“A questão agrária é tudo no que nós podemos nos envolver”.

O acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Perus comemora 20 anos em Julho e ainda não foi considerado um assentamento.
por
Artur dos Santos
Ivan Valente
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16/06/2022 - 12h

No último sábado, 11, estudantes da Unifesp organizaram uma visita ao acampamento Comuna da Terra Irmã Alberta em Perus, SP, associada à Jornada Universitária em defesa da Reforma Agrária (JURA). 

 

O JURA é um evento nacional e anual que ocorre em várias universidades do país - no qual cada instituição de ensino se organiza para, através de feiras, debates ou viagens a campo, relembrar a importância da Reforma Agrária no Brasil. Dessa vez a jornada foi organizada pelos estudantes do quinto período de história da UNIFESP, Diogo Romão e Gabriela Bonfim em associação ao professor Clifford, da mesma instituição. 

 

Romão explicou que o JURA já havia acontecido três vezes na universidade e que, com a pandemia de COVID-19, fora interrompido. Também explicou que o Acampamento Comuna da Terra foi escolhido pela praticidade no deslocamento dos alunos residentes de São Paulo (que utilizaram o transporte público para chegar até lá).

 

A partir de 2002, a área que fica na Vila dos Perus em São Paulo começou a ser ocupada por membros do MST. O território de 119 hectares foi cedido pela SABESP, que tinha a posse do terreno para despejo de detritos e dejetos retirados dos rios Tietê e Pinheiros. Este ano, a ocupação completa 20 anos e ainda não foi identificado como assentamento, mas já abriga cerca de 70 famílias que possuem termo de uso.

 

Construção que marca a data de ocupação do MST a área hoje chamada acampamento Comuna da Terra Irmã Alberta
Monumento que marca a data da ocupação do terreno, hoje Acampamento Comuna da Terra Irmã Alberta

 

A líder do acampamento é Maria Alves, 63 anos, militante do MST e uma das primeiras a se alocar no acampamento Comuna da Terra Irmã Alberta. Recebeu e introduziu os estudantes ao terreno com muita simpatia e amor à terra que conquistou com luta. “A questão agrária é tudo no que nós podemos nos envolver: educação, saúde, alimentação, trabalho e soberania alimentar. Se a gente cruzar os braços e não realizar atividades como essas, não travaremos a luta. Esse acampamento por exemplo é de predominância de mulheres trabalhadoras, que lutam e militam para conquistar um local para viver com suas famílias" disse a matriarca Alves.  

 

Maria Alves, liderança do acampamento olhando a horta da Jô
Maria Alves, liderança do acampamento, na horta de Jô.

 

Alves também expôs as dificuldades impostas a ela e seus companheiros para vender sua produção, já que o latifundiário exportador domina e pressiona contra os pequenos produtores de alimentos. Ela lembrou do caso de um ano atrás em que um morador do acampamento que plantava alface e estava obtendo sucesso nas vendas foi atacado por 3 homens encapuzados, que provavelmente faziam parte da milícia, que atearam fogo em seu barraco e carro, além de terem-no espancado quase até a morte.