Por Ana Luiza Bessa
Há quase dois anos, a população lida com o medo da infecção pela Covid-19 e o impacto do distanciamento social na saúde mental. De acordo com o Mapa Brasileiro da Covid do portal Inloco, o Brasil chegou a ter 60% da população em isolamento social até abril do ano passado, sendo um dos maiores números registrados no País.
A distância e a necessária limitação social, principalmente no período pré-vacina, foram amenizadas por ferramentas tecnológicas disponíveis na Internet. Apesar de não serem exclusividades dos tempos atuais, recursos como as chamadas de vídeo se tornaram os principais meios de comunicação durante a pandemia, abrangendo desde os mais idosos até os mais jovens.
“Eu acho que nós estamos vivendo um momento muito difícil. Mas não só nós que estamos aqui. A saudade é grande, mas precisamos entender que tudo tem limites”. É o que diz Maria Inês*, paciente da casa de repouso Jardins de Hérmom, na Zona Sul de São Paulo. De acordo com o portal de assistência social do governo federal, mais de 88 idosos vivem em casas de repouso. Devido à saudade dos familiares, proibidos de realizarem visitas por conta da quarentena, a saúde mental desses pacientes - que já vivem isolados - começou a ser uma preocupação entre os especialistas.
“Hoje em dia, para suprir a falta dos familiares e fazer com que não haja uma brusca alteração na saúde mental dos pacientes, começamos a fazer mais festas para haver distração. Com músicas e com videochamadas, os familiares participam junto com a gente”, afirmou a enfermeira geriátrica Erika Machado em entrevista concedida para esta reportagem. Além das sessões com psicólogos e fisioterapeutas, a tecnologia foi essencial para reduzir a distância e a saudade entre familiares e pacientes e cuidar da saúde mental dos idosos.
O Projeto Doa Tempo, criado pela psicóloga Arielle Sagrillo, é outra iniciativa que usa a tecnologia para auxiliar no tratamento da saúde mental dos idosos. A plataforma permite que voluntários de todo o país possam doar seu tempo conversando com pacientes de casas de repouso através de videochamadas. Além do bate-papo, através do projeto é possível recitar poesia, contar histórias, tocar músicas e até dançar.
Mas não é só nas casas de repouso que as chamadas em vídeo são utilizadas pelos idosos. De acordo com um levantamento feito pela Integrar Gerações com 459 pessoas com mais de 50 anos, a participação de idosos em aulas on-line subiu de 22% para 53% na crise. Pós-pandemia, 45% dos entrevistados disseram que seguirão realizando as atividades de forma virtual.
No mundo universitário, jovens e adultos também têm utilizado os aplicativos de reuniões online para terem aulas à distância e apresentar seus trabalhos de conclusão de curso (TCC).
“Apesar de não ser o formato ideal para a apresentação de um trabalho tão importante e não ser acessível para toda a população, as videochamadas estão supriram as necessidades de garantir que os estudantes possam se formar mesmo em um momento tão complicado”, afirma o estudante de jornalismo da PUC-SP, Ulisses Lopresti.
A empresa Microsoft, dona da plataforma Microsoft Teams, registrou em um mês um aumento de 70% de usuários. Em março de 2020, no início da pandemia, as ações do aplicativo de videoconferência Zoom Video Communications passaram de US$ 120 para US$ 150 dólares, e a empresa chegou a atingir 200 milhões de usuários diários.
Segundo Eric Yuan, presidente do Zoom, o serviço foi usado por 90 mil escolas em 20 países diferentes. Porém, nem todos os alunos tiveram acesso às aulas online no Brasil, que foram impostas antes do país atingir um patamar de vacinação necessário para que as atividades presenciais voltassem com segurança.
De acordo com a pesquisa TIC Educação de 2019, apenas 16% dos alunos de escolas públicas e privadas declararam já ter participado de cursos online e somente 24% já haviam realizado simulados ou provas, o que pode indicar dificuldades no ambiente virtual de aprendizagem.
“No ensino à distância, o que eu mais senti de diferente foi que os professores, mesmo nos finais de semana, continuaram passando lição de casa. Se fosse na escola (presencial) não seria assim, pois eles têm outras formas de avaliar os alunos”, afirmou Sophia Pasternack, aluna do ensino médio na rede pública de São Paulo.
A estudante também indicou outras dificuldades na adaptação no ambiente virtual: “Não acompanhei as aulas online. Meus irmãos mais novos também estavam em casa. Na minha casa não tem condições de acompanhar todas as aulas”.
Mais um problema do Ensino à Distância pelas chamadas em vídeo é a desigualdade no acesso, situação notável entre escolas públicas e particulares. Ainda de acordo com a pesquisa da TIC Educação, 39% dos estudantes de escolas públicas urbanas não possuem computador ou tablets em casa. Já entre estudantes de particulares, o índice chega a somente 9%.
Professores também sofreram com a falta de preparo prévio para a inserção no mundo digital: 53% dos entrevistados pela pesquisa disseram que a ausência de curso específico para o uso do computador e da Internet nas aulas dificulta muito o trabalho e para 26%, dificulta um pouco. A soma entre os docentes que indicaram alguma dificuldade chega a 79% dos entrevistados.
Alice de Oliveira, diretora da escola estadual Isaltino de Mello, afirmou que o maior desafio foi incluir toda a comunidade escolar:
“A gente percebe que é muito desigual o acesso dos professores e o nível de conhecimento na área de informática. Nunca tivemos uma informação sistematizada para acesso às ferramentas digitais. Temos problemas de falta de equipamentos, Internet... conseguimos incluir todos (professores) mas foi longe do ideal”, explica a docente.
A diretora também detalhou a situação dos alunos da escola durante o período de aulas online: “Sobre os alunos, estamos nessa luta pelo acesso e inclusão digital desde que as aulas retornaram. Não conseguimos incluir todos os alunos. Temos alunos que não tem celular, Internet, que perderam a possibilidade de pagar um plano de Internet por conta da crise. É muito desigual também”, finaliza.