"Cuidado com a fúria destrutiva", alerta o professor de História da PUC-SP, Alberto Schneider. Para ele, a estátua do Borba Gato é um símbolo conservador do estado de São Paulo, pois os paulistas foram educados a tratar os bandeirantes como heróis regionais, sendo que na verdade escravizavam indígenas". Esse monumento, ele conta, foi feito em uma outra época histórica, a fim de promover a ideia de “unidade nacional”, em 1962, entretanto, acabou exaltando a memória escravocrata brasileira.
O historiador é contra as destruições de esculturas: “Acho que não podemos tomar uma fúria destrutiva dos monumentos, porque há uma questão: se a gente remover, destruir e botar fogo em todos os monumentos escravocratas isso não necessariamente vai ampliar a discussão sobre o significado disso.”
Schneider propõe outra alternativa: “Para mim, a grande questão é educação patrimonial. É por ali onde você pode politizar o significado do monumento, inclusive utilizá-los contra si próprios.” O professor defende também que a estátua do Borba Gato "poderia ser transferida para um museu, ou se construir um local onde se fala da escravidão indígena causada pelos bandeirantes”.
O acadêmico comparou monumentos históricos racistas e escravocratas com a obra Mein Kampf, de Adolf Hitler. Schneider alegou que ela não pode parar de ser publicada, pois é essencial para as pessoas reconhecerem que o nazismo foi um erro. Sobre o mesmo assunto, também citou a transformação do campo de concentração de Auschwitz em um museu anti-nazista.
Ele expressou que a educação patrimonial não ocorre em São Paulo pois o estado é historicamente conservador. Por isso, mesmo não concordando com o incêndio, ele diz que ao menos é compreensível e perfeitamente defensável por causa dessas razões históricas.
A educação patrimonial é um tema importante para entender as questões citadas acima. O próprio IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) fala em seu site sobre a definição do termo: “a Educação Patrimonial constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o patrimônio cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. Considera-se, ainda, que os processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio da participação efetiva das comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem diversas noções de patrimônio cultural”.