Durante a pandemia do coronavírus, a educação precisou se reformular para poder dar continuidade ao ensino. As mudanças foram sentidas de diferentes formas por pais de crianças em processos de alfabetização, alunos em ano de vestibular e professores. Entretanto, são ressaltados aspectos positivos para a autonomia e aprendizagem cotidiana desenvolvida no período.
Márcio Rafael Cruz, gestor e idealizador da escola on-line Linkage School e professor de biologia na rede privada de educação, relata que a escola já necessitava de uma reinvenção há anos. “As carteiras enfileiradas, o modelo de escola padronizada, que visa somente a padronização do estudo, é uma tendência ao fracasso. Cedo ou tarde ela vai deixar de existir”.
O professor destaca que a tecnologia, que permite que as aulas sejam gravadas e haja uma comunicação simultânea com o aluno, gerou uma flexibilização na rotina dos estudantes. “Alunos que tinham dificuldade na questão presencial, com horários fixos, agora no ensino remoto têm uma flexibilidade melhor de horários e se adaptaram melhor”.
Cruz ainda enfatiza que as escolas não estão vivendo o ‘EAD’, mas sim um ensino remoto. “O ensino à distancia tem um planejamento e uma metodologia de aula e avaliação diferente. Não adianta usar o formato de ensino presencial e ‘jogar’ no on-line”.
Por lecionar biologia, que possui diversas atividades laboratoriais, Cruz informa que há uma defasagem nas aulas práticas, mas a situação pode ser revertida. “Nada impede que daqui pra frente alguém possa desenvolver um laboratório virtual. A situação é muito emergencial, por isso o planejamento pode estar um pouco defasado. Estamos lutando um dia de cada vez, resolvendo um problema de cada vez”.
Para a estudante do Colégio Salesiano Santa Teresinha, Julia Clemente, 17, a forma de ensino mais flexibilizada permitiu que ela buscasse mais informações sobre os vestibulares que ela irá prestar no final do ano. “Tenho mais tempo livre para pensar e estou pesquisando sobre os vestibulares, faculdades”.
Clemente aponta que uma das mudanças gerou um resultado positivo no desenvolvimento de sua autonomia, principalmente por estar concluindo o Ensino Médio e enxergar esta independência como um fator importante para seu futuro. “Uma mudança muito boa foi a de ‘liberdade’. No próximo ano eu vou precisar dessa independência e neste sentido, o ensino remoto foi muito bom. Na escola, o professor te obriga, em casa você é o único responsável”.
Na Educação Infantil, o cenário é diferente. As crianças que passam pelo processo de alfabetização não aprendem matérias e disciplinas, mas sim por meio de interações, sendo estimuladas com atividades e brincadeiras. Desta forma, foram outros os obstáculos enfrentados.
Waleska Brilhante, mãe de Felipe, 4, mostra que no início do período, o menino gostava de ficar de frente da tela do computador para encontrar com os amigos e a professora. “No começo foi tudo divertido. Eram 40 minutos e ele ficava tranquilo. Hoje ele não quer mais ficar nem meia hora, ele não tem paciência, não tem foco”.
Brilhante expõe que a Escola Miudinho, onde Felipe está matriculado é muito vivencial e por isso, sente que as crianças estão perdendo algumas aprendizagens. “Na escola tem horta, cozinha, atividades de folclore, natação, o que ele não está tendo agora. Quando eles chegam na escola tem interação e então começam as atividades. Hoje é sentar e fazer a tarefa”.
Por outro lado, a mãe indica que a família está passando a quarentena em um sítio, o que permite que tenham um maior contato com a natureza e o menino aprenda com essas situações também. “Ele plantou um pé de feijão e está colhendo. Eu acredito que teve uma perda do aprendizado mais ‘formal’, mas da vida, da vivência, ele teve um ganho”.
Brilhante expõe sobre conscientização da importância dos professores para a construção do conhecimento que o período de ensino remoto proporcionou. “Agora, vendo a dificuldade de lidar com toda rotina, acredito que vão ser mais valorizados”.