Para conversar sobre esse assunto, convidamos um dos mais importantes colecionadores e cofundador da comunidade Odyssey Brasil. O professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Victor Emmanuel Vicente.
Nos conte um pouco sobre a sua história com videogames e principalmente sobre o Odyssey.
Minha história com videogames e tecnologia começa na década de 80, enquanto criança. Basicamente tendo acesso ao primeiro console de videogame doméstico, o Telejogo, de um primo. Em determinado momento, eu e meus irmãos, ganhamos de nosso pai, o nosso primeiro videogame, o fantástico Odyssey da Philips. Esse passa a ser o meu primeiro contato próximo ao que tinha de mais moderno no início dos anos 80.
O Odyssey era o único console disponibilizado no Brasil?
Em meados dos anos 80, havia uma política de reserva de mercado. Dessa forma, como a Philips já atuava a algum tempo em território nacional, foi possível que iniciasse as vendas do console em nosso país. E apesar de ser o primeiro console a ter as vendas autorizada no Brasil em 1983 e ter liderado as vendas, havia muitos Ataris que eram trazidos de viagens internacionais ou mesmo via contrabando do Paraguai. Oficialmente, o Atari chega tarde ao país, distribuído pela Polyvox.
Como foi a apresentação desse console no Brasil?
Como dito, a Philips já era conceituada, estabelecida no país, com um vasto a suporte técnico e um grande gama de lojistas. Para a apresentação desse novo equipamento, o investimento em marketing foi massivo. Havia um comercial de televisão, com todo um conceito futurista, que era exibido em horário nobre, principalmente aos domingos. Na principal feira de utilidades doméstica (UD) de dezembro de 1983, foi montando um stand gigantesco, com direito a raios lasers nos céus de São Paulo, para apresentar o primeiro console de videogames do Brasil. E ainda, foram realizadas parcerias importantes, como o lançamento do jogo “Didi na Minha Encantada”, que aproveitou o sucesso do filme “Os Trapalhões na Serra Pelada” que fora lançado no ano anterior.
Quando e como se tornou colecionador de videogames?
Eu me defino como colecionador desde 2000, quando eu vou atrás do meu Odyssey novamente, busco entender como está o cenário de videogames antigos e encontro várias outras pessoas o mesmo desejo. Como naquela época ainda não existia ferramentas de redes sociais, criei uma lista de e-mail específica para falar de Odyssey. Essa lista foi criada em dezembro de 2000 e durante alguns anos, essa lista passa a receber colecionadores de videogames interessados em buscar, catalogar e organizar tudo que se conhece sobre Odyssey. Nesse processo, descobrimos algumas coisas interessantes, como um jogo perdido chamado “Missão Impossível: Viagem Programada”, que tudo indica ser o primeiro jogo desenvolvido totalmente no Brasil, alguns materiais que anunciavam lançamentos que nunca chegaram a ser lançado, como o jogo da “Turma da Mônica”. A intenção desse grupo de colaboradores é disponibilizar todo esse material para a comunidade de colecionadores.
Esse grupo, além de resgatar e manter viva a memória desse console, têm outros objetivos?
É nesse grupo do Odyssey Brasil começa a surgir algumas ideias interessantes, como desenvolver jogos. Umas das pessoas que está nesse grupo desde o começo, é Rafael Cardoso, que é um excelente desenvolvedor de jogos para essa plataforma, que utiliza um processador Intel 8048 e por essa característica, a programação é toda feita em Assembly (linguagem de máquina). Esses jogos desenvolvidos por Rafael e por outros, eram até aquele momento, lançados na Europa ou Estados Unidos e para realizar a distribuição, tinha-se que desmontar cartuchos originais e regrava-los. Esse processo era totalmente caseiro e destrutivos, mas é o que se tinha em mão na época, para manter viva a essência do console, com a distribuição de novos jogos.
Como é realizado esse processo atualmente?
A equipe do Odyssey Brasil, 20 anos depois das primeiras iniciativas de resgatar, catalogar e desenvolver jogos totalmente brasileiros, com muitas pesquisas, tentativas, erros e acertos, conseguiu criar, de maneira a não canibalizar cartuchos originais, seus próprios cartuchos, com materiais existentes hoje. Dessa maneira, somos capazes de criar um cartucho totalmente novo e 100% produzido no Brasil.
Conte-nos um pouco sobre os jogos desenvolvidos pela equipe.
O primeiro jogo lançado foi o “Floresta Assombrada”, desenvolvido por Rafael Cardoso. Já para esse jogo, fizemos toda a arte gráfica da embalagem, que remetia aos jogos lançados nos anos 80, manuais e guia em inglês. Tudo para fazer com que, ao adquirir esse novo jogo, o colecionador seja levado ao passado nostálgico de outrora.
E pretendemos ainda, até o final de 2021, apresentar mais 3 jogos. O desenvolvedor Rafael Cardoso é um verdadeiro expert em programação em linguagem de máquina e inclusive foi elogiado pelo principal desenvolvedor de jogos para Odyssey dos anos 80, Ed Averett.
Para quem não tem um Odyssey, de que maneira poderia ter contato com o console?
O projeto Odyssey Brasil, através de nossa comunidade, está juntando material, incluindo materiais que soubemos da existência muito recentemente, como um consoles do Canadá e Japão, e com isso, pretendemos, em breve, lançar um museu específico sobre Odyssey.
Existe também uma iniciativa chamada de Museu do Videogame Itinerante, que antes da pandemia, fazia exposições em shoppings pelo Brasil, onde se podia jogar com vários consoles antigos, incluindo o próprio Odyssey. Aguardemos o término dessa pandemia, para que essa exposição itinerante possa voltar as atividades.
Para mais informações sobre a iniciativa Odyssey Brasil, acesse o site: https://experienciaodyssey.com.br