Que esporte é esse?: Surfe

Entenda sobre o único esporte que vai acontecer fora da França, a história e seus favoritos
por
Juliana Salomão
Kauã Alves
Maria Clara Magalhães
Pedro Pina
|
17/07/2024 - 12h

 

O surfe, um dos esportes que mais cresce no mundo, é praticado no mar e classificado como radical. Trata-se de uma modalidade individual que, segundo alguns relatos, surgiu nas Ilhas Polinésias por volta de 1778. Porém, há quem defenda que sua origem está na América do Sul, especificamente no Peru, onde o esporte teria se desenvolvido com o uso de embarcações conhecidas como "Caballito de Totora", há aproximadamente 2000 a 3000 anos. Afinal, a popularidade do surfe só começou a crescer significativamente a partir das décadas de 1970 e 1980, com o início dos campeonatos.

Os lugares que mais se popularizaram na prática do surfe foram o Havaí e os Estados Unidos. Um dos reis desse esporte é Kelly Slater, estadunidense que soma 11 títulos mundiais. Recentemente, aos 52 anos, o maior campeão de todos os tempos anunciou sua aposentadoria do circuito mundial. E em relação às mulheres, Stephanie Gilmore, que representa a Austrália, soma 8 títulos mundiais, com 36 anos, e ainda continua no Championship Tours, ou CT.

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Kelly Slater em Snapper Rocks, Austrália, mostrando seu potencial com as manobras – Foto: Reprodução/WSL/Sloane

 

No Brasil, o surfe surgiu na década de 1930, mas ganhou grande popularidade apenas na década de 1960. O esporte era praticado nas praias do Rio de Janeiro, destacando atletas importantes da época, como Jorge Paulo, Irencyr Beltrão e Pepê Lopes. Em 1965, foi fundada a Associação de Surfe do Estado do Rio de Janeiro, e à medida que o esporte ganhava popularidade, espalhou-se por outras regiões do país.

Atualmente, a Confederação Brasileira de Surfe (CBS) é a principal organizadora de campeonatos e institui as regras do surfe no Brasil. A CBS garante a representação nacional no esporte, enquanto a World Surf League (WSL) atua como uma das maiores entidades internacionais de esportes aquáticos.

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Vencedores, Fininho e Julia Duarte, da etapa da CBSurf em São Francisco do Sul – Foto: Marcio David/Fecasurf

 

Fundada em 1975, como Associação Internacional de Surf Profissional (ASP), a instituição começou a organizar competições profissionais em 1976. Em 2015, a entidade adotou o nome World Surf League e, desde então, tem atraído os melhores surfistas do mundo, oferecendo premiações e campeonatos de alto nível. Essa evolução tem incentivado cada vez mais jovens a praticar o surfe, aumentando a visibilidade e a popularidade do esporte globalmente.

Surfe como esporte olímpico

Após uma discussão na sessão do Comitê Olímpico Internacional (COI), realizada na sede do Rio de Janeiro em 2016, foi confirmado que o surfe seria incorporado às Olimpíadas de Tóquio de 2020, junto com outros esportes, como o Skate, por exemplo.

Com a pandemia de Coronavírus, o evento teve que ser adiado para o ano seguinte por questões de segurança. Em julho de 2021, as Olimpíadas começaram, e os representantes brasileiros – Gabriel Medina, Ítalo Ferreira e Tatiana Weston-Webb – embarcaram em busca de conquistar medalhas para o país. 

Dois dos representantes foram eliminados durante a competição. Gabriel Medina foi derrotado por Kanoa Igarashi na semifinal, gerando grande comoção e reclamações sobre as notas atribuídas ao brasileiro. Tatiana Weston-Webb foi eliminada nas oitavas de final, pela japonesa Amuro Tsuzuki. No entanto, na estreia do surfe nas Olimpíadas, Ítalo Ferreira superou todos os seus adversários e conquistou a medalha de ouro para o Brasil.

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Ítalo Ferreira, com a primeira medalha de ouro na história do surfe nas olimpíadas – Foto: André Durão

 

Formato e regulamento

Com previsão de quatro dias para a conclusão do evento, a competição está marcada para a janela entre 27 de julho e 05 de agosto. O local selecionado será destinado ao uso dos atletas seis dias antes das provas, para que os surfistas treinem com exclusividade.

Cada atleta terá a chance de demonstrar suas habilidades em duas oportunidades. Os vencedores do Round 1 irão avançar para o Round 3. Enquanto os surfistas que ocuparem a 2ª e a 3ª colocação, disputarão a Rodada 2 de eliminação.

A partir do Round 2, as baterias serão disputadas apenas por dois surfistas: o vencedor avança e o segundo colocado é eliminado.

Durante as provas, serão disponibilizados 30 minutos para que cada atleta surfe suas melhores ondas. As notas variam de 0 a 10, mas apenas as duas notas mais altas serão calculadas na pontuação final.

Cinco juízes julgarão as ondas, considerando variedade e dificuldade das manobras, força, fluxo, inovação e progressão do repertório dos atletas, combinação, velocidade, potência e fluxo.

As pranchas escolhidas são as “shortboards”, pela facilidade que elas cedem as manobras, devido seu tamanho ser inferior às demais.

Próxima parada: Teahupo’o

Os melhores surfistas do mundo não desembarcarão na França para a disputa dos jogos olímpicos, a competição, na verdade, será em Teahupo’o, no Taiti. Cerca de 16.000 km de distância da capital Paris. A modalidade será a única a não ser disputada no país dos jogos, a decisão do COI se deu porque, durante o verão europeu, as condições não são favoráveis para o surfe no litoral francês. Além disso, a região faz parte do território ultramarino francês, sendo o Taiti a maior ilha da polinésia francesa, o que ajuda no objetivo do comitê organizador, de espalhar os Jogos por toda a França.

E é uma ótima notícia para os brasileiros, que tem bom retrospecto no mar da Oceania. Uma das etapas mais clássicas da Liga Mundial de Surfe (WSL), o local já foi palco de duas vitórias de Gabriel Medina em 2014 e 2018. 

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Filipe Toledo surfando nas perigosas ondas de Teahupo’o – Foto: Reprodução/WSL

 

Países mais vencedores 

A história do Surfe nas olimpíadas ainda é curta, uma vez que a modalidade caminha para a sua segunda participação nos jogos, com Brasil e Estados Unidos somando as duas únicas medalhas de ouro distribuídas até aqui. O brasileiro Ítalo Ferreira, no masculino e, a americana Carissa Moore, no feminino.

Os japoneses têm o maior número de medalhas, mas nenhuma de ouro. A prata é de Kanoa Igarashi, algoz de Gabriel Medina em Tóquio, e o bronze pertence a Amuro Tsuzuki. O quadro de medalhas da modalidade se completa com a prata da sul-africana Bianca Buitendag e o bronze do australiano Owen Wright.

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Carissa Moore recebendo medalha de ouro em Tóquio – Foto: Reprodução/FreeSurf Magazine

 

Destaques na modalidade

O Brasil é uma das maiores potências no esporte, e no surfe não é diferente. A geração "Brazilian Storm" (Tempestade Brasileira) é composta por uma nova leva de surfistas brasileiros que demonstram seu potencial no cenário mundial, gerando comoção entre os espectadores. Gabriel Medina, Filipe Toledo, Yago Dora, João Chianca, Ítalo Ferreira e Tatiana Weston-Webb são os destaques dessa geração. 

Ítalo Ferreira venceu a última etapa do circuito mundial, o VIVO Rio Pro, em Saquarema e está defendendo seu título – porém, o medalhista de ouro em Tóquio, não se classificou e não estará presente nos Jogos Olímpicos de 2024. Gabriel Medina, tricampeão mundial, após garantir sua vaga para as Olimpíadas, continua defendendo seus três títulos mundiais. Ele foi o primeiro brasileiro a conquistar um título mundial, em 2014, e é reconhecido globalmente pelo seu estilo de surfe e suas medalhas. O último campeão mundial, Filipe Toledo, fez uma pausa em sua carreira, mas também está classificado para surfar nas ondas de Teahupo’o .

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Gabriel Medina após a vitória do ISA Games e a sua garantia na Olimpíada de 2024 – Foto: Pablo Franco/ISA

 

João Chianca, conhecido como Chumbinho, ganhou destaque no último ano, chegando às finais e vencendo muitas baterias, conseguindo ser um dos primeiros a se classificar para as Olimpíadas. Tatiana Weston-Webb, uma das representantes brasileiras, também se classificou para os Jogos Olímpicos no ano passado, sendo uma das únicas do Championship Tour a conseguir tal feito. Luana Silva e Tainá Hinckel são as outras surfistas que representarão o Brasil – que vai com força máxima, com seis atletas para os Jogos, mais do que qualquer outro país – e se juntaram à delegação depois do ISA Games, que também garantiu a vaga de Medina.

Além dos brasileiros, John John Florence, havaiano, vem liderando o circuito mundial e vestindo a lycra amarela – usada para identificar o primeiro colocado do CT – em vários eventos. Este ano, Florence participou de quatro finais e acumula uma pontuação de 46.210 pontos. Outro destaque é Griffin Colapinto, o americano que eliminou Medina na última etapa e ficou em terceiro lugar. Jack Robinson, australiano, também tem ganhado destaque nos últimos eventos. 

As favoritas ao ouro na competição incluem as brasileiras e outras atletas do circuito mundial. Tatiana Weston-Webb é a principal esperança brasileira para conquistar uma medalha, enquanto Tainá Hinckel e Luana Silva também são grandes promessas neste evento. Além delas, a disputa contará com Caroline Marks, – campeã mundial de 2023 – a costarriquenha Brisa Hennessy, a francesa Johanne Defay, as australiana Tyler Wright, a norte-americana Caitlin Simmers e, a cinco vezes campeã mundial, Carissa Moore. 

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John John Florence garantiu a vitória da etapa de El Salvador com suas leituras de onda – Foto: Aaron Hughes/WSL

 

Esses atletas têm representado um desafio para os brasileiros durante as competições, mas a cada dia, com a força do Brazilian Storm, o Brasil continua se destacando nas competições internacionais.