“Queremos memória, verdade e justiça”, diz pró-reitora da PUC-SP

Monica Melo e Leonardo Sakamoto abriram o Tribunal do Genocídio, um júri simulado sobre a condução da pandemia no Brasil, realizado na manhã desta quinta-feira (25) no TUCA.
por
Letícia Coimbra
Luan Leão
|
25/11/2021 - 12h

 

Aconteceu na manhã desta quinta-feira (25) o Tribunal do Genocídio, organizado pelo coletivo Professor André Naveiro Russo, no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o TUCA. A Profª Vânia Penafieri foi a mestre de cerimônia e conduziu o começo dos trabalhos. De início, chamou para a abertura do evento, o jornalista e professor da PUC-SP, Leonardo Sakamoto, e a Pró-Reitora de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-SP, Mônica Melo.

Sakamoto foi o primeiro a discursar, questionando: “Como um país que conta com um dos melhores sistemas, um dos melhores programas de imunização do mundo e um sistema público de saúde conseguiu chegar a marca de 613 mil mortes por COVID-19?”. Em seguida, chamou a conduta do governo de “morticínio” e comparou com uma bomba atômica que tivesse atingido a cidade de Joinville, Cuiabá ou Feira de Santana, matando todos os habitantes.

Leonardo Sakamoto
Foto: Reprodução/TVPUC

O jornalista e professor destacou também a alta da fome e a inflação. “No final, a sabotagem presidencial acabou piorando a crise econômica. Chegamos a um recorde de 14,8 milhões de desempregados, e estimativas desatualizadas de dezembro do ano passado apontavam para 19,1 milhões de famintos”, afirmou ele.

Sakamoto ressaltou ainda a insistência do presidente da República em defender remédios comprovadamente ineficazes, citando o caso da Prevent Senior, que realizou testes com hidroxicloroquina e azitromicina em pacientes sem o consentimento dos pacientes e familiares, além de omitir os efeitos colaterais e seis mortes. Segundo o dossiê entregue à CPI da Pandemia, o estudo foi um desdobramento de um acordo entre a Prevent Senior  e Bolsonaro para disseminar a cloroquina. No dia 18 de abril de 2020, o presidente publicou em seu perfil no Facebook: “Segundo o CEO Fernando Parrillo, a Prevent Senior reduziu de 14 para 7 dias o tempo de uso de respiradores e divulgou hoje, às 1:40 da manhã, o complemento de um levantamento clínico feito”, além de divulgar a notícia falsa de que não houveram óbitos.

Encerrando sua fala, o professor Sakamoto citou a morte de André Russo, jornalista e professor da PUC-SP, vítima da COVID-19 em junho, a uma semana de tomar a primeira dose da vacina contra a doença, e que dá nome ao coletivo de professores e estudantes da PUC-SP que organizou o julgamento. “Não perdemos André Russo para a pandemia, perdemos ele para a necropolítica”, disse o jornalista.

"Alcançar a marca de 613 mil mortos não é para qualquer um. Esse é um projeto à várias mãos, coordenado por alguém que, como já disse, não tem apreço à vida. A importância de um julgamento como este está em garantir que as mortes e seus culpados não sejam esquecidos e que o Brasil aprenda com seus erros.”

Em seguida à fala de Sakamoto, Mônica Melo, Pró-Reitora de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-SP, salientou a importância deste julgamento simbólico. "Tribunal simbólico, mas não duvidemos da força dos símbolos e de sua possibilidade de sintetizar, no momento histórico, desejos de mudança e transformação, afinal cabe ao povo brasileiro decidir”, afirmou.

A Pró-reitora destacou ainda a importância de não nos deixarmos ser anestesiados pela “magnitude dos números de mortos, de familiares e amigos enlutados, de sobreviventes com sequelas”, e enfatizou, “por trás dos números há pessoas, há projetos de vida, interrompidos à órfãos”.

Por fim, citou o ideograma africano “Sankofa”, representado por um pássaro mítico que voa para a frente com a cabeça voltada para trás, segurando no bico um ovo, o futuro. “Precisamos manter viva nossa indignação, nossa capacidade reativa, coletiva de mirar o passado, para poder ressignificar o presente e construir o futuro”, disse Mônica. “Não iremos esquecer. Não compactuaremos com mentiras. Queremos memória, verdade e justiça”, reforçou.

A pró-reitora encerrou seu discurso convidando os presentes a prestar uma homenagem às pessoas que faleceram em decorrência da covid-19, com um minuto de silêncio.

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