A PerifaCon retornou ao modelo presencial neste domingo (31) após dois anos de paralisação por conta da pandemia de Covid-19. O evento, considerado a primeira convenção de cultura nerd da favela, tem objetivo aproximar o universo geek dos fãs que moram na periferia. A PerifaCon foi gratuita e cerca de 10 mil pessoas compareceram à Fábrica de Cultura da Brasilândia.
Andreza Delgado, uma das organizadoras da convenção, afirmou: “Para nós, é muito importante voltar com nosso evento físico da PerifaCon porque, além de tudo, a periferia e o setor da cultura foram uns dos que mais sofreram com a ausência de políticas públicas e de um olhar mais humanizado para o morador da favela, essa retomada também é um movimento para reafirmar nosso compromisso com a democratização da cultura nerd, geek e de favela”.
O evento contou com diversos espaços, desde painéis de convidados até praça de alimentação. Confira as principais atrações:
Auditório: Local reservado para a apresentação dos painéis. Nomes como Globoplay (Encantado’s), Warner Bros, Nubank, Maurício de Sousa Produções (MSP), Copa Studio (Irmão do Jorel) e Chartrone (Menino Maluquinho) realizaram palestras e apresentaram seus novos trabalhos.
Lojas e editoras: Espaço teve marcas como Lab Fantasma, Companhia das Letras, LiteraRua, entre outros, vendendo seus produtos.
Palco externo: No palco ocorreram bate-papos com personalidades, concurso de cosplay e shows de: Febem, Rincon Sapiência e Bivolt.
Galeria PerifaCon: Local reservado à exposição de artes visuais. Estavam expostos as coleções: "Rap em Quadrinhos", "Novos Modernista" e "Quebradinha".
Beco dos artistas: Coração das convenções de cultura pop, o espaço é onde artistas podem, além de vender suas obras, encontrar, conversar e converter fãs.
O ilustrador e quadrinista Sidnei Junior, popularmente conhecido como Saudade, 26 anos, foi um dos artistas do Beco em entrevista a AGEMT declarou: "É meu primeiro evento, e 'colar' justamente na PerifaCon está sendo um ambiente de troca. Aqui, todo mundo é de quebrada e a gente troca bastante sobre como é 'trampar' com a arte. Para mim, é um imenso privilégio".
Saudade comentou sobre como ser periférico é uma identidade que muitas vezes também precisa ser descoberta e entendida. "Eu comecei a me conectar com a quebrada um pouco tarde. Minha família me criou muito do portão para dentro, então foi na faculdade e no trabalho que me despertei nesse sentido, até culminar nas 'Crônicas dos Mandrakes'".
"Crônicas dos Mandrakes", seu novo projeto, ainda está em desenvolvimento e é possível acompanhar a produção pelo perfil no Instagram @o_homem_saudade.
Esse formato de evento é importante para a representatividade de fãs apaixonados pelo mundo geek que se veem impossibilitados de acessar muitos lugares desse universo, por conta dos altos preços dos ingressos. É o que comenta o fã e cosplayer Ricardo Kamikasi: "Como fã, estar em um evento como esse, que agrega pessoas que muitas vezes não têm acesso a esse tipo de cultura e de comercialização, é sensacional. Não é todo mundo que tem acesso e só Deus sabe como eu consigo me 'virar nos trinta' para consumir esse tipo de informação e cultura, que estão sendo compartilhadas nesse evento maravilhoso."
Um dos grandes nomes do meio, Løad Comics, um multi-artista da Cidade Tiradentes, extremo leste de São Paulo, em entrevista para AGEMT celebra como a PerifaCon coloca a periferia como produtora e protagonista, para além de consumidora. "Esse é o mais louco para mim, porque tudo o que a gente vê é a galera de quebrada que fabrica, que distribui e que vende. E nas artes daqui você vê essas pessoas representadas, então acho muito massa que a gente sai daquela coisa enlatada americana, de só se falar de Marvel e DC".
Løad compartilha com a AGEMT suas expectativas para as próximas edições: "Espero que seja todo ano e que seja sábado e domingo. Só um dia dá uma saudade no coração e dois dias daria tempo da galera de outras cidades e outros Estados chegarem. E quero que cresça cada vez mais, que chegue no nível de ter não só em São Paulo, mas também no Rio de Janeiro, na Bahia, e em mais Estados. Periferia é periferia em qualquer lugar".