Pandemia gera oportunidade para novas escritoras publicarem livros

"O louco", de Thaís Boito, é fruto do confinamento que gerou tempo para a nova autora se lançar na literatura
por
João Victor Esposo Guimarães e Maria Eduarda Mendonça
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04/07/2021 - 12h

 

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Descrição gerada automaticamenteA escritora Thaís Boito, 18, autora do livro independente de “O Louco”, conseguiu tempo para escrever seu primeiro livro durante a realidade pandêmica. Foi apenas nesse contexto que ela organizou os pensamentos e desenvolver seu texto. Contudo, a falta do contato físico fez uma grande diferença, uma vez que a autora foi obrigada a aprender tudo sozinha. Ao longo da escrita, não teve muitas influências de escritoras nacionais, revelando que precisa colocar a leitura nacional em dia. “Tive influência de autores de fantasia, principalmente Sarah J. Maas, Leigh Bardugo, e os nacionais, Carolina Munhóz, Sophia Abrahão e Augusto Cury.”

Boito também discutiu que, durante a pandemia, adquiriu mais autoconhecimento, e continua na luta contra a pirataria, o que, segundo ela, definitivamente não é um elemento motivador, tendo influência direta em seu desempenho.

"Nesta pandemia não foram só os livros que estouraram, a arte estourou. Há muita gente que acha que a arte não faz diferença, a pandemia provou e continua provando que ela é necessária. Não dá pra viver sem música, livro, série, filme... As pessoas precisavam de um refúgio, ‘viajar’ pra outro lugar e os livros trazem isso, trazem aventuras, tudo que a pandemia nos privou de fazer.”, pontua Boito.

A escrita na pandemia para Juliana Schmeling, 16, autora de “Caos e Chamas”, foi um processo de superação. Precisou conciliar a escola com a escrita, sem seus pais terem consciência que estava escrevendo um livro, e posteriormente, apoiaram-na. Inevitavelmente, o medo e receio de algum ente querido contrair a doença manteve-se presente, provocando ansiedade e atrapalhando o desenvolvimento da história. Assim como Boito, Schmeling seguiu a mesma linha de inspiração com livros de Sarah J Maas, indicando também obras de Thalita Rebouças e Paula Pimenta.

“Elas foram um tipo de inspiração porque elas conseguiram se consolidar como escritoras e tiveram seus livros adaptados em filmes. Então se elas, que são nacionais, conseguiram, eu posso também”.

A autora ressalta que a Internet é um ótimo lugar para vender um produto, assim como para divulgá-lo, auxiliando na visibilidade das obras. Schmeling não deixa de fora a saudade de eventos sociais para prestigiar a literatura, por exemplo, a Bienal do Livro, realizada totalmente on-line em 2020.

Já a estudante de psicologia Maria Clara Lobo Lotufo, durante anos conciliou sua vida acadêmica com a paixão pela escrita de textos poéticos, e de teor romântico, na expectativa de uma experiência profissional na área. A escritora apontou inspirações em autoras como Dorothy Parker e Virginia Wolff, condizente com a afirmação da entrevistada quanto a ser mulher em seus textos, quando ela afirma “atrelar o amor (presente no texto) à feminilidade”, e ao mesmo tempo contornar temas como machismo e desigualdade de forma sutil, porém nunca se omitindo. Um ponto importante apontado foi sobre a “imagem de escritora” que a jovem tenta manter ao conversar com pessoas que tem um potencial para inspirar um texto ou algo parecido, o que diretamente mostra o quanto a escrita dela se baseava em relações interpessoais, conversas filosóficas e desabafos de amores no ensino médio.

Maria Clara, 18, afirma que o começo da pandemia foi uma época de muita criatividade, apesar de perder a relação com pessoas que tanto a inspiravam. Ratifica que a nova realidade serviu como nova fonte para os textos, e até mesmo como fuga do antigo formato que envolvia, como ela mesmo afirmou, “pesquisas de campo” com outras pessoas para falar um pouco do amor na juventude. Lotufo conta que, com a chegada do isolamento, seus textos se pareciam mais com uma escrita baseada no Foto em preto e branco com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente com confiança médianovo cotidiano, tornando-se banal e repetitivo com o tempo. A inspiração se deu com um tom de frustração por, no dia a dia pandêmico, ser impossível enxergar uma luz no fim do túnel, trazendo à tona a pergunta “por que escrever?”. “Parecia que o tempo estava parado, porém ainda estava passando", revela Lotufo. Os textos antes delicados e inteligentes agora haviam se tornado desabafos atrapalhados. Para ela, a pandemia foi um marco para que começasse a falar e focar mais em si mesma.

Dentre suas diversas produções, Clara produziu uma zine durante a pandemia. Escrita em diferentes formas, fugindo de suas produções comuns postadas no Instagram. Recheada de elementos criativos e excêntricos, a obra aborda temas evidenciados no cotidiano e nas vivências do isolamento, tentando trazer um lado mais intimista e sensível.

 

 

 

 

 

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