Cássio Starling Carlos, crítico cinematográfico do jornal ‘Folha de São Paulo’, acredita que o cinema independente pode ganhar uma maior audiência por meio da ascensão das plataformas de streaming – também chamadas de VoD. “Festivais menores vão incluir um novo público que antes [da pandemia da Covid-19] limitava-se ao acesso presencial”, diz Starling Carlos.
Filmes que se restringiam a um circuito comercial de baixa visibilidade, ganharam um novo destaque com a sua migração ao VoD. Com isso, os limites geográficos que determinavam o acesso de tais obras já não existem, fazendo com que elas alcancem um público muito maior. “Festivais secundários podem tirar mais proveito, tive a possibilidade de assistir a um pequeno festival italiano que há anos tinha interesse”.
Antes da pandemia, o blockbuster chegava a ocupar tamanho espaço na grade horária que os filmes independes acabavam sendo limitados. Já sobre o atual momento, o crítico afirmou “todos agora estão, de certo modo, no mesmo nível”. Portanto, com a migração ao streaming – ainda que os filmes de apelo popular tenham o maior destaque – a película menos comercial tem mais chance de ser notada.
Carol Moreira, youtuber e apresentadora, ressaltou a possibilidade de descobertas quanto ao cinema estrangeiro por meio do VoD, filmes considerados de um nicho muito específico. “Existem ótimos exemplos de séries de outros países que, em outro contexto, nunca veríamos no Brasil e isso serve também para que vários filmes, que chegam ao alcance do público com muito mais facilidade”, disse Moreira.
Além disso, a apresentadora ainda ressaltou a possibilidade do streaming receber uma maior aceitação após a pandemia por parte de um público mais tradicional e pouco familiarizado com as tecnologias. “Até o Oscar teve que ceder, liberando filmes que estrearam nada mais nas plataformas”, referiu Moreira ao comentar a mudança feita pela Academia, que antes só aceitava filmes com um tempo mínimo de exibição nas salas de cinema.
Quanto ao futuro da indústria cinematográfica, tanto Starling Carlos quanto Moreira dizem que irá se confirmar algo já esperado, a consolidação do streaming e o surgimento de novas plataformas.
Já o professor de multimeios da PUC-SP, Mauro Peron, conta detalhes sobre suas descobertas na pandemia. “A pouco tempo atrás o festival de documentários ‘É Tudo Verdade’, abriu sua plataforma. Ele dificilmente chegaria ao grande público sem o auxílio da internet”, disse o professor, referindo-se, também, questão de filmes de nicho ganharem mais destaque.
Ademais, Peron aborda a questão sobre o fechamento das salas de cinema, ele explica que esse cenário pode se manter por muito tempo. Tais locais acabaram se tornando um ambiente propício à propagação do vírus e mesmo quando a pandemia termine, ele acredita que demorará muito para a ocupação das salas com a mesma frequência de antes.
Ainda assim, os três cinéfilos entrevistados compartilham da visão de que a experiência de ir ao cinema físico é incomparável, ressaltando o fato de que a imersão ao ver um filme em casa é diferente das telonas. “Há uma mística no imaginário daqueles que frequentam o cinema físico. A experiência na tela grande é algo que não se reproduz no ambiente doméstico”, disse Peron.
Saindo do ambiente acadêmico e conhecendo a opinião do público apreciador de cinema, Pedro Ghiotto, estudante de direito, disse concordar com a ideia de Peron. “Quando você está na sala de cinema a experiência é algo totalmente diferente, o ambiente é mais imersivo. Já em casa temos muitas distrações”. Além disso, o futuro advogado acrescentou “é diferente assistir algo pela tela do celular, você capta muito menos os detalhes”.
Por fim, Ghiotto confirmou aquilo que se espera dos cinéfilos. “Eu vou continuar indo ao cinema mesmo depois da pandemia, mesmo que demore um pouco”, declarou o estudante ao valorizar o ato tradicional de se assistir a um filme.
Quanto as plataformas que Ghiotto consome, ele relata ser é cliente da Netflix e Amazon Prime. Também comenta ter tido grande proveito no seu consumo cultural durante sua quarentena, uma vez que se tornou um consumidor mais assíduo por estar sempre em casa. “Assisti muitos filmes e séries, isso ajuda não só a passar o tempo, mas também a ampliar meu conhecimento de mundo”.