Em 1970, durante a ditadura, o futebol brasileiro foi usado como estratégia política grandiosa pela primeira vez. Com a volta dos jogadores ao país, desembarcando em Brasília, Pelé e, o então presidente, Médici posaram juntos com a taça recém conquistada pela seleção mais aclamada do mundo na época. A cena protagonizou uma jogada do regime ditatorial, que buscava limpar e promover a aprovação do governo, o qual encarava crises e questionamentos constantes da população.
A tática abriu portas para que o mundo esportivo deixasse de ser só um entretenimento, se tornando um meio de convenção popular. É evidente que o país visto como símbolo da modalidade tenha seu imaginário afetado por resultados, desempenhos e campeonatos. O futebol paulista ilustra essa influência quando proíbe torcidas rivais da capital de estarem ambas presentes em um confronto.
A imprensa esportiva e o seu valor de compra
A mídia tem um papel crucial no controle de torcedores, seu comprometimento deve ser sempre com a verdade por meio da escuta de ambos os lados de um conflito. A junção entre a propaganda midiática, o interesse da elite do futebol e a política brasileira tornam os jornais e redes sociais um método de persuasão poderoso.
Esse padrão de manipulação é sútil e feito em partes, pequenas decisões, postagens oficiais, acobertamento de desvios e aumento de preços dos ingressos para os jogos. O mundo esportivo é um dos setores mais suscetíveis a esse tipo de domínio. Por estar amplamente ligado ao emocional de quem ama assistir e participar e presente no cotidiano seu alcance se torna ainda mais abrangente.
Renata Beltrão, coordenadora de comunicação e marketing do Museu do Futebol do Pacaembu, comenta sobre essa influência em entrevista no museu. “Tanto a imprensa quanto o museu são instituições legitimadoras de determinadas narrativas. Todo mundo que entra em um museu espera que ele entregue uma verdade em uma bandeja , da mesma forma que quando a gente abre o jornal esperamos ler a verdade.”
Renata também comenta sobre a parcialidade que os museus e a imprensa têm em comum: “Mas os museus têm vieses, assim como a imprensa. Que história a gente conta, que história deixamos de contar, tudo isso influi na forma como o público percebe, não só o próprio museu, mas aquele assunto de maneira geral.” É dever da imprensa se manter nos ideais da comunicação verídica e investigativa, não há espaço para que ela se torne arsenal de influência política e tenha um preço de venda.
O ‘time do povo’
A popularização da torcida e o sentimento de pertencimento são os fatores centrais para que a modalidade ganhe espaço na ‘família brasileira’, é comum que bairros inteiros parem as quartas e domingos durante 90 minutos para assistir e vibrar nos embates entre time da casa e adversários.
O Sport Clube Corinthians, um dos maiores clubes do estado, se auto apelidou como ‘time do povo’, sendo este um dos mantras de sua torcida. Com o crescimento do futebol, não só como esporte, mas como arma política, essa imagem se alterou. Escândalos de corrupção na diretoria e uso da renda dos jogos para interesses privados se tornam cada vez mais comuns. Por estes fatores a modalidade perde, aos poucos, sua essência, entusiasmo e espaço de união.
As polêmicas em torno de contratos milionários dos jogadores faz com que a torcida mais jovem, que nunca viu a nação conquistar uma Copa do Mundo, perca o entusiasmo e a crença nas novas seleções. O esquadrão de 70, visto como o “time da redenção”, que impulsionou as artimanhas políticas de Médici, antecedeu diretamente essa descrença da comunidade.