Pronome Neutro gera discussão e polariza a internet

A utilização do termo não-binário no mundo digital causa divergências de opinião
por
Rodolfo Soares Dias
Ian Valente
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01/09/2022 - 12h

O uso do pronome Neutro vem sendo disseminado pela comunidade LGBTQIA+ e se popularizando, porém, seu uso nas mídias sociais acaba causando polêmicas sobre a necessidade e importância da norma verbal culta. "A reinvindicação é importante e certa, é o direito das pessoas, ela sente a necessidade de se expressar dessa forma através da linguagem", comenta Bruno Sangiorgio professor de línguas formado pela universidade de São Paulo (USP). 

De modo geral, os pronomes são um conjunto de palavras que tem a função de substituir ou nomear um substantivo ou adjetivo, então, esse conjunto é classificado por gênero masculino ou feminino. O neutro surge como uma categoria gramatical que incluí diferentes gêneros que não se identificam nem com o masculino, nem com o feminino.  

Os embates ocorrem a partir do momento em que o uso do pronome neutro começa a se difundir e se torna uma base de mudanças. Para o professor, o problema começa na falta de informação: “As pessoas têm muito preciosismo com a língua portuguesa, mesmo sem estudá-la, é um assunto muito complexo”, e complementa “a língua é viva e acontecem mudanças nela conforme a sociedade a utiliza”. 

No ano passado, o Museu da Língua Portuguesa fez uma postagem de boas vindas pós pandemia em suas redes sociais, utilizando além de "todas" e "todos" o "todes" como representação do pronome neutro, gerando uma repercussão tanto negativa como positiva, sobre o questionamento de uma possível inserção na norma ortográfica padrão.

Os apoiadores da utilização do pronome acreditam que ele possa ser necessário para uma mudança positiva de inclusão de minorias na sociedade e já o utilizam, porém em muitos casos a “transformação” na forma de fala e escrita, incomoda conservadores e estudiosos. No Latim o artigo neutro existia, porém sua terminação coincidia com as terminações masculinas e com o passar do tempo elas foram se unindo e se formou uma só. Por isso, a inexistência de um pronome neutro nos dias atuais é possível, mas para Sangiorgio isso não se justifica: “Usar o masculino plural como neutro só por ser uma herança do patriarcalismo é errôneo, existem sociedades que o neutro é o feminino plural e não significa que a sociedade seja matriarcal”. 

“Mas apesar do preciosismo que eu disse anteriormente, vemos uma presença forte da cultura norte-americana na nossa língua que é tratada com normalidade, palavras como ‘Break’ ou ‘brainstorming’ já estão inseridas na nossa sociedade” cita o professor, como um processo de afastamento e marginalização da sociedade LGBTQIA+, sendo um dos fatores que mais contribui para desvalidar este discurso. 

Ainda assim, seus adeptos lutam para uma maior aderência ao discurso, porém em um ambiente pouco propicio, a internet. Em média, o brasileiro passa quatro dias inteiros por semana conectado na internet, mas ainda sim, existe uma falta de aprofundamento de questões tão importantes como a do pronome neutro, um assunto recente e profundo que é tratado de maneira vaga e acelerada. 

Sangiorgio porém, acredita que a implementação do pronome neutro como norma ortográfica é possível, mesmo em um processo lento e gradual “A partir do momento que a palavra é colocada no dicionário quem é mais afetado é a criança que está na escola, não o adulto que tenta combater seu uso. A mudança só é positiva a partir do momento que se consolide a ponto de ser ensinada nos níveis mais básicos da educação”. Ele finaliza: “A mudança na língua é apenas uma parte do necessário para ter um convívio social saudável para todos.”