Pandemia traz dificuldade para atendimento em consultórios médicos

Já a área de psicologia, por conseguir realizar atendimento remoto com facilidade, não enfrentou grandes problemas
por
Clara Maia de Castro Ribeiro e Larissa Soler e Silva
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03/07/2021 - 12h

A psicóloga Marcela Mello, de Taubaté, discute que questões de gênero na psicologia não apresentam tanta diferença, “de certa forma ainda é uma profissão na qual a grande maioria são mulheres”. Para Mello a dificuldade é a graduação, que ainda não supre as necessidades para um início satisfatório no mercado de trabalho, “Há muitos profissionais na área, portanto a capacitação precisa ser alta para que eles se destaquem".

Marcela Mello - psicóloga
Marcela Mello, Psicóloga (Foto: arquivo pessoal)

 

Carla Vasconcelos, dentista em São Paulo, também acredita que a área é aberta à atuação feminina: “Quando tive meus filhos, consegui fazer meus horários. Voltei com carga reduzida, isso ajudou bastante”. Entretanto, Vasconcelos expõe que por trabalhar em um consultório particular, é necessário administrar todo o campo profissional, “somos microempresários, se você ficar muito parada, não tem como pagar as contas depois”. 

Já a pediatra Ivani de Souza, de São Paulo, alega que o machismo é latente na medicina, “Acham que você é incapaz, ainda mais sendo negra, somente durante o acompanhamento é que vão criando confiança”. 

Com o advento do coronavírus as três entrevistadas falaram sobre o abandono de tratamentos pelo medo de uma possível contaminação. Vasconcelos declara que houve diminuição na procura de procedimentos odontológicos “No começo as pessoas tinham medo de ir. Inclusive, fiquei parada três meses. A orientação do conselho de odontologia, era de que atendêssemos só emergências e assim foi feito”.

Souza comenta que pessoas com doenças graves e crônicas, por medo de contrair o vírus pelo contato, abandonaram seus tratamentos. “Muitos deixaram de ir às consultas, alguns há mais de um ano não fazem o acompanhamento devido, podendo ocorrer o agravamento de doenças”. A médica complementa que muitos abdicaram do calendário de vacinação, tanto adulto quanto infantil, “Essas pessoas ficam expostas a doenças já controladas, como sarampo, catapora, meningite, etc.”

Mello comenta que a procura por terapia apresentou alta, “A demanda de trabalho aumentou consideravelmente, não só pelo cenário atual mas também como gatilho de cenários prévios.” Um grande desafio para a psicóloga nesse período foi adaptar a agenda, “O ambiente de trabalho que, em fases da pandemia foi impedido de funcionar, também foi necessário para organização do processo para o Home office visando a segurança dos pacientes e do profissional.”

Sobre existir ou não diferença entre consulta online e presencial, Mello diz que a eficácia é a mesma, já que consultas a distância eram aprovadas pelo conselho de psicologia antes mesmo da quarentena: “Acredito que isso trouxe maiores possibilidades e experiências às pessoas para facilitar o acesso ao tratamento psicológico.”

Para Souza, uma mudança durante a pandemia foi adequar hábitos de higiene no ambiente familiar, “Hoje em dia, temos tapetes úmidos na porta,com algum desinfetante, para que possamos limpar os pés e deixar os sapatos do lado de fora”. A médica diz que evita contato com pessoas assim que sai do hospital para que não haja contaminação: “Quando volto do plantão, uso máscara em casa, nem fico com meu marido e minha filha, permaneço no quarto e durmo de máscara, como no hospital”. 

No Hospital Municipal Carmino Cariccho, onde trabalha, Souza relata que os médicos são responsáveis pela higiene dos ambientes que usam com mais frequência, pois nem sempre equipes de limpeza estão presentes, “No consultório, borrifamos, com produtos específicos, a zona de atendimento e os equipamentos que vamos manusear. Em nossa área de repouso e alimentação, limpamos as mesas, a geladeira e as paredes”. A profissional acrescenta: “Limpamos os colchões que usamos, os travesseiros e todas as roupas”.

Já a adaptação no consultório de Vasconcelos foi tranquila. A dentista já seguia muitos dos protocolos, aderindo ao tapete higienizante e álcool gel, “Meu equipamento já estava todo forrado com plástico filme e trocado a cada paciente”. A vestimenta da dentista, também sofreu alterações: “Usamos a face shield, que é importantíssima, por conta da formação de aerossol. O avental que colocamos é descartável e usado por cima do jaleco, que em cirurgia já era feito.”

Carla Vascancelos, dentista
Carla Vasconcelos, dentista (Foto: arquivo pessoal)

 

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