Por Guilherme Carvalho
No dia 27 de fevereiro, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (LigaSP), entidade encarregada de administrar as principais divisões dos desfiles na cidade, anunciou um processo de revisão dos critérios de julgamento, e sugestões de mudanças no regulamento das competições. As propostas serão votadas em plenária soberana da liga e, em caso de aprovação, já serão implementadas para o Carnaval de 2024.
Em entrevista para AGEMT, Judson Sales, diretor da Escola de Samba da Tom Maior afirmou estar bastante otimista quanto a essas possíveis alterações. Apesar de ressaltar sobre ser comum em outros anos essas situações na associação, o diretor pontua inovação ao incluírem especialistas de cada quesito de carnaval para trabalharem nas proposições. "Quase todo ano tem algum tipo de mudança, mas essas mudanças costumam ser restritas aos presidentes que debatem o assunto". E acrescenta, "a Liga esse ano teve a virtude de convocar para o debate pessoas que fazem parte dos respectivos quesitos, então foi dado a oportunidade para cada Escola nomear um responsável por quesito".
Em sua opinião, Judson acredita num sistema de julgamento um pouco mais subjetivo como um dos principais pontos de transformação, porém, de uma forma mais controlada, como é no Rio de Janeiro, em que alega a existência de críticas muito pesadas sobre o excesso desse aspecto. "São propostas que vão ser encaminhadas aos presidentes (das escolas) que são soberanos na decisão final sobre a mudança ou não. Elas estão abrindo um pouco mais de margem para essa subjetividade", afirma.
Perguntado sobre as reclamações em relação ao exagero de notas 10 nas apurações, declara ser em parte, uma decorrência da total objetividade nos critérios atuais, no qual diz ser prejudicial quando se trata sobre arte. Para o Eduardo Fontes, Representante da Agremiação Gaviões da Fiel na LigaSP, também expressa insatisfação com o ocorrido acima, mas cita que uma possível abertura para um julgamento individual não seria efetivo para todos os quesitos. Prega um estudo amplo para ser elaborado outras medidas positivas para o cerne da questão. Assim como o entrevistado anterior elogia o Presidente da Liga – Sidnei Carriuolo, referido pelo protagonismo na iniciativa e condução desse trabalho. Até a publicação dessa matéria, não foi estabelecer contato com o Coletivo.
Entenda mais sobre o caso dos critérios de julgamento
A cada edição fica mais notável a enorme quantidade de notas máximas nas apurações do Samba paulistano. Em foco na principal divisão vemos neste ano, por exemplo, 3 entre 9 quesitos de carnaval repletos de notas 10 às 14 agremiações, pelos 4 jurados de cada categoria. 4 diferenças de 9.9 dentre 168 iguais garantindo a soma de 30 pontos para todos. Vale lembrar o descarte da avaliação mais baixa. Situações parecidas são encontradas em outros tópicos das avaliações.
No Rio de Janeiro há apenas uma divisão com um cenário próximo desse: A Bateria. Teve 8 notas 9.9 sendo mais de uma vez para algumas concorrentes, não sendo garantido a pontuação final mais alta. O Jornalista Anderson Baltar, mestrando na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), autor de cursos sobre os desfiles de carnaval e colaborador por anos ao UOL sobre o assunto com foque carioca, explicou em termos didáticos sobre as diferenças de julgamentos entre as duas cidades mais famosas nesse meio.
Segundo o jornalista, o modelo técnico(São Paulo) visa a efetividade, o cumprimento fiel ao que foi proposto, a organização. Enquanto o modelo comparativo(Rio de Janeiro) premia a ousadia, o esforço e a criatividade. Supõe na segunda forma de avaliação um bolo normal de fubá e um grande de casamento “(O bolo de casamento) Vai tirar 10 e o de fubá 9,9 ou 9,8, porque existe um critério comparativo. O de casamento deu muito mais trabalho, gastou mais dinheiro, mais cuidado”. Já no primeiro o modo “se os dois estiverem certinhos vai ser 10 para os 2". E finaliza, "Pior, se o glacê (do bolo de casamento) derreter é 9,9, e o de fubá é 10".
Acompanhando o samba desde 2006, quando tinha 8 anos, Leonardo Dahi é fissurado pelo tema. Jornalista formado pela Cásper Líbero, já cobriu o Carnaval da cidade paulistana pela Rádio CBN. Segundo Leonardo, antes dessa última década, a folia na Cidade da Garoa já passou por episódios ruins de apurações com
seleção de jurados e regras confusas adotadas nesses períodos. Avalia que, uma nova geração de presidentes das Escolas trouxe uma grande organização, além do fortalecimento de suas estruturas ao longo do tempo, buscando nas regras tabelamentos diretos, para evitar arbitrariedades dos julgadores.
Dessa forma, o radialista afirma sobre o resultado em SP estar diretamente vinculado às pastas - papeis enviadas por cada Escola estabelecendo como pretende ser cada detalhe na passarela - para serem “fiscalizadas” pelos jurados durante os dois dias de competição. “Evoluiu para um ponto que não é que a escola está perdendo o Carnaval porque ela deixou de fazer 50 fantasias, do jeito que estava na pasta, está perdendo o Carnaval porque a pena na pasta está virada para a direita e na pista ela passa virada para a esquerda”.
Nos bastidores...
Neste ano, alguns acontecimentos parecem agitar ainda mais o futuro do Carnaval de São Paulo. Um deles foi um comentário do Boninho, diretor de Gênero de Variedades na emissora carioca Rede Globo, detentora dos meios de transmissão dos desfiles em questão. Em postagem de Paulo Serdan, presidente da Mancha Verde, em tom de reclamação sobre as justificativas de alguns jurados em duas notas à Escola, Boninho comentou:
“Precisamos rever os julgadores. Estão ultrapassados, as escolas estão inovando e eles presos ao antigo. Sem inovação o show não sobrevive. Portanto precisamos de novos olhares para avaliar o lindo trabalho de vocês”.
A mesma emissora, segundo a coluna de Guilherme Ravache na UOL, saiu no prejuízo em termos gerais por ter vendido apenas uma das cinco cotas publicitárias disponíveis para patrocínios. Na coluna de Sandro Nascimento, da mesma mídia digital, ouviu do mercado publicitário o desejo de inovação do carnaval e o seu conceito como espetáculo para atingir outras camadas dos telespectadores.