Consumidores de todo o Brasil estão notando o aumento disparado do preço da cenoura nos últimos meses que, inclusive, está virando memes nas redes sociais.
O Diretor Executivo do Instituto Brasileiro de Horticultura (Ibrahort), Manoel Oliveira, explica os reajustes no preço da cenoura: “O principal fator para o aumento de preço foi a forte intensidade das chuvas na safra deste ano. Muitas regiões, como São Gotardo (MG), uma das principais regiões produtoras de cenoura do país, foram muito impactadas, as chuvas dificultaram a colheita, sendo impossibilitada a entrada de caminhões e outros maquinários. Houve redução na área de plantio em relação à safra anterior, sendo assim, a oferta do produto também diminuiu, outro fator que impactou no preço final.”
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os preços dos alimentos dispararam (2,51%). Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o valor da cenoura aumentou 45,65%.
A feirante da Zona Leste de São Paulo, Lúcia Nakazone, 62, garante que a mercadoria está perto de dar prejuízo. “Já chegamos a subir o valor de R$18 a R$20 e não estamos vendendo nem a metade. Para não sermos prejudicados, diminuímos a quantidade e a qualidade do produto - vendendo cenouras inferiores, que não são muito boas - assim conseguimos ter um pouco de lucro.”, lamenta Lúcia.
Imagem de cenoura na feira em São Paulo (SP) .Créditos: Anna Cecília Nunes.
O economista Marcos Henrique do Espírito Santo, professor de Economia e Relações Internacionais, afirma que o problema de safra também está relacionado ao aumento do valor dos fertilizantes, causado pelo conflito entre a Rússia e Ucrânia: “Isso vem acontecendo nos últimos 2 anos em função do aumento da taxa de câmbio, mas foi potencializado esse ano de 2022 a partir do conflito entre a Rússia e Ucrânia, o que fez os preços dispararem ainda mais. A partir do segundo semestre, podemos ver uma melhora relativa na taxa de câmbio, em função da pressão eleitoral.”
Imagem do preço da cenoura no mercado. Créditos: Anna Cecília Nunes
Considerando os gastos de moradia, alimentação, saúde, educação, higiene, vestuário e lazer, o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) calcula que o salário mínimo, no mês de março, deveria ser de R$ 6.394,76 para sustentar uma família de quatro pessoas. “A inflação, é um problema generalizado que corrói a renda dos trabalhadores, principalmente aqueles com vulnerabilidade financeira, porque a inflação se dá na medida dos bens de consumo do dia a dia. Para que isso melhore, devemos mudar o regimento macroeconômico, para pensar em crescimento ao longo prazo”, explica Marcos Henrique.