Na noite desta quarta-feira (23), um jato particular com dez tripulantes caiu nas proximidades da vila de Kuzhenkino, região de Tver, a aproximadamente 310 quilômetros de Moscou. A Agência Nacional para o Transporte Aéreo russo confirmou que Yevgney Prigozhin, de 62 anos, conhecido por chefiar o grupo mercenário Wagner, estava na lista de passageiros e a bordo da aeronave. O número 2 do grupo paramilitar, Dmitri Utkin, também estava a bordo segundo as autoridades. Ao todo, outras oito pessoas morreram.
Por meio de comunicado, o órgão informou que criou uma comissão especial para investigar o acidente. "Uma investigação foi lançada sobre a queda de um avião Embraer que ocorreu esta noite na região de Tver. Conforme a lista de passageiros, o nome de Yevgeny Prigozhin está entre eles”, disse a agência.
O monitor de voos online Flight Radar 24 registrou que o Embraer Legacy 600 (aeronave identificada como RA-02795) deixou de ser detectado em seus registros às 18h11, horário local da Rússia. Ainda de acordo com o Ministério de Situações de Emergência, o voo ligava Moscou a São Petersburgo.
Ascensão e queda de Prigozhin
Até conhecer Vladimie Putin, Prigozhin era um cidadão comum. Ambos começaram a se relacionar na década de 1990, quando Prigozhin inaugurou um restaurante em Moscou, que naquele tempo tinha como vice-prefeito o atual presidente russo.
Algum tempo depois, o líder do grupo Wagner desenvolveu uma rede de buffets, por meio da qual estabeleceu contratos com o governo russo. Graças a essa conexão, a mídia ocidental começou a chamá-lo de "chefe de Putin".
Em 2016, Prigozhin supostamente orquestrou uma grande campanha online para influenciar as eleições dos EUA. A campanha foi executada pela empresa Internet Research Agency, que tem sua sede localizada em São Petersburgo. Conquistando o coração da ala conservadora da política russa, pesquisas sugeriram que ele já foi a quinta figura mais popular dentro do aparato estatal russo depois de Putin.
Entre 23 e 24 de junho de 2023, Prigozhin liderou uma revolta fracassada contra o Estado Maior russo, incitando a "marcha da justiça sobre Moscou". O motim protestava contra supostos casos de corrupção no ministério da Defesa russo.
A revolta foi encerrada por negociações entre o Grupo Wagner e o Kremlin, sendo decidido que seu líder e os revoltosos seriam exilados para Belarus. Em um discurso televisionado, o presidente Putin chamou o levante de traição, e acusou seu líder de tentar incitar uma guerra civil.
Contrariando o esperado, o líder da organização paramilitar foi visto andando livremente na Rússia depois do acordo, inclusive estando presente na cúpula Rússia-África, ocorrida em São Petersburgo no final de julho deste ano.
O Grupo Wagner
O grupo foi batizado de Wagner em homenagem a Dmitry Utkin, um tenente-coronel aposentado das forças especiais russas, sendo o primeiro comandante da organização. Por ser considerado uma empresa militar privada, a organização chama menos a atenção e desfruta de mais liberdade de atuação ao ser comparada com tropas regulares do exército russo. Sendo assim, a empresa é uma peça fundamental para a defesa dos interesses estratégicos de Putin.
O exército mercenário foi avistado publicamente pela primeira vez em 2014, no contexto da anexação russa da península ucraniana da Crimeia. Entretanto, a organização ganhou fama por sua atuação no atual conflito na Ucrânia. Se destacando na batalha de Bakhmut, na qual exerceram um importante papel. O confronto foi apelidado de "moedor de carne" pelos soldados de ambos os lados. As baixas e a intensidade do conflito lembraram a batalha de Verdun, ocorrida em 1916, na Primeira Guerra Mundial.
Até agora, a organização já atuou em países como Síria, Líbia, Mali, Burkina-Fasso, República Centro-Africana e Sudão.