O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), maior banco de fomento do Brasil, tem aumentado sua presença na economia depois do início da crise causada pela pandemia de Covid-19. Ele lidera algumas das principais medidas de apoio apresentadas pelo governo federal para as empresas, protagonismo que, em certa medida, contrasta com a tendência verificada nos últimos anos.
“Estávamos em um momento de reduzir o tamanho do Estado por meio de refocalização das estatais e privatizações. Agora haverá um debate de até que ponto o Estado deve garantir uma estrutura mínima de segurança para evitar crises”, afirma Sérgio Lazzarini, professor do Insper, que tem entre as suas pesquisas as relações entre empresas privadas e o setor público.
O economista aponta que a atuação do BNDES após a pandemia será diferente da política de ‘campeãs nacionais’ dos governos Lula e Dilma, que consistia em fortalecer grandes empresas para se tornarem globais. “Aqui, o foco será em garantir produtos e serviços essenciais, em cenários de elevado estresse, como estamos passando.”
As medidas do banco estão programadas para o período de quarentena, e são voltadas a micro, pequenas e médias empresas, além do setor de saúde. De acordo com informações disponibilizadas em seu site, o BNDES movimenta R$ 67 bilhões em financiamentos que incluem um Programa Emergencial de Suporte a Empregos, para pagamento da folha de salário de funcionários de empresas, e um Apoio Emergencial ao Combate da Pandemia, para compra de equipamentos e outros produtos de saúde. Além disso, o banco suspendeu em até seis meses o pagamento de parcelas de crédito nas modalidades direta e indireta para empresas afetadas pela crise – medida conhecida no mercado como standstill.
As ações lançadas na pandemia evidenciam a mudança de eixo de grandes empresas para as menores, que possuem uma base financeira menos robusta para lidar com momentos de fortes impactos negativos na economia. As perspectivas de piora da crise após o isolamento social apontam a necessidade de ações que deem suporte às empresas, diminuindo as taxas de desemprego, que, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), devem aumentar principalmente em países emergentes, onde o número de desempregados receberá um acréscimo entre 1,7 milhão e 7,4 milhões de pessoas, segundo as estimativas do órgão.
“Acho que o esforço de reduzir as distorções do passado deve continuar. Por exemplo, evitar que o BNDES empreste para grandes empresas ou setores que podem se capitalizar de outra forma. Havia também a prática de fazer intervenções governamentais nos mercados e compensar os empresários com crédito facilitado”, diz Lazzarini. “Agora falaremos mais na linha de como o BNDES pode estimular empreendedorismo e infraestrutura crítica, que pode ser de menor interesse pelo setor privado. Isso ainda implicará um BNDES menor que no passado, porém muito mais direcionado e provavelmente muito mais efetivo.”
Esta mesma lógica parece conduzir alguns pacotes de providências preparados por instituições importantes para reconstruir a economia brasileira depois do período de quarentena, como o programa que está sendo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ao qual o presidente da instituição, Carlos Von Doellinger, tem se referido como um “Plano Marshall”, em alusão ao plano que reconstruiu a Europa depois da Segunda Guerra Mundial.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, em meados de abril, Von Doellinger disse que todas as diretorias foram mobilizadas e começaram a entregar relatórios no final do mesmo mês, apesar de não dar nenhuma projeção do valor para o plano. O objetivo é que o documento finalizado chegue à mesa do ministro da Economia, Paulo Guedes, no começo de junho.
A proposta do Ipea tem quatro eixos dos quais o terceiro envolve investimentos em infraestrutura mediante esforço do BNDES e indução do setor privado. A ideia até o momento é que envolva a remodelagem de parcerias público-privadas, tornando-as mais atraentes. Entre os setores a serem priorizados, estão o de saneamento básico, habitação e outras áreas de infraestrutura urbana.