O rapper e empresário Sean John Combs, 54, foi preso no dia 16 de setembro em Nova York. Ele é acusado de violência física, tráfico e agressão sexual e ainda, transporte para fins de prostituição, crimes que teriam ocorrido desde a década de 1990. Após três pedidos de fiança negados, o caso foi a julgamento na quarta-feira (09), e a justiça decidiu que ele responderá o restante do processo na prisão, marcando seu julgamento definitivo para maio de 2025.
Diddy está atualmente detido no Metropolitan Detention Center no Brooklyn, uma prisão federal conhecida por sua violência e cuidados precários com os presos; fato utilizado pela defesa para a concessão de fiança. O presídio inclui uma seção de segurança extra com alojamentos reservados para detentos especiais, onde o acusado se encontra.
Quem é o réu?
Dono da gravadora Bad Boy Records, Combs tem diversos codinomes, todos citados no processo: Puff Daddy, P. Diddy, Diddy, P.D e Love. Além de ter empreendimentos no ramo da moda e de bebidas alcoólicas, também é conhecido por produzir artistas de peso como Usher, Mary J. Blige e Notorious BIG.
Diddy começou sua carreira musical em 1990, na Uptown Records, onde se destacou e se tornou diretor da empresa. Em 1994, fundou sua própria gravadora, a Bad Boy Records, ganhando o Grammy de melhor álbum de rap em 1997.
No começo dos anos 2000, o acusado era responsável por dar festas (freak-offs), nas quais cometia atos sexuais forçados com as vítimas e profissionais do sexo, além de produzir gravações que eram usadas como chantagem.
Quem são os envolvidos?
A cantora e modelo, Casandra Ventura, ex-namorada de P.Diddy, foi a primeira a acusar o réu de agressão sexual, também alegou no processo que muitos desses crimes foram testemunhados por sua "rede tremendamente leal" que "não estava disposta a fazer nada significativo" para impedir a violência.
A acusação ocorreu formalmente, no final de 2023 e o processo foi resolvido fora do tribunal. Após a repercussão desse caso, outros vieram a público. Em fevereiro deste ano, Rodney “Lil Rod” Jones, antigo produtor e cinegrafista de Combs, entrou com uma ação federal, acusando o rapper de assédio sexual, ameaça e de o ter drogado.
Em abril, Jones acrescentou como agressor o ator Cuba Gooding Jr, que segundo o processo também teria assediado e agredido a vítima; Diddy teria apresentado Jones ao ator em um iate, que foi réu em um caso de estupro em 2023. Também em setembro, Thalia Graves acusou P.Diddy e seu segurança de tê-la drogado e estuprado em 2001, além de gravarem o ato. Essa foi a 11° acusação contra o músico.
De acordo com o jornal “Los Angeles Times”, a lista de cúmplices apontados no caso de Jones, inclui o filho de Combs, Justin Dior Combs, o presidente-executivo do Universal Music Group, Lucian Charles Grainge, UMG, o ex-executivo da Motown Records, Habtemariam e Motown Records, Love Records, Combs Global Enterprises, ABC Corporations, a chefe de gabinete de Diddy, Kristina “KK” Khorram, e outras pessoas que não foram identificadas.
Em uma entrevista ao TMZ na semana passada (7), o advogado Tony Buzbee, que está representando cento e vinte pessoas que alegam terem sido vítimas de Diddy e já manifestaram suas denúncias, declarou que entre elas, vinte e cinco comunicaram ser menores de idade na época do crime. A defesa nega as acusações e declara estar à espera das provas.
Nesta segunda-feira (14), seis novas acusações de abuso sexual foram protocoladas contra o artista, entre as vítimas estão homens, mulheres e até um adolescente que teria 16 anos na época do crime (1998). Os denunciantes estão orientados pelo Buzbee, que assegura que outras celebridades serão processadas por seu escritório de advocacia nas próximas semanas, acusadas de serem cúmplices do rapper.
Cronologia do caso
Ventura também assinou com a gravadora de Combs, e em seu processo disse que o magnata usou sua posição de poder para estabelecer um "relacionamento romântico e sexual manipulador e coercitivo". Também é alegado que Diddy "regularmente batia e chutava Ventura, deixando olhos roxos, hematomas e sangue".
Algumas destas agressões foram testemunhadas por outras pessoas, em maio deste ano, um vídeo dele a agredindo veio a público pelo jornal CNN. Quando um membro da equipe de segurança do hotel interveio, o réu tentou subornar o funcionário para garantir o seu silêncio.
Nos meses de novembro e dezembro, o réu foi acusado mais três vezes por crimes como agressão sexual, estupro coletivo, tráfico sexual e drogar as vítimas. Liza Gardner, afirmou que Combs tornou-se violento dias após o estupro, sufocando-a com tanta força que ela desmaiou.
Os nomes citados no processo de Jane Doe, incluem além de Combs, o ex-presidente da Bad Boy Records, Harve Pierre, e um homem ainda não identificado. Nos documentos do tribunal, ela alega ter recebido "quantidades copiosas de drogas e álcool" antes do ataque e ficou com tanta dor que mal conseguia ficar de pé ou lembrar como chegou em casa.
Todos os processos judiciais ocorreram antes da expiração do New York Adult Survivors Act, permitindo temporariamente que pessoas que teriam sofrido abuso sexual apresentassem queixas, mesmo após o prazo de prescrição ter expirado.
Em dezembro, os acusados se pronunciaram em resposta, o rapper disse que "não fez nenhuma das coisas horríveis que estão sendo alegadas", enquanto Pierre disse que as "alegações repugnantes" eram "falsas e uma tentativa desesperada de ganho financeiro". Combs também fez uma publicação em seu Instagram, repudiando todos os casos: "Nas últimas semanas, fiquei sentado em silêncio e observei pessoas tentando assassinar meu caráter, destruir minha reputação e meu legado."
Após oito meses, surgiram outros processos, dessa vez da Crystal McKinney, Adria English e April Lampros, os crimes são os mesmos e seguem as mesmas características: agressão sexual, tráfico sexual e uso forçado de drogas contra as vítimas.
No mês de sua prisão, Combs não compareceu a uma audiência virtual para um processo movido contra ele por Derrick Lee Cardello-Smith, um detento de Michigan que o acusou de drogá-lo e abusá-lo sexualmente. A ausência levou a um julgamento, no qual Diddy foi condenado a pagar US$100 milhões. A decisão foi posteriormente anulada, após os advogados do músico terem entrado com um recurso. Ainda em setembro, Dawn Richard, ex-cantora do projeto de banda feminina de Combs, entrou com uma ação contra a estrela sobre agressão sexual.
A prisão
O rapper foi preso no dia 16 de setembro, em um quarto de hotel em Manhattan após uma acusação do grande júri. Essa prisão veio depois das várias ações judiciais de agressão sexual contra ele nos últimos meses. Além disso, em março, o Departamento de Segurança Interna já tinha feito buscas nas mansões dele em Los Angeles e Miami.
Seu advogado afirmou que houve cooperação com as autoridades quando seu cliente se mudou voluntariamente para Nova York em antecipação às acusações. "Esses são os atos de um homem inocente sem nada a esconder, e ele está ansioso para limpar seu nome no tribunal", acrescentou.
Além das acusações já anteriormente citadas no processo divulgado pelo jornal Washington Post, (agressão sexual, tráfico sexual, extorsão e transporte de pessoas para a prostituição) Combs também é réu nos casos de sequestro, trabalho forçado, incêndio criminoso, suborno e obstrução da justiça. Os promotores o descreveram como o chefe de uma quadrilha que abusava de mulheres, usando ameaças de violência para forçá-las a participar de orgias movidas a drogas com profissionais do sexo.
O texto também cita que P.Diddy tinha funcionários que foram cúmplices de seus crimes e o ajudaram a cobrir seus rastros. Entre suas ações estavam a reserva de suítes de hotel, recrutamento de profissionais do sexo e distribuição de drogas, para coagir os frequentadores da festa a fazer sexo e mantê-los "obedientes". Sua equipe também teria providenciado viagens para as vítimas e organizado o fornecimento de fluidos intravenosos para ajudá-las a se recuperar das festas, que às vezes duravam dias.
Seus advogados tentaram com que ele respondesse em liberdade, porém ele teve a fiança negada depois que os promotores argumentaram que "já havia tentado obstruir a investigação, contatando repetidamente vítimas e testemunhas e alimentando-as com falsas narrativas dos eventos". Ele ficará detido no Centro de Detenção Metropolitana do Brooklyn até seu julgamento, caso seja condenado, o músico pode pegar uma pena que vai de 15 anos até prisão perpétua.
O que foi encontrado pela polícia na residência de Diddy?
Em março de 2024, durante buscas em suas residências em Miami, Califórnia, Flórida e Los Angeles, a polícia apreendeu armas de fogo e munições, incluindo três AR-15s com números de série desfigurados e mais de mil frascos de óleo de bebê. De acordo com o processo movido contra o músico, os membros e associados da Combs Enterprise, incluindo os profissionais de segurança, por vezes carregavam armas de fogo. Em mais de uma ocasião, o próprio Combs carregou ou brandiu armas de fogo para intimidar e ameaçar outras pessoas, incluindo testemunhas de seus abusos.
Apesar da citação do uso de funcionários para facilitar e encobrir seus crimes, apenas o rapper tem o nome citado em todo o caso. Segundo o jornal The New York Times, ao ser questionado sobre o assunto, o procurador Damien Willians disse que as investigações ainda estão em andamento. Anthony Capozzolo, ex-promotor federal no Brooklyn, falou que era possível que alguns desses trabalhadores não fossem nomeados como réus porque já eram testemunhas cooperantes, ou porque o governo esperava que eles fossem convencidos pela acusação a se juntar a outros para testemunhar contra seu chefe.
O que diz o processo?
É descrito que o réu usou de sua rede de empresas para cometer seus crimes e manter sua reputação. De acordo com o Art.2 seus negócios incluem gravadoras, um estúdio de gravação, uma linha de roupas, um negócio de bebidas alcoólicas, uma agência de marketing, uma rede de televisão e uma empresa de mídia, com sedes em Manhattan e Los Angeles. Também é citado que Combs garantiu a participação das mulheres, controlando suas carreiras, aumentando seu apoio financeiro e/ou ameaçando cortar o mesmo, além de usar de intimidação e violência para garantir o silêncio delas.
Em ocasiões que se estendem desde de 2009, o rapper agrediu mulheres com golpes, socos e chutes. O Grande Júri acusa ainda: que de 2009 até 2024, no Distrito Sul de Nova York e em outros lugares, o réu, conscientemente transportou mulheres em comércio interestadual e estrangeiro com o objetivo de prostituição.
Segundo descrito no processo dos Art 18 a 21, como resultado do réu ter cometido os crimes citados na ação judicial, ele perderá para os Estados Unidos toda e qualquer propriedade, usada para cometer os delitos ou conseguidos através dele, incluindo quantias em dinheiro, títulos e direitos contratuais. Caso algum desses bens não possa ser confiscado, será apreendido outro de mesmo valor.
O documento é assinado pelo procurador dos Estados Unidos, Damian Williams, que também foi o responsável pela acusação contra a Ghislaine Maxwell, condenada a 20 anos de prisão por recrutar e assediar meninas e mulheres para serem abusadas sexualmente pelo empresário Jeffrey Epstein, morto em 2019.
Próximos passos
Na quinta-feira (10), ocorreu em Nova York uma audiência preliminar do processo federal. A acusação mostrou provas contra o réu e o juiz decidiu que P Diddy deve permanecer na prisão até dia 5 de maio de 2025, data em que ocorrerá seu julgamento.
De acordo com os advogados, a busca e apreensão feita na casa do artista teria sido realizada para “maximizar a exposição da mídia”. A defesa também declarou que os vazamentos de informações, como o vídeo em que o réu agride Ventura, têm como objetivo "desestabilizar o tribunal" e "manchar a reputação de Sr. Combs antes do julgamento". Com base nesses argumentos, foi feito um pedido para que as investigações sejam realizadas em sigilo judicial, o que foi aceito.