Parada LGBTQIA+: ato de resistência

por
Júlia Takahashi
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29/06/2022 - 12h

Por Júlia Takahashi

Entre sorrisos e braços ao redor do mundo, a comunidade LGBTQIA + celebra o mês do orgulho em Junho. Em São Paulo, no domingo, dia 19, a 26° parada reuniu mais de 4 milhões de pessoas, segundo as informações publicadas pelo Observatório do Turismo da Prefeitura de São Paulo e da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, levantando suas bandeiras e resistindo ao preconceito. Essa manifestação é carregada de história e resistência às violências que a sociedade faz contra a comunidade, sendo marco inicial a rebelião de Stonewall.

No ano de 1969, alguns estados norte americanos derrubavam a lei que criminaliza relações entre pessoas do mesmo sexo, porém o estado de Nova York era inflexível a essa decisão. Consequentemente, o preconceito contra homossexuais era visto como normal, e foi no dia 28 de junho daquele ano, que a polícia novaiorquina invadiu um dos bares mais badalados em que a população LGBTQIA + se encontrava, o Stonewall Inn, localizado em Greenwich Village, na época era um dos únicos lugares de aceitação livre à comunidade. A justificativa pela invasão era de “violação do estatuto de vestuário”, uma vez que era exigido por lei que as pessoas usassem pelo menos três “roupas apropriadas para o seu sexo”.

Toda essa violência levou a população a olhar o preconceito existente a essa parte da sociedade com outros olhos, centenas de pessoas passaram a protestar contra a perseguição policial aos homossexuais e lutar a favor dos direitos LGBTQIA +. Desta forma, um ano depois, no dia 27 de junho, ocorreu a primeira parada do orgulho gay, chamada de CSD, Christopher Street Day (Dia da Rua Cristopher) em memória a rua que o bar era localizado. No mesmo ano, ocorreu uma parada com os mesmos princípios em Los Angeles e com o tempo as marchas começaram a se propagar por outras cidades dos Estados Unidos e pelo mundo.

No Brasil, em 1997 ocorreram as primeiras paradas do orgulho, uma na paulista e outra em Copacabana, porém três anos depois o evento em São Paulo crescia gradativamente e atraiu muitos participantes ao redor do país. No mesmo ano, foi criada a Associação da Parada do Orgulho GLBT, que hoje recebe o nome de Associação da Parada do Orgulho LGBT, o qual é responsável por administrar o evento. O escritor e militante João Silvério Trevisan, em um artigo publicado na revista Sui Generis, comenta sobre a parada de 1999 no Brasil, destacando o apoio que o evento teve explicitamente de empresas e marcas.

“Numa Cultura onde tudo passa pela estatística, reunir 20 mil pessoas é uma façanha respeitável. E aí está o grande sentido político da parada: a afirmação de que existimos, gostem ou não somos milagres. Vencemos o nosso pior inimigo, a invisibilidade, e afirmamos nossa existência (...) Políticos conservadores, religiosos fundamentalista e homofóbicos em geral, que insultavam gente anônima, agora terão que se defrontar com uma multidão de homossexuais com rosto e identidade”.

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal - STF decidiu criminalizar a homofobia e a transfobia, enquadrando-as como crime de racismo no Brasil. A descrição sobre racismo no país deve ser entendida como uma construção histórica, da qual procura justiça devido às situações de desigualdade, dominação política e subjugação social dos grupos mais vulneráveis e que a LGBTfobia se encaixa nessa declaração. Essa decisão é uma reivindicação histórica ao movimento, principalmente durante o governo de Jair Bolsonaro que criticou a ação e, ao longo da sua vida política, inviabilizou e menosprezou a comunidade LGBTQIA +.

A realização da parada e a construção de espaços da comunidade é resistir a esse preconceito histórico e lutar pela própria existência. A advogada, militante lésbica e cofundadora da Rede Feminista de Juristas, Marina Ganzarolli, comenta para o Jornal Nexo que mesmo a parada ser “despolitizada, comercial, turística, gay, masculina, cis e branca”, ela tem sua importância de visibilidade, destacando que são nesses eventos de diversão, que é lembrado a existentência da comunidade LGBTQIA+ e da suas lutas pelos direitos reconhecidos, como de todos na sociedade, “são espaços de ação e organização política”.

 

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