Por Felipe Oliveira e Jalile Elias
As plataformas de streaming esportivo estão crescendo cada vez mais no Brasil. De acordo com um levantamento feito neste ano pela Hibou, organização voltada para pesquisas de consumo e tecnologias, sete a cada dez brasileiros têm assinatura em pelo menos uma plataforma de streaming. O que era antes uma limitação para se ter acesso aos jogos de diferentes campeonatos e de ligas estrangeiras, dependendo apenas dos canais fechados, hoje em dia podemos ter o controle do que assistir na “palma das nossas mãos”, em diversos dispositivos como smartphones, tablets e TVs. Desta forma, o ato de torcer e acompanhar seu time de coração ou jogador favorito ficou ainda mais fácil. As plataformas de streaming mais famosas no Brasil e seus preços (valores mensais): Amazon Prime Video (R$14,90), HBO Max (R$34,90), Star Plus (R$32,90), Paramount Plus (R$19,90) e DAZN (R$34,90).
Primeiramente, é importante analisar possíveis diferenças entre transmissões televisivas e de streaming, visando entender as vantagens e desvantagens que cada uma pode trazer para o público. De acordo com Bruno Maia, CEO da Feel The Match, desenvolvedora de propriedades intelectuais voltada para streaming e blockchain, e executivo de inovação e novas tecnologias no esporte e entretenimento, uma das únicas diferenças impactantes aos telespectadores é o meio de transmissão, já que é necessário uma conexão com a internet para consumir um streaming, diferentemente dos canais de televisão. "A diferença entre o streaming para TV é o meio onde ela é feita e as características inerentes ao meio. Naturalmente, a TV se transmite via satélite, para streaming você transmite via dados, então você precisa ter algumas questões técnicas de estrutura com alguma diferença. Antigamente você tinha uma unidade móvel e vendo sinal por um satélite, hoje você precisa ter uma conexão ligada a uma estrutura de internet para poder transmitir o sinal".
Em contrapartida, para os profissionais da área há uma grande diferença na roteirização e, consequentemente, na comunicação com o telespectador, que pode ser feita de maneira mais livre e informal. Com isso, é gerada uma aproximação entre quem transmite determinado conteúdo e quem o assiste. Jordana Araújo, repórter da BandNews FM e do canal do Paulistão no YouTube, comentou que a diferença mais clara é justamente a leveza e criação de novas possibilidades dentro da transmissão. "Acho que a primeira e mais perceptível diferença é a leveza. O compromisso com a informação está presente na transmissão, mas a forma como ela é levada a quem está consumindo o streaming é diferente. As possibilidades no âmbito da liberdade de poder criar durante o ao vivo é uma outra coisa legal. A roteirização também passa por algumas mudanças técnicas que permitem interações mais livres e mais espaço para o público que acompanha também com enquetes e comentários", diz Jordana.
O streaming pode ser caracterizado como uma transmissão de vídeo ou áudio on demand (sob demanda), mas visando as partidas desportivas que não têm essa propriedade - já que tem hora para acontecer -, os assinantes da plataforma optam por assistir as transmissões ao vivo. Bruno Maia diz que o esporte pode ser considerado como uma linguagem nativa do streaming que se coloca como meio de transmissão e aumentando seu engajamento. "Eu entendo o esporte como uma linguagem nativa de streaming, mas se pluga como um meio de transmissão. Quando ele encontra esse meio de transmissão, ele está encontrando canais fechados. É assim que a NBA começa com o seu AT&T, então o canal tem como foco transmitir basquete para quem gosta, e às vezes com dez tipos de transmissões diferentes de um mesmo jogo. As pessoas querendo escolher qualquer esporte e tendo ferramentas para viverem mais aquilo, certamente faz com que a qualidade e quantidade do consumo dela seja maior. Eu acho que o esporte se beneficia sim com esses usuários".
Outro debate diante das características dos streamings e os possíveis benefícios em relação às transmissões televisivas está no fato de que para consumir um streaming, é necessário, na grande maioria, uma assinatura. Logo, será que é de fato para todo mundo ou essas plataformas acabam criando uma ‘elitização’ no público? Bruno Maia acredita que o streaming cria uma reflexão sobre as escolhas feitas pela sociedade e que por ser um produto mais customizado e, claro, mais caro que a comunicação de massa, acaba sendo elitista como um efeito, não como a causa.
"O streaming não cria nada, o streaming reflete. Reflete uma sociedade de nicho, onde a gente cada vez tem mais acesso à informação, mais capacidade de curar o que a gente gosta, o que a gente não gosta, em todos os nossos níveis de consumo. Ele é um espelho disso materializado em transmissão de conteúdo. O outro ponto é você pagar e poder ver o que você quer na hora que você quer. Esse poder de consumo não chega para todo mundo, nem todo mundo pode escolher o que vai ver, nem sequer tem tempo para isso. Eu acho que o streaming não é causa, o streaming é mais uma das milhares de consequências de produtos contemporâneos de uma sociedade altamente conectada, com alto poder de customização de hábitos e de consumo, sendo naturalmente mais cara do que a comunicação de massa. O efeito no final do dia, sim, é mais elitista em algum sentido porque quem pode pagar para um posto produto customizado, naturalmente é quem tem mais tempo para poder customizar seu tempo, para quem tem mais dinheiro para poder gastar com isso. Então acaba gerando isso como efeito, mas eu não acho que isso é causa", afirma o CEO da Feel the Match.
Um dos principais objetivos dos streamings é prender a atenção de seus telespectadores e satisfazê-los. Para isso, as plataformas usam uma série de estratégias para assegurar e aumentar sua audiência. Bruno conta que a precisão do que deve ser dito é crucial para cativar ainda mais quem está em frente à tela. Ele também afirma que se contenta com isso. "O streaming é uma plataforma que de fato o telespectador tem que escolher ver você. A sua precisão no que está contando tem que ser muito maior. A pessoa está o tempo todo meio que te avaliando para ver se continua ali, porque ao contrário da TV - que o programa que está passando aqui e agora - ele tem dezenas de opções naquela mesma hora para ver. No consultório eu cadencio, dou ritmo, ponho muito detalhe, muita gordura na informação para causar um impacto. E isso me dá prazer, como profissional eu sei que estou ali manipulando a linguagem também. Quanto coloco uma série no ar na qual a pessoa fala, 'não consigo levantar pra beber água', isso me traz prazer", conclui.