidas.
Resistiram também aqueles que desde que Brasil significa “vermelho como uma brasa” assistem as florestas queimarem. Infelizmente, nem todos estarão aqui para um dia ver a mata poder respirar.
Enfim, resistiu o jornalismo. E mostrou que sempre existiu para esse fim. Que a caneta ainda é a arma mais poderosa e que a voz de um povo em meio a tanto silêncio pode incomodar.
Re – existir. Prefixo, aquilo que antecede.
Exist - ência – sufixo, aquilo que sucede.
E aqui estão sucessões daqueles que nos antecederam, que lutaram antes, que re (exisitiram) antes disso – que ficaram para a história depois de tudo isso.
Só quem viu as ruas com corpos nas valas e a fila do osso cheia, sabe o que significa, ao mínimo, ainda existir nesse país. Só quem perdeu alguém para a Covid-19 sabe o prazer de respirar. Só quem espera 30 de outubro há 4 anos, sabe a importância de ir para a rua e gritar: Fora Bolsonaro! Só quem conhece bem o vermelho de sangue, sabe como ver os espaços públicos vermelhos – agora de esperança, gratificante.
Foram 4 anos que reavivaram o que existe de pior na história do Brasil há mais de 500. E serão mais 4 em que, apesar da derrota nas urnas, o bolsonarismo ainda assombrará a democracia como uma alma penada – um espírito de alguém falecido, mas que não se conforma com tal condição. Uma figura que tem o poder de assustar e estar em todos os lugares.
E é por isso que se anseia que os tambores ainda toquem, que os chocalhos ainda evoquem, que os livros ainda contem e que o povo ainda provoque.
Que continuemos sendo resistência. Que o Brasil re (exista) nessa nova vigência.