Durante o mês de junho, foram localizados 406 focos de incêndio no Pantanal, de acordo com o satélite de referência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Já durante o mês de agosto, esse número subiu para 5935, contabilizando um aumento de mais de 1000%. O bioma apresenta, desde a metade do mês de julho até o início do mês de setembro, 9269 focos, sendo, aproximadamente, 70% desses localizados no Mato Grosso. A principal preocupação é o resgate dos animais.
Por estar passando por seu período de seca, é ainda mais difícil controlar e extinguir as chamas, que não são naturais do bioma. “O fato de termos uma sequência baixa de índices pluviométricos nos últimos tempos causadas por mudanças nas massas de ar priva a área de uma umidade que poderia auxiliar no combate ao fogo, porém, não se pode dizer que estes fatores são responsáveis pelos incêndios”, disse o geógrafo Paulo Souza, doutor em ciência da engenharia ambiental pela Universidade de São Paulo, “pode-se afirmar que o que está ocorrendo no Pantanal é devido a ação humana.”.
Esta ação pode ser dividida em três vertentes de culpabilidade, de acordo com o biólogo Joel Fernandes Lima. “É difícil apontar o dedo para quem é o verdadeiro culpado, pois existe um ciclo de culpa. Tem a culpa governamental, que é a falta de fiscalização, dando a deixa para fazendeiros iniciarem incêndios criminosos. Tem a culpa do agronegócio que, além de iniciar queimadas e muitas vezes não conseguir controlá-las, culpam o meio ambiente, como os períodos de seca ou o aquecimento global, de causarem os incêndios. E existe, por último, a culpa populacional causada pela falta de consciência, pois algumas estradas, como a transpantaneira, cortam o bioma e um motorista inconsciente pode iniciar uma grande queimada apenas jogando uma bituca de cigarro na mata.”
Resgates urgentes
Apesar das dificuldades, organizações como a Ampara Silvestre se mobilizaram para levantar fundos e conseguir uma equipe de profissionais para o resgate dos animais. Entre estas equipes, formadas por biólogos, estudantes e veterinários, está o médico veterinário Jorge Salomão. Atuando na Pousada Jaguar Ecological, localizada no km 110 da Transpantaneira, a equipe já resgatou, entre outros animais, uma anta, um filhote de veado e um quati, todos muito feridos, além de translocar jacarés para locais não afetados pelo fogo. “A imprensa local divulgou que aproximadamente 110 animais foram resgatados, mas creio terem sido menos. A maioria encontrada já estava carbonizada, infelizmente.”.
Com o dinheiro arrecadado pela organização, foi possível construir um centro provisório enquanto se esperava o auxílio do governo. “A pousada tentou contatar o poder público para conseguir auxílio a fim de montar uma equipe, mas uma esfera jogava para outra e não dava para esperar. Então, juntamente com um projeto de monitoramento de onças pintadas, foi levantado um valor para montar um centro provisório e trazer uma equipe para cá. E através da ajuda da Ampara Silvestre eu consegui vir.”, relata o veterinário. “Apenas depois de um tempo o governo criou, com o auxílio de uma ONG outro centro provisório no início da Transpantaneira.”.
Apesar desse auxílio, o veterinário afirma que em nenhum momento as chamas foram apagadas ou até mesmo controladas. De acordo com o profissional, após muita cobrança, foram enviados reforços e um avião para tentar controlar as queimadas, mas não foi muito efetivo. Isso ocorreu na última segunda-feira (7), quando houve uma grande manifestação nas redes sociais, principalmente no Twitter, onde a hashtag Ajuda Pantanal chegou nos assuntos mais comentados da plataforma. “Mesmo que tenhamos conseguido ajuda, a situação está se agravando. O fogo está se aproximando do Parque Estadual Encontro das Águas, local que abriga grande biodiversidade.”. Desde o início de setembro, foram localizados 190 focos de incêndio nessa unidade de conservação, de acordo com o INPE.
Mesmo fazendo o possível para salvar os animais presentes na área, os impactos ambientais que este bioma sofrerá serão gigantes. “Com os incêndios, ocorre uma elevação na temperatura da água, o que mata peixes, algas, bactérias e fungos, desequilibrando a cadeia alimentar.” diz o biólogo Joel Fernandes. “Além disso, as queimadas arrasam a vegetação nativa, que não estão habituadas com o aumento da temperatura e afeta o solo, matando sementes e outros organismos vivos.".
Foto de Capa por Jorge Salomão Jr.