Claramente, 2020 não foi o ano do audiovisual. Com milhares de séries e filmes travados, produtores e distribuidores consideram esse um ano perdido em virtude da pandemia do novo coronavírus. A paralisação teve início em meados de março, mas reabriu dia 10 de outubro. O que não reparou os danos causados ao longo desses meses, pelo contrário, acaba abrindo porta para outros, como por exemplo, uma nova onda da doença.
Para a indústria cinematográfica, a crise já significou uma perda de 10 bilhões de dólares em bilheterias. Enquanto isso, o sindicato da indústria de entretenimento dos EUA, a Aliança Internacional de Empregados Teatrais (IATSE), relata que até agora 120.000 trabalhadores foram demitidos em Hollywood como resultado da suspensão das atividades. O impacto imediato foi trágico, mas a preocupação também está crescendo em relação ao futuro da produção cinematográfica. À medida que o distanciamento social e o isolamento se tornam a nova norma, será que um negócio construído em torno de uma experiência comunitária consegue sobreviver?
Dizem que uma nova onda vem por aí, assim como já chegou em outros países como Itália e Portugal, mas segundo André Sturm, diretor do Petra Belas Artes, o novo normal não existe, as coisas já estão como eram antes, “Primeiro que eu não acredito em “nova normalidade”, ela não existe. É só você olhar em volta, você vê as praias lotadas, os bares lotados, os cinemas, os restaurantes lotados. A vida voltou, vai voltar completamente ao normal, com exceção para meia dúzia de pessoas, que enfim, são chatas”, ressalta Sturm.
Para aqueles que estão no meio de uma produção, a paralisação pode ser ainda pior. Até então, a pandemia interrompeu pelo menos 34 filmes e 144 séries de TV. Entre os filmes, estão incluídos lançamentos de grande orçamento, como A Pequena Sereia, Matrix 4, Jurassic World 3, The Batman. Essa pausa pode ocasionar um custo de até 350.000 dólares por dia para a Disney, de acordo com o The Hollywood Reporter. Dessa forma, o verdadeiro impacto do encerramento pode não ser sentido por meses.
Aos poucos, as lacunas deixadas na programação tanto nas telonas quanto nas telinhas estão sendo preenchidas, com o retorno das gravações que seguem todos os protocolos de segurança. O produtor e sócio da Kurundo Filmes, Alexandre Petillo afirma que no início da pandemia parou totalmente com seus trabalhos e projetos e só em meados de agosto voltou com suas atividades, mesmo que remotamente: “ficamos durante um mês parados. Tudo que estava em produção ou em pré, parou. Paramos para entender como seriam os próximos passos do mundo cinematográfico. Logo na sequência, os clientes começaram a entender a importância da linguagem do audiovisual e a partir daí, começamos a fazer algumas edições com imagens captadas pelo próprio cliente. Por dois meses isso ajudou de verdade a pagar as contas. ”, ressalta Petillo. Alexandre também aponta que 2020 adiou os dois projetos mais importantes que a produtora tinha em mente, o que não deve ter sido diferente para milhões de produtores espalhados pelo Brasil.
Vida normal às avessas:
O Estado de São Paulo, além de outros, entrou na fase verde da pandemia, e com isso foi autorizada a reabertura dos cinemas no dia 10 de outubro na capital paulista, porém eles precisam seguir uma série de medidas de segurança, como explica o diretor do Petra Belas Artes, André Sturm: "O comitê de covid do Estado criou um protocolo para o cinema, um tanto rigoroso e o cinema está cumprindo. Os funcionários estão usando máscara, fizemos marcações no chão de distanciamento e pontos de álcool em gel."
Já as gravações do audiovisual tiveram seu retorno antecipado, porém sob novas regras de segurança, "(...) parei durante 3 meses, mas depois não tive escolha a não ser voltar às atividades, com todos os procedimentos de segurança. ”, é o que fala o diretor e produtor da Agrião Filmes, Lucas Valentim. Com o atraso nas produções e nos lançamentos previstos para 2020 tudo precisou ser realocado e readaptado: “Muitos filmes que iam estrear tiveram adiamento de suas estreias. Tem filmes que foram reprogramados para começar só em 2021. Então você tem aí um estoque de filmes para estrear. ”- afirma Sturm.
Com o isolamento social muitas pessoas começaram a usar serviços de streamings. Segundo pesquisa da Conviva (empresa de inteligência integrada de dados), no mês de março houve um crescimento de 20% na utilização desse recurso. É o caso da jovem estudante, Gabriela Pires (22): “(...) a facilidade de encontrar filmes nessas plataformas aumentou significativamente a quantidade de filmes que eu assisto, contudo não trocaria a experiência de ir ao cinema por nada! ” Diferente do fotógrafo João Pedro Garcia (21), ele diz que não assistiu muitos filmes online, “a quantidade de filmes que eu assistia diminuiu bastante”, Garcia frequentava o cinema cerca de três vezes ao mês antes da pandemia.
Além disso, há também quem aproveite a oportunidade para assistir a programação do cinema drive-in. Na opinião de Petillo, essa a prática veio para ficar, uma vez que o retorno dos cinemas será um processo lento. Ao contrário, o diretor do Petra Belas Artes não teme a concorrência: “(..) acho que foi uma solução daquele momento, que você não tinha nenhuma possibilidade de diversão, que estava tudo fechado e o drive-in surgiu. Teve uma mistura de uma coisa de nostalgia e uma curiosidade de conhecer”
Agora, com os cinemas voltando a funcionar, muitas pessoas voltam a frequentá-los, mas Garcia questiona sobre a segurança desse lugar, “(...) é algo que fico muito inseguro ainda, não sinto necessidade, gostaria, mas não agora. Não me sinto seguro, é muito incerto o que estamos vivendo, então prefiro evitar. “ Mas há quem discorda, como Pires: “(...) acredito que no cinema é mais fácil de aplicar as medidas de segurança, é muito mais fácil controlar o número de pessoas do que em um bar, por exemplo. ”