Que esporte é esse?: Ginástica

Como funcionam as diferentes modalidades, as promessas brasileiras e os favoritos à Paris 2024
por
Chloé Dana
Luciana Zerati
Luiza Zequim
|
17/07/2024 - 12h

A ginástica promete se destacar como uma das modalidades mais emocionantes e visualmente admiráveis nas Olimpíadas de Paris. Com três divisões que possuem características e elementos próprios, música, técnica e movimentos corporais se misturam em apresentações individuais e coletivas. No contexto nacional, os atletas brasileiros conquistam vagas de peso e aumentam as chances de medalhas.

 

GINÁSTICA ARTÍSTICA

A ginástica artística, também conhecida como GA, surgiu na Grécia Antiga com o objetivo de “manter o corpo em forma” e para treinamento militar. Ela se tornou um esporte apenas a partir do século XIX, no ano de 1811. A modalidade faz parte dos Jogos desde a primeira edição da Era Moderna, em Atenas, no ano de 1896. Na estreia do esporte, apenas cinco países participaram, competindo em quatro aparelhos. A participação das mulheres na modalidade só teve início nas Olimpíadas de Amsterdã, em 1928. 

Nos Jogos Olímpicos de Ginástica Artística, cada competição é estruturada com critérios específicos para os aparelhos masculinos e femininos. No total, seis aparelhos são dedicados aos homens e quatro às mulheres, cada um com suas próprias definições de tempo e regras. Os ginastas que se apresentam em todos os aparelhos competem pelo Prêmio Individual Geral, que soma as notas de todos os aparelhos, embora cada um também conceda suas medalhas individualmente.

Os aparelhos são divididos em três categorias: exclusivamente masculinos (cavalo com alças, argolas, paralelas e barra), exclusivamente femininos (barras assimétricas e trave) e mistos (solo e salto). Cada aparelho tem suas próprias especificidades e contribuições para o resultado da competição.

As notas são calculadas com base no grau de dificuldade e na perfeição da execução das apresentações. Erros e quedas resultam em descontos de pontos, mas não levam à eliminação. Elementos de grande dificuldade conectados entre si podem receber pontos extras. A pontuação final é determinada pela soma da Nota de Dificuldade (Nota D), que varia de A (0,0) a I (0.90), a depender da composição da apresentação, com os árbitros contando os elementos mais difíceis (até 8 no feminino e 10 no masculino), e pela Nota de Execução (Nota E), que parte de 10 e sofre descontos por falhas apresentadas na série. As competições de equipes premiam os países com a melhor soma de notas de todos os seus atletas. 

Durante as apresentações, os atletas são avaliados por um painel de nove árbitros, com dois especializados no painel de Dificuldade (D) e sete no painel de Execução (E), podendo incluir árbitros adicionais conforme necessário.

Na ginástica artística, os atletas se apresentam usando collant para as mulheres e leotard com short ou calça para os homens. Ambos usam pés descalços, meias ou sapatilhas, além de acessórios como protetores de couro, pó de magnésio para melhor aderência e munhequeiras. Para as mulheres, é essencial prender bem os cabelos em coques ou penteados para evitar qualquer interferência durante a performance.

Atualmente, os países que possuem mais medalhas são União Soviética (182 medalhas); Estados Unidos (117 medalhas); Japão (103 medalhas); China (69 medalhas) e Romênia (69 medalhas ).

O Brasil conquistou seis medalhas na ginástica artística até o momento. No feminino, destacam-se Rebeca Andrade, Flávia Saraiva e Jade Barbosa, todas medalhistas de prata no último mundial. Essas atletas têm apresentado performances consistentes, garantindo pódios e mostrando um alto nível de habilidade. Completando a equipe feminina, estão Júlia Soares e Lorrane Oliveira, que também contribuem para o sucesso do país na modalidade.

 

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Seleção Brasileira de Ginástica Artística classificada para Paris 2024. – Foto: Reprodução/Globo Esporte

 

No masculino, a equipe brasileira é representada por Diogo Soares e Arthur Nory. Apesar de não estarem com a equipe completa, ambos os atletas têm mostrado um desempenho competitivo. A presença desses ginastas no cenário internacional destaca o potencial do Brasil na ginástica artística, com perspectivas promissoras para o futuro da modalidade.

Rebeca Andrade, representante brasileira na ginástica artística, é uma das favoritas à medalha nas Olimpíadas de 2024, se destacando especialmente no salto. Sua reputação foi solidificada ao conquistar duas medalhas de ouro no Troféu Brasil, última competição pré-olímpica.

Enquanto isso, no cenário internacional, o retorno de Simone Biles tem atraído grande atenção, liderando uma equipe americana reconhecida por sua força. Skye Blakely também se destaca como uma aposta promissora, com um desempenho impressionante. A atual campeã do Prêmio Individual Geral, Suni Lee, continua a ser uma forte competidora pela equipe norte-americana. No lado masculino, Brody Malone retorna após lidar com uma lesão no joelho, enquanto Frederick Richard, detentor do título de campeão geral, continua a ser uma figura dominante na competição. Khoi Young, tricampeão de medalhas, também é uma presença notável, trazendo sua experiência e habilidade para a disputa.

Em Paris, As performances irão acontecer do dia 27 de julho a 5 de agosto, e todas as apresentações serão no ginásio da Arena Bercy .

 

GINÁSTICA DE TRAMPOLIM

A Ginástica de Trampolim traz 32 atletas para disputarem 6 medalhas em 2024. Anteriormente as acrobacias presentes na modalidade eram usadas em treinamentos e apresentações circenses, e a prática, só se tornou esporte, em 1936. George Nissen, professor de educação física, foi o responsável por patentear a primeira cama elástica e colocar o conjunto de regras oficiais, dando início às competições. Nos Jogos de Sydney, em 2000, a ginástica de trampolim foi apresentada como modalidade olímpica oficial. 

Os ginastas executam duas provas individuais, cada uma composta por uma sequência de elementos técnicos – dez em cada, sem interrupções. As apresentações são compostas por acrobacias, piruetas, saltos e mortais que podem chegar a 7 metros de altura, realizadas em uma área demarcada. 

 

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Os atletas podem chegar a cerca de oito metros de altura quando saltam no trampolim. – Foto: Jamie Squire / Getty Images

 

Na avaliação, os árbitros levam em conta a dificuldade, a execução, o deslocamento horizontal, e o tempo de voo. Além disso, um equipamento eletrônico, colocado abaixo do trampolim, é responsável por gerar os dados do deslocamento e tempo, auxiliando os jurados. Na fase eliminatória, os atletas executam as duas séries livres e somente a maior nota é a utilizada. A partir das quartas de final só uma série livre é apresentada.

A China é a principal medalhista da modalidade. Das 36 medalhas distribuídas no total, 14 são chinesas, sendo quatro dessas de ouro. Seguindo a tabela, Canadá tem sete e a Rússia fecha o pódio, com quatro. 

Neste ano, o Brasil será representado na competição feminina por Camilla Lopes, promessa brasileira, a ginasta se destacou em campeonatos mundiais e aumenta as chances de um lugar brasileiro no pódio. Em 2023, ela conseguiu finalizar o campeonato mundial em 8° lugar,  e se tornou a primeira brasileira a conseguir uma dupla medalha de ouro na Copa do Mundo de Baku, em 2022. 

Já no masculino, Rayan Dutra se classificou pelo ranking da Copa do Mundo. Com pouca tradição na modalidade, a classificação de dois brasileiros, em ambas as divisões, simboliza uma grande conquista para o esporte nacional. 

 

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Camilla Lopes e Rayan Dutra, atletas brasileiros em comemoração aos campeonatos – Foto: Miriam Jeske/COB

 

No cenário mundial, Yan Langyu, da China, o atual campeão mundial, aparece como um dos favoritos ao ouro. Assim como Ryusei Nishioka, do Japão, que conquistou o vice-campeonato em 2021 e a medalha de bronze no último campeonato mundial, em Birmingham.

No feminino, Zhu Xueying, da China, atual campeã olímpica e vice-campeã mundial, e a britânica Bryony Page, campeã mundial de 2023 e vice-campeã em 2022, despontam como favoritas ao ouro.

As competições acontecerão no dia 2 de Agosto na Arena Bercy.

 

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Programação dos horários das provas da Ginástica de Trampolim Paris 2024 – Foto: Divulgação/Olympics

 

GINÁSTICA RÍTMICA

A ginástica rítmica, também conhecida como GR, surgiu no século XIX, na Europa, a partir de uma combinação de exercícios de ginástica artística com música. Em 1946, na Rússia, o termo “rítmica” foi incorporado, destacando a utilização da música e da dança durante a execução dos movimentos. A modalidade combina a dança, as habilidades das ginastas e a harmonia com a música.

A primeira apresentação pública aconteceu em 1948, em Londres. A União Soviética já realizava competições da modalidade, porém, foi apenas em 1962 que a ginástica rítmica foi oficialmente reconhecida como esporte pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), com o nome de Ginástica Rítmica Desportiva (GRD). Depois de quatorze anos, a modalidade virou um esporte olímpico, nas Olimpíadas de Los Angeles, 1984, com as provas individuais. Desde Sidney, em 2000, a modalidade passou a se chamar oficialmente apenas Ginástica Rítmica.

A ginástica rítmica nos Jogos Olímpicos é um esporte exclusivo para mulheres. As atletas se apresentam em um tablado, e cada apresentação é avaliada por um painel de juízes que considera a dificuldade dos movimentos, a execução técnica, a originalidade e a harmonia entre a música e a coreografia. A modalidade é composta por quatro aparelhos: arco, bola, maças e fita, e é dividida em duas categorias: individual e conjunto.

Na categoria individual, as ginastas competem sozinhas, apresentando-se com cada um dos quatro aparelhos. A prova olímpica consiste na soma do individual geral, ou seja, a soma das pontuações das quatro séries, e cada apresentação deve durar entre 1min15s a 1min30s. 

Na prova de conjuntos, cinco ginastas competem juntas em duas apresentações, e cada uma deve durar entre 2min15s e 2min30s. A cada ciclo olímpico, que dura quatro anos, há um rodízio dos aparelhos utilizados nos conjuntos. Para os Jogos Olímpicos de Paris, a primeira apresentação será de 5 arcos e a segunda, chamada de prova mista, será com três fitas e duas bolas.

As ginastas são avaliadas por 12 árbitros, divididos em 3 bancas, que avaliam a dificuldade, o artístico e a execução dos movimentos em notas de 0 a 10. Elas somam pontos de acordo com o número de dificuldades corporais (DB) e com o aparelho (DA), e perdem pontos com erros, saída da área do tablado ou estouro do tempo (0,05 por segundo).

 

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Conjunto brasileiro em apresentação no Mundial de GR, onde conquistou a vaga para Paris 2024. – Foto: Ricardo Bufolin/CBG

 

A Rússia é o país que mais possui medalhas, somando 10 de ouro, quatro de prata e duas de bronze. Logo em seguida vem a Bulgária, atuais campeãs olímpicas do conjunto, com um ouro, duas pratas e dois bronzes, e Belarus com quatro pratas e três bronzes. 

No Brasil, a ginástica rítmica foi introduzida na década de 1960 por meio da Professora Ilona Peuker. Atualmente, no individual, o Brasil tem se destacado com Bárbara Domingos, que competirá nas Olimpíadas de Paris, e com Maria Eduarda Arakaki, atual capitã do conjunto.

 

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Bárbara Domingos será a representante brasileira no individual de Ginástica Rítmica. – Foto: Ricardo Bufolin/CBG

 

Em Paris, no individual, nomes como Daria Atamanov, de Israel; Darja Varfolomeev, da Alemanha; Sofia Raffaeli, da Itália; além de Stiliana Nikolova e Boryana Kaleyn, da Bulgária, devem disputar diretamente pelo título de campeã olímpica na ginástica rítmica. Na prova de conjuntos, países como Israel, China, Itália e Bulgária são as favoritas para brigar pela medalha de ouro. No entanto, equipes como Espanha e Brasil têm potencial de surpreender e competir em busca de uma medalha.

As competições de ginástica rítmica ocorrerão do dia 8 a 10 de agosto, na Arena Porte de la Chapelle. A modalidade contará com 94 ginastas, sendo 24 nas provas individuais e 14 conjuntos, com cinco integrantes cada. No primeiro dia, as ginastas disputarão as classificatórias individuais, e as 12 melhores passarão para a final no último dia. No segundo dia, serão realizadas as provas de conjuntos, com os países se apresentando com as duas séries, e as 8 melhores equipes se classificarão para a final.