Por Lidiane Miotta
A Internet se transformou na espinha dorsal da modernidade, uma necessidade indiscutível que passou ressignificar tudo ao nosso redor. Contudo, para fazer parte dessa nova organização da sociedade é necessário ter equipamentos como celulares, computadores e tablets, e do serviço da Internet. Mas com uma desigualdade social tão grande como é o caso brasileiro, em que as pessoas têm dificuldade até de comprar comida, a desigualdade também chegou ao nível digital, passando a excluir e dificultar os indivíduos de participarem da vida virtual que se tornou tão importante no nosso cotidiano e passou a intervir em coisas essenciais para os brasileiros, principalmente nesse momento de pandemia, como a busca de emprego e o recebimento do auxílio emergencial por conta digital na Caixa Econômica Federal.
A último pesquisa do PNAD, realizada em 2019 e divulgada nesse ano pelo IBGE revela que 21,7% da população brasileira não tem Internet, isso é 39,8 milhões de pessoas não utilizam a rede mundial, e que o rendimento médio dos domicílios com Internet era de R$ 1.557, enquanto para os que não têm Internet é de apenas R$728. Quando perguntados pelo motivo de não utilizarem a Internet, um dos mais alegados no estudo, é que o serviço ou equipamentos eletrônicos são muito caros (18%).
Apesar disso, a desigualdade digital apresenta um novo elemento, que a desigualdade social não tem: ela não exclui só aqueles que não têm dinheiro, ela também exclui aqueles que por algum motivo não aprenderam a usar equipamentos, ou seja, não são alfabetizados digitais, que têm dificuldades ou que não têm interesse em utilizá-los. O número de pessoas que entram nessa categoria é 75,4% de acordo com a pesquisa do PNAD, e isso faz desses os motivos mais apontados como razão a não utilização da Internet, a não ser entre os estudantes.
A partir desse ponto o estudo demonstra que entre os estudantes e não estudantes os números têm uma grande diferença. Entre os estudantes a porcentagem de pessoas que utilizam a Internet chega a 88,1%, enquanto as dos não estudantes é de 75,8%, e o motivo de não saber usar a rede mundial é de apenas 16% entre os estudantes, enquanto entre os não estudantes é de 47,2%. A diferença porcentual dos motivos de não fazer uso da Internet também se torna grande: entre os não estudantes os principais motivo é não saber usar a Internet (47,2%) e não ter interesse em utilizá-la (33,1%). Enquanto entre os estudantes os principais motivos são o serviço de Internet ser caro (26,1%) e o custo alto dos equipamentos necessários (19,3%).
Quando entramos a fundo nesses aspectos percebesse que entre os estudantes a condição econômica ganha mais importância na desigualdade digital, reproduzindo a conhecida desigualdade social brasileira, pois entre estudantes da rede pública o uso da Internet é de 83,7%, mas nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil esse número chega a apenas 64,4% e 77%, enquanto nas outras regiões varia entre 88,6% e 91,3%. Entretanto entre os estudantes da rede de ensino privada a de Internet fica acima de 95% em todas as regiões do Brasil e quase atinge a totalidade nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Dessa forma o estudo concluí que 95,9% dos estudantes que não tem acesso à Internet são da rede pública de ensino, resultado que foi escancarado durante a pandemia da Covid-19, onde o ensino teve que se tornar remoto e consequentemente muitos desses estudantes foram excluídos dos estudos por não terem como fazerem uso da rede mundial de computadores.