O presidente, Vladimir Putin, de 71 anos, foi reeleito para o seu 5° mandato no último domingo (18), na Rússia. O mandatário disputou as eleições contra três candidatos escolhidos: Nikolai Kharitonov (Partido Comunista), Leonid Slutsky (Partido Liberal) e Vladislav A. Davankov (New People).
A votação ocorreu por todo território russo, incluindo parte da Ucrânia, país que tem territórios invadidos e ocupados pela Rússia desde fevereiro de 2022. A eleição ocorreu um mês após a morte de Aleksei Navalny, principal opositor de Putin.
O resultado divulgado pela Comissão Eleitoral Central, ainda no domingo, indicou uma vitória esmagadora de Putin, que conquistou 87% dos votos válidos. A vitória do presidente russo foi contestada por opositores, entre eles, Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, que chamou Putin de “ditador” e a eleição russa de “farsa”.
“É claro para todos no mundo que este indivíduo, como tantas vezes aconteceu na história, está simplesmente doente de poder e está a fazer tudo o que pode para governar para o resto da vida. Não há mal que ele não cometerá para prolongar seu poder pessoal. E não há ninguém no mundo que esteja imune a isso”, disse Zelensky.
Rodrigo Amaral, Professor de Relações Internacionais da PUC-SP, explicou que esse movimento já era esperado. “É evidente que existem visões bastante críticas a respeito da veracidade desses números, e com essa vitória, ele vai ser o maior líder russo desde Stalin o que demonstra essa hegemonia explícita, que reflete o contexto populista da Rússia”.
Desde o fim da União Soviética em 1991, a Rússia teve oito mandatos presidenciais distribuídos entre 3 presidentes. Boris Yeltsin, que governou de 1991 a 1999 renunciou à presidência, após má popularidade durante o segundo termo.
Quem assumiu após a renúncia foi o próprio Vladimir Putin, o primeiro-ministro da época. Depois de ser presidente interino, ele concorreu e ganhou as eleições de 2000, e se manteve na presidência até 2008. Durante o governo de Dmitry Medvedev (2008 até 2012) voltou ao cargo de primeiro- ministro e em 2012, reassumiu a presidência.
O ex-agente da KGB, está no poder na Rússia há pelo menos 24 anos, com os resultados e com a recente mudança na constituição do país, ele pode concorrer (e ganhar) mais um termo se mantendo presidente até 2036. Caso isso se confirme, Putin irá ultrapassar o recorde de 29 anos do governo de Joseph Stalin.
Eleições em tempo de guerra
Apesar das eleições no país, as ofensivas contra a Ucrânia não pararam. Em resposta aos ataques ucranianos antes das eleições no dia 15 de março, o país revidou com um ataque onde morreram 16 pessoas e outras 20 ficaram feridas.
Destruição pelos ataques russos em Mykolaiv, Ucrânia. Foto: Serviço de imprensa do Serviço
de Emergência do Estado da Ucrânia na região de Mykolaiv / Reuters
A guerra da Rússia contra a Ucrânia completou 2 anos em fevereiro. Com a adição da Suécia na OTAN ,e indicativos de tropas francesas na Ucrânia. A tensão está em um ponto crítico, com Putin falando do uso de armas nucleares: “Do ponto de vista técnico-militar, claro que nós estamos prontos, estamos constantemente em estado de alerta, é reconhecido que o nosso Tríade nuclear é o mais moderno”.
Amaral, argumenta que mesmo com a paz impossível, por causa das duas concepções de mundo distintas e guerra improvável, por que a chance de conflito nuclear é baixa, é algo caro para todos os lados.
“Talvez seja o maior teste, através de uma guerra interestatal, uma guerra que envolve grandes potências. E existe essa questão do perigo nuclear, ela sempre volta, mas que explicitamente é a história da Guerra Fria, particularmente, mostra que não existe”, complementa.
Putin comenta sobre a morte de Navalny durante discurso
Em seu discurso de domingo à noite, Putin rompeu o costume de não falar sobre a morte de Alexey Navalny, opositor do mandatário que morreu em fevereiro deste ano em uma colônia penal no Árctico. A família do e os apoiadores de Navalny acusaram Putin de ser o responsável, mas as alegações foram rejeitadas pelo Kremlin.
“Quanto ao Sr. Navalny – Sim, ele faleceu. É sempre um acontecimento triste. E houve outros casos em que pessoas nas prisões faleceram. Isso não aconteceu nos Estados Unidos? Aconteceu, e nem uma vez”, disse.
Putin assumiu que poucos dias antes da morte de Navalny foi informado uma proposta para trocá-lo por prisioneiros detidos em países ocidentais “A pessoa que falou comigo ainda não havia terminado a frase quando eu disse que concordo, mas, infelizmente, [a morte de Navalny] aconteceu, só havia uma condição de trocá-lo para ele não voltar. Bem, essas coisas acontecem. Não há nada que você possa fazer sobre isso, isso é a vida”.
Aleksei Navalny em Moscou, 2019. Foto: Sefa Karacan/Anadolu /Getty Images.
Aleksei Navalny durante anos demonstrou em seu blog as corrupções do Kremlin. Em 2021 ele fez uma reportagem onde ele falava do “maior suborno da história” uam mansão com o valor de 1,4 bilhões de dólares, localizado à beira do mar negro. Aleksei foi preso várias vezes, sofreu pelo menos 3 tentativas de envenenamento. E tentou concorrer à eleição na Rússia em 2018 mas foi impedido pelo Kremlin.