Por Aline Almeida de Freitas
Mesmo tendo seu início nos anos 90, é inegável que o Trap vive o seu ápice na atualidade. O estilo musical dominou a cultura moderna e já é presença garantida em festivais e premiações ao redor do mundo. Dentro disso, o nome de Travis Scott não pode passar despercebido já que o artista se consagrou como uma das maiores representações do gênero. Desde o boom de sua carreira em 2018, Scott atraiu uma legião de fãs, como Vinicius Gil, estudante, de 25 anos, que acompanha sua trajetória desde 2019. "Ele batalhou muito para chegar aonde chegou como artista e influenciador”, afirma.
Não é atoa que Gil o classifica como mais que apenas cantor. Com o auxílio das redes sociais, o trapper extrapolou os limites da música e se tornou também uma personalidade a ser copiada, ou, simplesmente, um influenciador. A sua influência é tão grande que até mesmo suas roupas são motivo de inspiração. Contudo, apesar das inúmeras conquistas, a carreira de Scott não é marcada apenas por pontos positivos. As polêmicas também se sobressaem quando seu nome é mencionado.
Em 5 de novembro de 2021, o festival Astroworld, promovido pelo trapper americano Travis Scott, foi cenário de um desastre. Ao menos 10 pessoas morreram pisoteadas e centenas ficaram feridas depois da confusão generalizada que tomou a plateia. O acontecimento gerou grande polêmica quando vídeos do cantor dando continuidade a apresentação enquanto via o tumulto nas arquibancadas circularam na internet. Muitos o acusaram de ser conivente e até mesmo responsável pela tragédia. Para Gil, o cantor deve ser responsabilizado. "Avisaram que as pessoas estavam se machucando e mesmo assim ele continuou o show", diz.
Já para o também admirador do cantor, Gabriel Golveia, de 16 anos, Travis não teve culpa no que aconteceu. ''Ele postou um vídeo se pronunciando depois do show, disse que não sabia de nada e estava devastado. Não foi culpa dele, na minha opinião", conta.
Essa, entretanto, não foi a única controvérsia envolvendo as performances do cantor. Mesmo que Scott nunca tenha presenciado uma tragédia de tamanha dimensão, a incitação da baderna nos seus shows já havia recebido diversas críticas. Inclusive, esse é o tema central do seu documentário na rede de streaming Netflix.
Previamente a esse acontecimento, como mostra o documentário, o astro já havia pedido para seus fãs baterem em um garoto que tentou pegar um de seus tênis enquanto o cantor realizava um flashmob. Scott também foi preso, em Chicago, após incentivar seus fãs a invadirem o festival Lollapalooza. Para Gil, as atitudes do cantor o desmotivam de ir a um show. "Não me sentiria seguro no ambiente, não considerando o jeito que o público se comporta".
Golveia tem uma visão diferente, "Tenho muita vontade de ir, até comprei ingresso para o Lollapalooza Brasil em 2020 porque ele era um dos destaques, mas vendi quando mudaram a lineup", conta. O estudante ainda afirma que a baderna durante as performances do cantor é um atrativo para ele "Deve ser uma experiência única", opina. "Não tenho medo de me machucar, acho que os fãs aprenderam depois do Astroworld". Travis Scott tem muitos fãs adolescentes como Golveia e seu nível de influência causa debates acerca do que esses jovens estão adquirindo dessa admiração.
A psicóloga Bharesca Ayres é coautora do artigo "Ídolos e Apoio Emocional: Reflexões sobre a dinâmica do fã adolescente contemporâneo", que discute pontos acerca do papel de uma celebridade idolatrada na vida de um adolescente. Em entrevista, ela afirma que, em um nível patológico, o adolescente não é capaz de distinguir o artista da obra e acaba se inspirando nos atos dele e complementa, "o adolescente, por estar nessa fase de desenvolver a identidade, tem qualquer interferência externa como possível gatilho de consequências negativas para o produto final que é o que ele vai se tornar". Esse contexto, certamente, se torna aliado das críticas quanto à postura do artista, considerando a faixa etária de seus fãs e o seu histórico de ações.