Com mais de 28 mil candidatos, a eleição de 2022 surpreende o eleitorado e contradiz uma tendência histórica de baixa participação de candidatos negros e pardos, neste pleito 49,49% dos pré-candidatos são negros. Autodeclarados, eles agora são maioria nas atuais eleições. A porcentagem supera os 48,86% de brancos também candidatos. Fato, até então, atípico no sistema eleitoral brasileiro, estabelece o ano de 2022 como a primeira eleição do país com números expressivos.
De acordo com os dados divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), registraram-se nas eleições deste ano ,14.015 negros e 13.814 brancos. O levantamento se diferencia de eleições passadas como a de 2018, em que negros somavam 46% dos candidatos e apenas três deles concorriam à presidência, Marina Silva (Rede), Cabo Daciolo (Patriota) e a candidata Vera Lúcia (PSTU). Somente três autodeclarados negros de um total de 13 políticos competiam pelo cargo.
Em comparação a 2014, a participação de pessoas negras foi ainda menor no quesito percentual. De cada quatro eleitos, três eram brancos. Apenas 3% dos eleitos se autodeclararam negros no ano do pleito de 2014 Dados como estes comprovam a baixa diversidade social nas eleições do país.
Além da questão racial, que avança lentamente, também houve uma melhora na quota de participação de mulheres concorrendo a cargos de poder. Juntas, elas representam um terço do total das candidaturas, sendo mais de 9 mil concorrentes às eleições de outubro. Dentre elas, 175 são candidatas indígenas. Nas últimas eleições, foram apenas 134. Já as mulheres negras somam um total de 4.890.
Em termos de visibilidade negra, atualmente disputam ao cargo dois candidatos pretos, Leonardo Péricles, pré-candidato a presidência pelo partido Unidade Popular (UP) e Vera Lúcia pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Esta será a primeira vez que Péricles concorre ao cargo, já Vera Lúcia é veterana, a pernambucana concorreu ao cargo também em 2018.
Contudo, mesmo que atualmente candidatos negros sejam a maioria, eles estão longe de estarem livres da discriminação que candidatos brancos estão imunes. Recentemente, o pré-candidato a presidência pelo partido Unidade Popular, Leonardo Péricles, vem sofrendo ataques racistas por parte do eleitorado branco. O mineiro que iniciou sua trajetória política no movimento estudantil, tem sido alvo de mensagens com teor racista nas redes sociais direcionadas a sua pessoa e a sua campanha. O candidato, autodeclarado preto, recebeu sérias ofensas que também insultam a comunidade negra como um todo.
“(...) tua raça tem em média 55-80 de QI e também possui uma altíssima propensão para a violência. A raça preta deveria ser expulsa das cidades e empurrada de volta para a selva, um lugar de onde nunca deveriam ter saído”, escreveu um dos internautas. Outros perfis também cometeram injúrias parecidas.
Os ataques sofridos por Leonardo Péricles reafirmam como a sociedade brasileira não está familiarizada a cenários em que pessoas negras ocupem cargos de poder. Apesar das dificuldades que também enfrentam no meio político, a conquista histórica de 2022 não deixa de ser uma vitória para futuros candidatos negros. Embora o manto da “democracia racial” ainda não tenha sido destruído, 49,49% pode se ser considerado um feito e tanto.