Os esportes praticados na terra do “Tio Sam” têm ganhado o carinho dos brasileiros nos últimos anos, exemplo disso são os “cases” de sucesso da NFL (National Football League), principal liga de futebol americano e da NBA (National Basketball Association), o maior campeonato de basquete do mundo. Ambos possuem milhões de fãs, transmissões em TV aberta e por assinatura, além de eventos próprios e lojas com produtos licenciados. Porém, outra modalidade aparece “correndo por fora” e já tem praticantes e amantes fiéis no país.
O beisebol está presente há muito tempo no Brasil. Com forte relação com a imigração japonesa, a modalidade foi ganhando espaço e já aparece até no vestuário dos brasileiros. Encontrar bonés do time de Nova Iorque da MLB (Major League Baseball), os New York Yankees, é algo frequente nas lojas e nas cabeças de muitos.
Para o comentarista da ESPN Brasil, Ubiratan Leal, a moda pode ser um fator importante para o “pontapé inicial” de diversas pessoas no esporte: “Com isso, você percebe o beisebol, e acredito que perceber a existência do jogo já faz a diferença”. Ele complementa dizendo que, claro, “depois será necessário um trabalho mais de base”, como atividades de interação do esporte com os curiosos.
Outro ponto que o comentarista aborda é o crescimento dos streamings e das novas mídias, facilitando assim a popularização do esporte em terras que o futebol impera. Ele se lembra que nos anos 1990, acompanhar beisebol no Brasil era muito difícil e que atualmente qualquer um tem meios para se tornar um especialista: “Se tornou muito mais acessível”. Por outro lado, Ubiratan ressalva que a concorrência com outras modalidades também aumentou: “Ficou muito mais fácil para todo mundo, para todos os esportes”.
Atualmente, a MLB está na temporada regular e todos os dias um dos jogos é transmitido pela ESPN Brasil ou no serviço de streaming Star Plus. Gabriel Kenji, 20 anos, fã e jogador de beisebol, adora se reunir com os amigos para assistir uma partida da MLB e afirma que com a facilidade de hoje em dia ficou muito mais acessível acompanhar as partidas: “Sempre que eu tenho um tempinho nos estudos, procuro assistir um jogo ou outro”.
Inclusive Gabriel foi um dos atletas presentes na rodada 26 do campeonato paulista de beisebol que ocorreu no Estádio Municipal Mie Nishi. O local fundado em 1958 é o centro do esporte na capital de São Paulo. Localizado no Bom Retiro e bem próximo à Marginal Tietê, o espaço se tornou um símbolo e ponto de encontro para apaixonados pelo beisebol. Carlos Tatsumi, 58 anos, gestor de equipamento público do estádio ressalta a importância do complexo para fazer com que o esporte cresça no país: “Por ser o único aqui dentro de São Paulo, é muito importante. A gente, na verdade, precisa de mais estádios como esse para o esporte crescer. Nós estamos recebendo muitas melhorias, uma iluminação nova e placar eletrônico. Isso vai ajudar o esporte a crescer”.
Ficou interessado em conhecer mais sobre o Mie Nishi, clique no aqui e assista a visita que a nossa equipe fez ao estádio.
Como é ser atleta de beisebol no Brasil?
Cinco jogadores brasileiros já passaram pelos campos da maior liga de beisebol do mundo, sendo que Paulo Orlando e Yan Gomes já foram campeões da MLB. O último ainda foi selecionado em 2018 para participar do jogo das estrelas. Apesar da presença de alguns representantes brasileiros na luxuosa liga de beisebol americana, a realidade nacional é bem diferente dos times do norte, tanto em infraestrutura quanto na folha salarial.
A modalidade não é considerada profissional no Brasil, isso faz com que a maioria dos atletas tenham que trabalhar durante a semana e aos finais de semana ir para os campeonatos.
Esse é o caso do Victor Yasunaga, 26 anos, center fielder e arremessador do time de Ibiúna, e durante a semana, fisioterapeuta em uma clínica no bairro do Ipiranga. Victor conheceu o esporte através de sua família. Ele relata que com seus seis anos se lembra de jogar beisebol no quintal de casa com seu pai. Para o atleta, independente das dificuldades que enfrenta, não pensa em desistir da bolinha branca: “Eu acho que nunca vou parar de jogar, o beisebol só me trouxe coisas boas, tanto de amizades, disciplina e educação que aprendi com os meus amigos e com os técnicos, então eu só tenho a agradecer a esse pessoal”.
Gabriel Kenji, universitário e right field do Anhanguera, reforça que apesar de já ter se sentido desanimado com a falta de incentivo do esporte no país, o beisebol foi a “melhor coisa que aconteceu na minha vida”. Ele finaliza dizendo que o esporte faz parte de quem ele é e não consegue viver sem: “Com certeza é a minha segunda casa”.
Essa casa que o jovem atleta do Anhanguera se refere não para de crescer. Pelo contrário, procura receber novos integrantes. Exemplo disso é a história do árbitro de beisebol Claudionor Arbigaus, 55 anos, tenente da polícia militar na reserva e professor de educação física. Claudionor entrou no meio do esporte após o seu filho iniciar em um time de beisebol. Desde então, também treina e há dez anos apita jogos em campeonatos federados: “Eu ‘tô’ há uns 10 anos nessa atividade bacana para vir me divertir com o pessoal, para mim é hobby, mas a gente trata com seriedade todos os jogos, por isso que eu treino e dificilmente a gente acaba tomando decisão equivocada”.
O beisebol também é utilizado para conseguir bolsas em universidades brasileiras. O técnico do GECEBS, Rodnei Tetsuya, 32 anos, relembra que no período como jogador conquistou desconto de 100% em todo o curso na universidade. Hoje formado em Engenharia Elétrica, ele retribui o que o beisebol lhe deu, treinando as divisões de base e o time adulto da equipe com sede no Arujá: “Eu tento repassar de uma forma um pouco mais simplificada para os que estão chegando agora que dá certo, que a disciplina, que o esporte em si dá muitos benefícios”.
Futuro do beisebol no Brasil
Ubiratan Leal acredita no potencial do beisebol aqui no país. Para ele a modalidade ainda não atingiu o “boom” como os outros esportes americanos e talvez isso ainda demore um pouco, mas afirma que o esporte tem crescido gradualmente. Ubiratan diz que a CBBS (Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol) precisa fazer mais a parte dela para que o esporte tenha uma expansão no país. Ele sugere que sejam feitas ações em parques da cidade com gaiolas de arremesso e rebatidas, para que assim o público tenha o contato com o esporte e quem sabe goste da modalidade. Juntamente com a MLB, que precisa trazer uma faísca para ver o comportamento do público consumidor brasileiro.
Além disso, ele defende a inserção do jogo nas escolas, mesmo que como uma ferramenta ainda lúdica: “Se tivesse na educação física, aumentaria, como o handebol por exemplo [...] tem muito pouca infraestrutura e investimento para campeonatos organizados e o handebol brasileiro vive, o handebol brasileiro respira. O Brasil tem uma seleção que já foi campeão mundial no feminino”.
Já para o Carlos Tatsumi, o que falta é a divulgação do esporte: “Para a gente crescer, precisa das empresas e da mídia, é dessa forma que a gente vai conseguir crescer”. Tatsumi finaliza ressaltando que o Brasil tem nível técnico: “A Confederação mantém a academia Yakult e lá tem técnicos latinos, cubanos, venezuelanos, mas só que ainda fica muito restrito, esse que é o problema”.
Rodnei Tetsuya, técnico do GECEBS, relata que o esporte realmente não é tão difundido e que a Confederação poderia fazer um trabalho melhor, mas que a mudança deve partir dos apaixonados pelo esporte: “Se ficar dependendo de outras pessoas a gente só vai ficar no desejo e arrependimento. Se nós quiséssemos que o esporte tivesse maior visibilidade, devemos fazer por nós, nós jogadores, nós atletas, nós técnicos. A entidade eles estão fazendo o papel deles, mas como nós somos amantes, a gente deveria nos unir mais e fazer por nós mesmos”.