O skate, esporte que vem se popularizando cada vez mais, surgiu na Califórnia, em 1950. De acordo com relatos mais verificáveis, os surfistas da época instalavam rodas e eixos em suas pranchas, em um período de maré baixa, para simular o surfe nas calçadas. Por isso, o “skateboard”.
Os skates começaram a ser comercializados em 1965 e eram diferentes dos atuais, já que eram pranchas com rodinhas. Na década de 80, a modalidade ganhou mais popularidade, influenciando nas gírias, nas roupas e na cultura, transformando toda a identidade dos praticantes em um estilo de vida.
No Brasil, a influência norte-americana trouxe o skate nos anos 60. A primeira pista foi inaugurada no Rio de Janeiro, mas logo a prática explodiu em outros estados. Em 1997, o skatista brasileiro Bob Burnquist foi considerado o melhor do mundo. Ainda hoje a lenda continua incentivando diversas crianças e jovens adultos.
Skate como esporte olímpico
Diante da explosão da modalidade e dos milhares de fãs conquistados nos últimos anos, o skate tornou-se um esporte olímpico apenas nos Jogos de 2020, realizados em 2021. País anfitrião, o Japão conquistou três medalhas de ouro, enquanto a Austrália buscou um. O Brasil voltou para casa com três pratas, de Rayssa Leal, Kelvin Hoefler e Pedro Barros.
Formato e regulamento
O skateboarding é disputado em duas modalidades, com quatro eventos no total: street feminino, street masculino, park feminino e park masculino. Cada competição receberá 22 atletas, totalizando cerca de 88 skatistas em Paris, com exceção daqueles que disputarão as duas verticais, como o norte-americano Jagger Eaton.
Em ambas as competições há uma rodada preliminar e uma rodada final, mas os obstáculos e os formatos divergem de acordo com a categoria. No street, a pista procura imitar um cenário urbano, sendo plano, com degraus e trilhos. Na fase introdutória, os skatistas realizam duas corridas pelo circuito, de 45 segundos cada, prevalecendo a maior nota entre elas.
Na parte final, os atletas possuem cinco tentativas para acertar manobras individuais – as “tricks”. As duas maiores notas entram para o somatório final, ao lado da pontuação conquistada durante a volta cronometrada da primeira fase. As tricks executadas pelos atletas durante a rodada inicial não podem se repetir na segunda.
No park, a pista é semelhante a uma grande piscina, com rampas e lombadas, visando alcançar uma boa altitude na execução das manobras. Durante a competição dessa modalidade, os skatistas terão duas rodadas no circuito, de 45 segundos cada, para realizarem os mais variados saltos pela arena.
Em cada um dos eventos, apenas os oito melhores classificados avançam para a final. Assim, o formato para decidir o pódio é uma repetição da competição preliminar. As notas serão atribuídas em uma escala de 0 a 100.
Os critérios utilizados para o julgamento da competição são: dificuldade e variedade das manobras, qualidade de execução, uso da pista – sendo necessário utilizar o máximo dela, fluxo, consistência e repetição - quanto mais parecidas forem as tricks, menos pontos serão cedidos.
La Concorde Urban Park
A Olimpíada de Paris, desde a fase de candidatura, escolheu que os esportes urbanos se estabelecessem em seu ambiente natural, longe dos estádios. Por isso, a ‘La Concorde Urban Park’, uma arena aberta, foi adaptada para receber as competições de skate, ao lado do basquete 3x3, do breaking e do ciclismo BMX freestyle.
As pistas estão situadas em ambientes diferentes, apesar do street e do park dividirem a mesma praça. Isso porque os obstáculos não são os mesmos, sendo necessário atender a particularidade de cada modalidade.
Na Olimpíada de 2024, a rodada preliminar e a rodada final acontecerão na mesma data. Por isso, a competição será separada por modalidade. No dia 27 de julho acontecerá o street masculino, enquanto o feminino ganhará forma no dia 28 de julho. O park feminino será realizado no dia 06 de agosto e o masculino no dia 07 do mesmo mês.
Países com mais medalhas
Apesar da história do skate ainda ser curta nas Olímpiadas, já que estreou em Tóquio 2020, cinco países carregam medalhas. O Japão lidera o ranking: no park feminino, Sakura Yosozumi conquistou o ouro e Cocona Hiraki a prata, enquanto Sky Brown, da Grã-Bretanha, finalizou o pódio com o bronze.
No park masculino, o país sede passou despercebido: o ouro ficou com a Austrália, de Keegan Palmer, a prata com o Brasil, de Pedro Barros e o bronze com os Estados Unidos, de Cory Juneau.
No street masculino Yuto Horigome, do Japão, venceu o ouro, Kelvin Hoelfer, do Brasil, a prata, e Jagger Eaton, dos Estados Unidos, o bronze. Enquanto no feminino o ouro ficou com o Japão, de Momiji Nishiya, a prata com o Brasil, de Rayssa Leal e o bronze com o Japão, de Funa Nakayama.
Brasileiros de destaque
Rayssa Mendes Leal, natural de Imperatriz, no Maranhão, começou a andar de skate com apenas seis anos. Em 2015, com apenas sete anos, um vídeo de Rayssa, ainda garotinha, fazendo manobras no Skate vestida de fada tomou a internet. O vídeo viral foi o pontapé para tornar o que era apenas uma brincadeira, o início de uma carreira profissional do principal nome do skate brasileiro na atualidade.
Rayssa estreou em competições internacionais da modalidade do skate street em 2019. Conquistando o seu primeiro pódio na Street League Skateboarding (SLS), principal campeonato da categoria, com apenas 11 anos. Em seguida, o 3º lugar na etapa de Londres, tornando-se a skatista mais jovem entre homens e mulheres a subir em um pódio da SLS.
Nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, Rayssa conquistou a medalha de prata e a simpatia de milhões de brasileiros que conheceram a história da maranhense de 13 anos, que se tornou a medalhista brasileira mais jovem da história.
No ciclo para Paris 2024, a “Fadinha” venceu dois títulos mundiais, em 2022 e 2023, acumulando 10 etapas vencidas do mundial. Além de duas medalhas de ouro no X-Games e uma no Pan-Americano de Santiago, no Chile.
Giovanni Vianna, natural de Santo André, ganhou seu primeiro skate de presente do pai com dois anos de idade, desde as fraldas, a relação do menino do ABC Paulista com o estilo de vida do skateboarding foi intensa. “Eu nunca coloquei na cabeça que eu tenho que ganhar, ganhar, ganhar, eu sempre quis andar de skate. Andar por amor e sempre fazer o seu melhor”, revelou Viana.
Mesmo muito jovem, o potencial de Giovanni sempre foi claro para a família, que aos 16 anos, se mudou para os Estados Unidos em busca de se profissionalizar no esporte. Em Tóquio 2020, o brasileiro vinha de uma lesão no joelho e não estava na melhor forma. Giovani competiu na modalidade skate street e ficou na 12ª posição.
Desde os jogos, o skatista não parou de crescer, literalmente. Após conquistar o título de campeão mundial, em 2023 na SLS, em São Paulo, o pai de Giovanni revelou que o filho sente dores nas colunas por conta do crescimento, problema que o persegue desde os 14. "De janeiro para cá, ele cresceu 4 centímetros. Ele era 1 cm mais baixo que eu, e agora está 3cm mais alto", explicou o pai em entrevista para o UOL.
Giovanni chega a Paris 2024 mais experiente que em Tóquio, atual campeão do mundo, ele ocupa a 12º posição no ranking olímpico.
Augusto Akio Takahashi, o principal nome brasileiro na modalidade do skate park, é das pistas de Curitiba. Augusto começou a andar de skate aos sete anos de idade. Se destacando em nível nacional desde os 11 anos, a primeira medalha em mundiais veio na modalidade das pistas verticais, um bronze, em 2019.
Conhecido como “Japinha”, não conseguiu se classificar para o mundial de Tóquio 2020. A transição do Vert para o Park aconteceu nesse ciclo para o curitibano, com ascensão meteórica, ele conquistou o vice-campeonato em 2022 e a medalha de prata nos jogos Pan-Americanos de 2023, no Chile.
Japinha tem como ídolo um dos seus rivais na disputa olímpica, Pedro Barros, skatista catarinense referência para uma nova geração, e medalhista de prata em Tóquio 2020. Augusto fechou o ranking mundial no 5° lugar e tem grandes chances de medalhas em Paris.
Favoritos a medalha em 2024
O skate olímpico é dividido em duas modalidades, o skate street e o skate park, com disputas na categoria feminina e masculina. A projeção dos favoritos em cada divisão ficou da seguinte forma:
No skate street feminino, Rayssa Leal tem como principais rivais a forte geração japonesa liderada por Funa Nakayama e a australiana Chloe Covell. A japonesa conquistou a medalha de bronze em Tóquio e vem crescendo nas competições internacionais. Já a jovem australiana de 14 anos, venceu a Rayssa em duas etapas da SLS no ano passado. Porém, a brasileira é a atual bicampeã mundial e chega como favorita para a conquista da medalha de ouro.
A disputa mais aberta do skate nos jogos é do street masculino, é difícil até mesmo projetar um pódio para a modalidade, que tem cerca de oito a dez atletas com chances de medalhas. O principal brasileiro é Giovanni Vianna, atual campeão mundial, mas o seu compatriota, Kelvin Hoefler, atual dono da prata olímpica, é experiente e pode chegar entre os três primeiros.
O atual campeão olímpico Yuto Horigome fez um ótimo ciclo, vencendo etapas da SLS e do campeonato pré-olímpico. A dupla americana também chega muito forte na disputa, Jagger Eaton foi o medalhista de bronze em Tóquio, enquanto Nyjah Huston não vive a sua melhor fase da carreira, mas nunca se descarta um hexa campeão mundial.
Gustavo Ribeiro também chega com favoritismo, o skatista português cresce muito nas grandes competições e levou o título mundial em 2022. Para fechar, os donos da casa são representados por Vincent Milou, que deve ter grande apoio da torcida na Praça da Concórdia.
Na modalidade do skate park feminino, a grande rivalidade da categoria é entre a britânica Sky Brown, de 16 anos, e a japonesa Kokona Hiraki, com 15 anos. Elas alternaram os títulos ao longo do ciclo e prometem uma disputa de alto nível em Paris. O Brasil tem sua maior chance de medalha em Raicca Ventura, três vezes campeã brasileira, correm por fora Isadora Pacheco e Dora Varella.
Os favoritos na briga por medalha no skate park masculino são os americanos, que ocupam três das quatro primeiras posições do ranking mundial, com Tate Crew, Gavin Bottger e Tom Schaar. Os brasileiros têm reais chances de medalha na categoria, Augusto Akio é o sexto do ranking, e Pedro Barros, atual medalhista olímpico de prata, ocupa a 9° posição. Luigi Cini também chega com chances após ser vice-campeão mundial no ano passado.