Que esporte é esse?: Atletismo

Ranking global de atletas define brasileiros para as Olimpíadas de 2024
por
Ana Clara Souza
Bruna Parrillo
|
19/07/2024 - 12h

A poucos dias do início dos Jogos Olímpicos de Verão de 2024, a Federação Internacional de Atletismo (IAAF), fechou o ranking global e confirmou a equipe que vai representar o Brasil: com 42 atletas representando o país. As disputas do atletismo estão programadas para começar no dia 01 de agosto, com a prova individual feminina de marcha atlética de 20km, em que as atletas farão a chegada no Trocadéro, com a Torre Eiffel como plano de fundo. 

Surgimento do esporte

A história do atletismo se cruza com a das Olimpíadas. Na primeira edição dos Jogos da Antiguidade, em 776 a.C, na Grécia Antiga, a única prova realizada foi uma corrida de aproximadamente 200m, que consagrou o cozinheiro Coroebus de Elis, como primeiro campeão olímpico. Esse evento estabeleceu a ideia de celebrar o potencial humano em diversas formas de competição esportiva e instituiu o atletismo como uma das principais categorias das Olimpíadas

Além das provas de corridas, havia um pentatlo, que incluía salto em distância, lançamento de disco, lançamento de dardo e luta. O lema dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, “Citius, Altius, Fortius” – do latim “mais alto, mais rápido, mais forte” – expressavam a valorização dos gregos à força, agilidade e habilidade. Essas habilidades acompanham as provas desse que é o mais antigo esporte olímpico, até os dias de hoje.

Atleta Ray Ewry realizando um salto
O americano Ray Ewry ganhou oito ouros em Olimpíadas nas provas sem corridas de salto em distância, salto em altura e salto triplo, modalidades que não existem mais no atletismo. – Foto: COI/Divulgação

O formato moderno do atletismo surgiu na Inglaterra, por volta de 1849, e definiu o conjunto de atividades que representam o esporte atualmente. Além das corridas (rasas, com barreiras e com obstáculos) e provas combinadas (decatlo para os homens e heptatlo para as mulheres), as modalidades incluem também a marcha atlética, saltos, provas com revezamentos de atletas, arremessos e lançamentos.

Em 1912, foi criada a Associação Internacional de Federações de Atletismo, com sede em Londres. Atualmente World Athletics, o órgão é responsável por regulamentar as competições de atletismo em nível global, estabelecendo normas e certificando os recordes mundiais alcançados pelos atletas.

Trajetória Olímpica

Nos Jogos Olímpicos da era moderna, o atletismo está presente desde a primeira edição, na cidade de Atenas, em 1896. Desde então, o esporte passou por alterações e recebeu inovações tecnológicas. As corridas ganharam aparelhos que registram o exato momento em que os atletas cruzam a linha de chegada e novos instrumentos – como a vara utilizada nos saltos, que antes eram de madeiras, hoje são feitas de fibra de carbono ou de vidro, o que proporciona a flexibilidade para os atletas irem cada vez mais alto.

Um dos eventos esportivos mais prestigiados pelo mundo dentro do atletismo, é a corrida dos 100m, que consagra o homem mais veloz do mundo. Após o surgimento da IAAF, a marca de 10.60s alcançada por Donald Lippincott, em 6 de julho de 1912, na Saint Moritz 1948, foi registrada como inicial. Nas Olimpíadas de Londres 2012, com o Usain Bolt, esse número caiu para 9.63s e permanece como o recorde da prova.

Mulheres disputando uma corrida nas Olimpíadas em 1928
Estreia do atletismo feminino no programa olímpico aconteceu em Amsterdã 1928, Elizabeth Robinson (no meio) foi a primeira vencedora dos 100m. – Foto: USA Team/Divulgação

O atletismo é o esporte olímpico que mais distribui medalhas. Os Estados Unidos dominam essa competição com 826 conquistas, o que os coloca no topo do ranking. A diferença para o Reino Unido é chamativa, os britânicos vêm atrás, com 209. Em seguida, aparece a União Soviética e suas 192 medalhas. O Brasil é o 36° país que mais subiu ao pódio no atletismo, 19 vezes no total, com cinco ouros, três pratas e onze medalhas de bronze. 

Modalidades do Atletismo

As modalidades do atletismo contam com o mesmo número de provas masculinas e femininas, além de dois eventos mistos, que totalizam 48 disputas por medalhas. São elas:

Provas de pistas

Corridas de 100, 200 e 400 metros rasos;

Corridas de 800, 1.500, 5.000 e 10.000 metros;

Corrida de 100m com barreiras (feminino) e 110m com barreiras (masculino);

Corrida de 400m com barreiras;

Corrida 3.000m com obstáculos;

Revezamento 4x100m;

Revezamento 4x400m (masculino, feminino e misto).

Provas de estrada

Marcha atlética 20km;

Marcha atlética mista de 35km – prova estreante que substitui a marcha masculina de 50 km;

Maratona de 42km.

Provas de campo

Salto em distância;

Salto triplo;

Salto em altura;

Salto com vara;

Arremesso de peso;

Lançamento de disco;

Lançamento de martelo;

Lançamento de dardo.

Provas combinadas

Feminino: heptatlo (saltos em altura e em distância, corridas de 100m, 200m e 800m e arremessos de dardo e de peso);

Masculino: decatlo (salto em altura, salto em distância, salto com vara, arremessos de peso, disco e dardo, e corridas de 100m, 400m, 500m e 110m com barreiras).

Regras

As normas se adequam as diferentes práticas esportivas: as corridas são disputadas em uma pista que tem o formato oval, 400m de comprimento e oito raias, que dividem o espaço para cada competidor realizar o seu tempo de prova. Na pista ocorrem tanto as provas de curta distância, como a de 100m, quanto as mais longas, que chegam até a 10.000m.

Na largada das corridas de curta distância, os atletas precisam estar em uma posição específica de quatro apoios, que consiste em encostar os pés em um bloco de largada e sustentar o tronco do corpo com as mãos no chão.

Nas modalidades com barreiras, os atletas devem saltar por dez travessões durante a prova – de 100m para as mulheres e 110m para os homens – dispostas em diferentes distâncias entre si. Na disputa feminina, as barras tem 83,8 centímetros de altura, e na masculina, tem 1,067 metros. Na prova de 3.000m com obstáculos, os participantes, além das barreiras, – que nessa prova tem uma altura menos – devem passar por fossos de água, que podem chegar a 70 cm de profundidade.

Na marcha atlética, os atletas devem manter o contato contínuo dos pés com o solo. Outra peculiaridade está na perna que avança, que deve permanecer reta desde o primeiro contato com o solo até que esteja na posição vertical. O descumprimento dessas regras são motivos para desqualificação nas provas. 

Na categoria individual, podem ser disputados o circuito de 20 km (feminino e masculino). Neste ano, o percurso de 50 km, que era apenas para homens, foi substituído por uma prova de revezamento misto com a distância total de uma maratona (42,195 km).

Os arremessos a distância possui quatro subcategorias: arremesso de peso, lançamento de disco, lançamento de martelo e lançamento de dardo. O objetivo em comum é atingir a maior distância possível, com seis tentativas para cada esportista. No entanto, só será válido se o implemento cair no setor de queda e se o atleta não ultrapassar a área de lançamento. 

Entre a categoria de saltos, existem quatro principais disciplinas: salto em distância, triplo, altura e com vara. O objetivo em comum é alcançar a maior distância ou altura, combinando força, técnica e precisão durante a execução do salto. Cada disciplina tem suas regras específicas, mas todas elas utilizam a mesma forma de medição, que é feita a partir da marca mais próxima onde qualquer parte do corpo do atleta tocou o solo após o salto.

As provas de revezamento utilizam coordenação e velocidade para completar a corrida com menor tempo possível com trocas de bastão. A zona onde o bastão tem que ser trocado tem 20 metros de comprimento e a equipe é desqualificada se o bastão for derrubado, se houver interferência de outras equipes ou se a troca ocorrer fora da zona de passagem.

Onde acontecem as provas em Paris 2024?

O principal palco das competições de atletismo será o Stade de France, arena poliesportiva e maior estádio do país. Em 2024, a clássica pista avermelhada dará lugar a um chão roxo, feito com um novo material, que promete ser ainda mais rápido que o de Tóquio 2020. Com a inovação, é esperado que recordes sejam batidos nestes Jogos.

Estádio poliesportivo da França
Pista roxa do Stade de France foi feita com recursos sustentáveis na Itália e é projetada para quebrar recordes. – Foto: Olympics/Divulgação

O Trocadéro, famoso ponto turístico que encara a Torre Eiffel, será o primeiro cenário da programação para o atletismo, onde as marchas atléticas iniciam as disputas. Já a  praça na frente do Hôtel de Ville, prefeitura localizada no centro de Paris, recebe a largada da maratona de 42km, os atletas também terão como plano de fundo o jardim da Esplanada des Invalides enquanto percorrem.

O percurso da maratona inclui nove cidades, entre elas, Paris e Versalhes, passando por diversos cartões postais do país. E, pela primeira vez, esse trajeto também poderá ser feito por 20.024 corredores amadores, na noite do dia 10 de agosto, entre a prova masculina e a feminina – que acontecem nas manhãs dos dias 10 e 11, respectivamente.

Time Brasil

Para Paris 2024, o Brasil tem 15 vagas garantidas por meio do índice olímpico, marca mínima estabelecida pela IAAF, que classifica os atletas a disputarem os Jogos. Além dessas, outras 22 foram conquistadas pelo ranking global e cinco são destinadas aos revezamentos masculinos.

Alison dos Santos, conhecido como Piu, entra como um dos favoritos na disputa dos 400 m rasos e 400 m com barreiras, tendo se classificado em julho de 2023, nas etapas de Polônia e Mônaco da Liga Diamante. O atleta, que foi bronze nas Olimpíadas de Tóquio 2020, vai à Paris em busca de mais uma medalha.

Alison dos Santos com a bandeira do Brasil
Campeão mundial dos 400m com barreiras em 2022, Piu é uma das esperanças brasileiras para conquista do ouro em Paris 2024. – Foto: Abbie Parr/Getty Images

Na marcha atlética, Caio Bonfim é um nome com chances de medalha brasileira. Erica Sena e Viviane Lyra também se classificaram para a prova de 20 km. Bonfim e Lyra foram os definidos para disputar a marcha com revezamento misto, prova que estreia no programa dos Jogos Olímpicos de 2024. A dupla foi a responsável por uma medalha de bronze para o Brasil na estreia da prova nos Jogos Pan Americanos de 2023, em Santiago. 

O Troféu Brasil de Atletismo 2024, que foi disputado entre os dias 27 e 30 de junho no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro (CTPB) em São Paulo, foi a última oportunidade para os brasileiros somarem pontos em busca de uma vaga olímpica. O torneio nacional certificou a ida à Paris de mais dois brasileiros pelo índice olímpico: Luiz Maurício da Silva, venceu a prova do lançamento de dardo e estabeleceu o novo recorde sul-americano (85,57m), e Eduardo de Deus, o Du Trem Bala, para a disputa dos 110m com barreiras.

Luiz Mauricio em prova de lançamento de dardo
Luiz Maurício conquistou o ouro, o recorde sul-americano e a vaga olímpica no Troféu Brasil 2024. – Foto: Wagner Carmo/CBAt

O campeão olímpico – no Rio de Janeiro, em 2016 – de salto com vara, Thiago Braz, que esteve suspenso por doping, conseguiu uma liminar para participar do Troféu Brasil, mas não conseguiu saltar a marca de 5.82m, necessária  para classificação e ficou fora das Olimpíadas.

O doping também tirou um atleta do Time Brasil, que estava previamente classificado para Paris. Daniel Nascimento, ou Danielzinho, foi suspenso pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) pela presença de substâncias ilícitas em seus exames. O atleta foi o responsável por marcar o melhor tempo de um atleta nascido fora do continente africano na Maratona de Seul, em 2h04min51s.

Confira a lista completa dos brasileiros classificados para os eventos do atletismo:

Pelo índice olímpico

Alison dos Santos - 400m com barreiras e revezamento 4x400m masculino;

Almir Júnior - Salto triplo;

Caio Bonfim - Marcha atlética 20km e revezamento misto;

Darlan Romani - Arremesso de peso;

Eduardo de Deus - 110m com barreiras;

Erica Sena - Marcha atlética 20km;

Erik Cardoso - 100m rasos e revezamento 4x100m masculino;

Felipe Bardi - 100m rasos e revezamento 4x100m masculino;

Izabela Silva - Lançamento do disco;

Lucas Carvalho - 400m rasos e revezamento 4x400m masculino;

Luiz Maurício da Silva - Lançamento de dardo;

Matheus Lima - 400m rasos, 400m com barreiras e revezamento 4x400m masculino;

Rafael Pereira - 110m com barreiras;

Viviane Lyra - Marcha atlética 20km e revezamento misto.

Pelo ranking global de atletismo

Ana Carolina Azevedo - 100m rasos e 200m rasos;

Ana Caroline Silva - Arremesso de peso;

Andressa de Morais - Lançamento do disco;

Chayenne da Silva - 400m com barreiras;

Gabriela de Souza - Marcha atlética;

Gabriele Santos - Salto triplo;

Eliane Martins - Salto em distância;

José Fernando 'Baloteli' Santana - Decatlo

Fernando Ferreira - Salto em altura;

Flávia Maria de Lima - 800 metros;

Jucilene Sales de Lima - Lançamento do dardo;

Juliana de Menis Campos - Salto com vara;

Lissandra Campos - Salto em distância;

Lorraine Martins - 200m rasos;

Lucas Marcelino - Salto em distância;

Matheus Correa - Marcha atlética;

Paulo André Camilo - 100m rasos e revezamento 4x100m masculino;

Pedro Nunes - Lançamento do dardo

Renan Gallina - 200m rasos e revezamento 4x100m masculino;

Tatiane Raquel da Silva - 3.000m com obstáculos;

Tiffani Marinho - 400m rasos;

Valdileia Martins - Salto em altura;

Vitória Rosa - 100m rasos;

Wellington 'Maranhão' - Arremesso de peso.

Outros convocados

Douglas Hernandes – revezamento 4x400m masculino

Gabriel Garcia - revezamento 4x100m rasos

Jadson Erick Lima – revezamento 4x400m masculino

Lucas Vilar – revezamento 4x400m masculino

Além desses nomes, Max  Batista (marcha atlética), Livia Avancini (arremesso de peso) e Hygor Soares (revezamento 4x100m masculino), ainda podem aparecer na lista de atletas da delegação brasileira. Os três são elegíveis, mas foram retirados da lista por um caso relacionado a testes anti doping não realizados durante o ciclo olímpico, sendo que a World Athletics estabelece uma quantidade mínima a ser realizada no período.