"Racismo cordial" se encontra no esporte

Conceito defendido por Hélio Santos confirma que no futebol, assim como na sociedade, pessoas não se percebem preconceituosas
por
Giulia Dadamo
Mohara Ogando Cherubin
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20/10/2023 - 12h

Pesquisa feita pelo Instituto Peregum e a Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista (Seta) em agosto deste ano aponta  'dificuldade de entender como o racismo se manifesta no cotidiano'. Os dados indicam que 81% da população considera o Brasil racista, mas só 11% admite responsabilidade “Aqui, temos o ‘racismo cordial’, todo mundo entende que há racismo na sociedade, mas eu não sou racista, racistas são os outros”, afirmou o escritor Hélio Santos.

Relembre alguns casos de racismo com jogadores brasileiros:

Apenas cinco anos após deixar seu país para jogar no Real Madrid, Vinicius Junior se encontrou, mais uma vez, em meio a gestos racistas e imitações de sons de macaco, em maio deste ano. E após ter vivido mais de dez casos desde o seu início de carreira no Flamengo, este foi o primeiro a gerar a punição de um clube.

"Eu sou forte e vou até o fim contra os racistas", reagiu Vini Jr. após o caso em suas redes sociais. Como resposta, o presidente da LaLiga (Javier Tebas) disse que não iria permitir que o jogador a "manchasse". Dois dias depois, três torcedores foram detidos, acusados de serem os responsáveis pelos insultos a Vini, porém foram rapidamente liberados. Pela primeira vez na história, a Federação Espanhola fechou um setor do estádio Mestalla e multou o Valencia por causa de um jogador, além de anular a expulsão de Vini Jr. no jogo ao indicar mau uso do VAR.

Em entrevista para a Agemt, Camila Esteves, 18, estudante de enfermagem e membro ativo da comunidade negra, diz que a situação de Vini Jr. foi repugnante, não apenas o caso de racismo, mas também a falta de intervenção por parte da La Liga e a expulsão do jogador no fim do jogo. "As atitudes tomadas durante o jogo conseguiram tornar a situação ainda mais cruel", afirma. 

Camila já passou por situações similares à do jogador. Aos 12 anos ouviu a frase "Macaco está permitido ganhar qualquer luta" após vencer um campeonato de judô. O comentário racista fez com que Camila se tornasse insegura em relação ao esporte, tendo medo de ganhar outra partida e receber comentários maldosos novamente. "O racismo abala a nossa relação com nós mesmos, nos torna inseguros, com medo de seguir em frente".

Pela desigualdade de audiência dos jogos femininos (comparados aos masculinos), casos como este ficam ainda mais silenciados e crueis, visto que as atletas têm menos espaço de fala em sociedade e receio de ter sua carreira afetada pela denúncia. Em novembro do ano passado, por exemplo, a ex-jogadora do Gremio, Luany, foi a vítima da vez. "Estou precisando de um desse para fazer espanador em casa", foi a frase dita por um torcedor em referência ao cabelo da atacante. 

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Luany, ex-atacante do Grêmio - Autor: Fernando Alves 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Medidas contra o racismo no esporte: 

A situação, porém, tende a mudar. De acordo com a Agência Senado, no dia 13 deste mês ocorreu um debate entre senadores em audiência pública para punições mais rígidas contra o racismo no futebol e para a implementacao de programas de educação desde as categorias de base e políticas afirmativas envolvendo clubes, federações, patrocinadores e poderes públicos.

O debate, que foi marcado devido ao crescimento de denúncias de discriminação dentro e fora do campo nos últimos anos, contou com a participação da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e do presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD), José Perdiz de Jesus, além de representantes do Ministério do Esporte e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). 

Segundo relatório do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, a quantidade de denúncias de racimo no futebol monitoradas em 2023 já são mais que o dobro do que os casos registrados no ano passado.