Ser reconhecido pelo país e bem remunerado pelo seu talento é o sonho de muitos. Mas, para viver de esporte no Brasil, é preciso muita perseverança e um pouco de sorte. Além, da falta de investimento e políticas públicas para fomentar o meio esportivo nacional, o número de atletas na NBB é restrito. São apenas 17 equipes que disputam o título de melhor time de basquete contando com, em média, 15 atletas em seu plantel cada uma.
Antes de alcançar a limitada lista de jogadores do NBB, é preciso passar pelas categorias de base e assim tentar uma vaga no time profissional. Nicolas Ronsini, natural de São Bernardo, embarcou nessa jornada para viver do esporte: “Sempre fui um amante do esporte, desde pequeno meus pais sempre me incentivaram a praticar algum esporte, quando eu tinha por volta de quatro anos de idade, minha mãe me colocou no futsal, fiz alguns anos de escolinha, também pratiquei natação, xadrez, judô, todos os esportes que minha escola podia proporcionar. Sempre gostei de jogar, me dava bem na maioria das modalidades e, quando tinha nove anos, tive meu primeiro contato com o basquete, na escola”, explica o ex-atleta.
Depois de um convite de sua professora de educação física e treinadora do time de basquete do São Bernardo, Nicolas começou a fazer parte da equipe, onde aprendeu e desenvolveu os requisitos básicos para a modalidade como passes, bandejas e arremessos. Após anos de treinamento e conhecendo mais a parte interna do clube, Nicolas percebeu que não concordava com todas as decisões dos dirigentes da equipe. Desanimado com o desencontro de valores entre ele e seu time, o até então menino de 15 anos, pensou em abandonar a modalidade. Antes que isso fosse possível, ele teve um encontro despretensioso com o técnico recém contratado para comandar a equipe sub-16 do Palmeiras ao ir treinar sozinho em um parque público. No encontro, ele foi convidado para participar da peneira da equipe: “joguei um pouco com todos e ele me convidou para um peneira, no próximo ano, no Palmeiras. Depois dos testes, fui aprovado e comecei a reparar na mudança de estrutura e mentalidade do Palmeiras, o que me motivou ainda mais a querer ser um jogador profissional”.
A mudança de ânimos foi instantânea para Nicolas. Mesmo recebendo apenas uma ajuda de custo do clube no valor de R$ 100,00 e tendo que fazer o trajeto de São Bernardo até o bairro da Pompéia em São Paulo todos os dias, ele estava motivado e via o basquete como seu futuro profissional. Entretanto, a modalidade não é unanimidade no país e por questões políticas dentro do clube, o Palmeiras deixava de ter um time de basquete no NBB. “Palmeiras não tinha mais um time no NBB, me fazendo questionar se eu ficava na equipe, procurava um outro local com time profissional, porque eu tinha só mais 2 ou 3 anos de base e precisava achar um clube para continuar. Eu escolhi ficar no Palmeiras, por conta da estrutura, treino, motivação, etc. Tive propostas para deixar o clube e ir para um local com equipe profissional estável, mas apostei no projeto do clube”, disse Nicolas. A aposta deu certo, aos 17 anos ele foi convocado para a seleção de base brasileira da sua categoria.
Depois de uma conquista, volta a insegurança e falta de estabilidade que os jogadores e jogadoras do país passam na tentativa de realizarem seus sonhos: “O meu último ano de base, com 18 anos, obviamente bate a insegurança , o Palmeiras não tinha uma equipe principal, então não existia uma transição (...) No final do ano veio a proposta do Corinthians, para jogar profissionalmente na Liga Ouro (Divisão de acesso para o NBB), não pensei duas vezes em aceitar a proposta. Recebia um salário de mil reais por mês e ajuda de custos como comida e roupas do time.” lembra Nicolas.
Em seu segundo ano, sem muito espaço no time e sendo o terceiro armador da equipe, o Corinthians decidiu por não renovar seu contrato. Nicolas ainda não tinha se dado por vencido e continuou em busca de seu sonho, agora jogando pela Unifacisa de Campina Grande: “O técnico da equipe foi meu técnico no primeiro ano de base no Palmeiras. Durante a temporada, que foi difícil pela distância da família e amigos, não tive o tempo de quadra que achava justo pelo meu desempenho e acumulei algumas pequenas lesões, o que me fez questionar cada vez mais minha carreira no basquete”. Com 22 anos, algumas lesões na bagagem e somado com o início da pandemia, o jovem atleta decidiu encerrar de vez sua carreira, buscando outros caminhos profissionais.
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A história de Yago Mateus foi diferente. Jogador natural de Tupã, ele também atravessou o árduo caminho pelas categorias de base do basquete e, aos 13 anos, fazia parte da equipe de base do Palmeiras: “Comecei a jogar basquete por influência do meu irmão mais velho, depois de alguns anos jogando por campeonatos menores o Palmeiras me fez um convite para jogar base e aceitei na hora. O clube me dava uma ajuda de custos e me mudei para São Paulo com essa idade. A estrutura do Palmeiras comparada ao que eu tinha era surreal”, disse ele. Quando o Palmeiras tinha decidido não ter mais uma equipe na NBB, Yago mudou de clube: “Em 2016 mudei pro Paulistano, recebi uma oferta salarial melhor e o clube tinha uma equipe disputando o campeonato do NBB, algo que o Palmeiras não podia me oferecer no momento e pesou muito na decisão de mudar”, lembra o jogador.
Alguns anos após ingressar no Paulistano, Yago teve sua primeira convocação para a seleção principal do Brasil, o que lhe abriu portas e a chegada de novos interessados em sua contratação: “Já em 2020, depois de algumas conversas com equipes do Brasil e de fora, aceitei a oferta do Flamengo e virei jogador do time, foi uma realização enorme, o Flamengo tem um dos melhores times do campeonato e uma estrutura sem igual no Brasil”.
A partir daí, a carreira do atleta teve passos positivos e apesar da insegurança e medo da instabilidade da categoria, Yago se recusou a desistir de sua aspiração. Hoje, atleta do ULM da Alemanha, ele olha para trás com orgulho das decisões que tomou: “Óbvio que existe a insegurança da mudança, em confiar em você, aceitar os desafios, porém, acredito que acertei nas decisões e agora posso dizer que estou estabilizado como atleta profissional. No ULM, outra decisão difícil de ser tomada, mas que agora sei que foi totalmente certa(...). O basquete me abriu portas que eu jamais conseguiria de outra forma na vida”, conta o atleta.
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