Nas redes sociais, o que prevalece em relação aos negros são os ataques racistas, que ocupam o primeiro lugar no ranking de crimes virtuais. Ao mesmo tempo, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 56,10% da população brasileira se declara negra. Cada vez mais, surgem páginas de empoderamento negro, que ressaltam a importância da representatividade desde a infância e como pessoas ainda associam negritude a levar chicoteada.
Como mulher e militante negra, Marcella Peixoto, que acumula mais de 2 mil seguidores nas redes sociais, afirma que sofreu ataques de cunho racista e machista. "Alguns comentários são frequentes, como ‘exótica’ ou ‘mulata fogosa’. Em um vídeo que eu postei falando sobre racismo, uma pessoa comentou: ‘você nem é tão preta, mas tanto faz! Vocês ficam se vitimizando em tudo, por acaso você já levou um tiro ou foi chicoteada? ’".

Peixoto salienta que em sua infância não tinha acesso a temas da negritude ou representatividade e empoderamento. "Passei a minha vida inteira tentando me encaixar em um padrão branco, me sentindo feia e inferior às meninas brancas que eu convivia. Eu nem sabia o que era representatividade. Hoje me reportando ao meu passado, sei que não me sentia representada e que me encaixava no padrão que me era imposto. Alisava meu cabelo desde muito nova e detestava meu cabelo natural".
Na capital de Minas Gerais, o publicitário e influenciador digital, Gleidistone Silva, mais conhecido como TomTom, se propõe a debater não somente questões raciais como também moda e lifestyle. Com mais de 13 mil seguidores no Instagram, o mineiro conta em entrevista por WhatsApp à reportagem que já sofreu ataques em redes sociais por conta da sua cor. “É sempre muito ruim pois é algo que afeta diretamente nossa autoestima.”
TomTom confessa que o problema não está na falta de pessoas negras nas redes, porém na visibilidade que recebem. “Acho muito importante a gente ocupar as redes sociais, e não apenas para falar apenas de racismo. Temos potencialidades para abordar qualquer assunto: gastronomia, moda, cultura, ciência, engenharias. ”
O publicitário acredita que representatividade é fundamental, pois faz com que pessoas negras se inspirem e acreditem no próprio potencial de ocupar lugares historicamente preenchidos por pessoas brancas. Quando criança, Gleidistone diz que suas inspirações eram mulheres brancas, uma vez que não se recorda de referências negras com destaque. “Até nas novelas infantis havia pouquíssimas crianças negras e, quando tinham, eram representadas de forma negativa como o personagem Cirilo da novela Carrossel (SBT), por exemplo. ”
O influencer aborda questionamentos que poderiam antecipar mudanças, tanto no cenário virtual, quanto real. “Será que os colaboradores estão dispostos a cobrar dos gestores de RH mais pessoas pretas? Será que alguém está disposto a deixar de palestrar num evento onde todos os palestrantes são brancos e ceder seu lugar para uma pessoa preta?”

Evandro Oliveira, escritor e ativista negro, utiliza suas mídias para tratar de temas como o racismo e relata que já foi discriminado por sua cor de pele em uma abordagem policial, além de ter recebido xingamentos como “macaco” após ter recusado uma chamada de vídeo erótica. “Minha maior missão é a conscientização do branco para tentar exercer a empatia em relação ao Povo Preto e a conscientização do negro para que ele saiba quem é, de onde veio, e até onde pode chegar”.

Oliveira ressalta a importância de crianças se sentirem representadas na mídia e como uma fala racista atinge o psicológico do jovem. “A representatividade molda o caráter. É bom você enxergar um espelho, um alguém que você almeja ser igual e que é seu semelhante esteticamente. Uma criança que sofre racismo acaba tomando para si o peso de algo que ele não consegue mudar. Racismo traz a sensação de menosprezo pelo simples fato de você ser você”.
Segundo estudo realizado pelo Instituto Qualibest e Empresa Spark, referência de marketing e influência, dentre os 10 maiores influencers do Brasil, nenhum é negro. Assim, o escritor enfatiza a posição dos negros na sociedade e na web. “Ainda estamos nos subempregos. Por que os blogueiros negros não são tão seguidos como os brancos? Infelizmente ser negro ainda é ter que ser pelo menos duas vezes melhor para tentar estar no mesmo patamar do branco.”