Pandemia aumenta público online de Festivais de Cinema no Brasil

Sem poder realizar debates e exibições presenciais, eventos para cinéfilos tem maior adesão na realização à distância.
por
Pedro Kono
|
18/09/2020 - 12h

Em meio à pandemia, festivais de cinema do Brasil contabilizam seus maiores números de público entre todas as edições. A marca se deve à adequação ao formato online com o intuito de respeitar o isolamento social.

 

Daniel Diaz (27), coordenador geral do Festival Ecrã, que presencialmente acontecia no Rio de Janeiro, relata que, se a edição física de 2019 teve um público de cerca de 2 mil pessoas, a digital deste ano atingiu um número que superou a marca de 20 mil usuários e 49 países. ‘‘Tínhamos uma expectativa de multiplicar o público do ano passado, talvez um pouco mais por ser online, mas foi muito além do que a gente imaginava’’.

 

Além da popularidade, Diaz conta que as plataformas digitais ‘‘abriram portas e possibilidades que, na verdade, eram muito óbvias’’. Identificado como um festival que extrapola o cinema e possui experimentações mais livres que envolvem o audiovisual, o Ecrã aproveitou a oportunidade para explorar meios de exibições mais criativos. Dois exemplos são os filmes ‘‘Nelson’’, de Matheus Strelow, obra de 13 minutos filmada com uma webcam que foi expandida para uma instalação de 24 horas em uma plataforma digital, e ‘‘E Eu Vivi Minhas Fantasias’’, de Naama Freedman, que foi exibido na ferramenta de transmissão ao vivo da rede social Instagram.

 

‘‘O que nós não imaginávamos era sair da esfera de São Paulo e entrar para a esfera do Brasil.’’, diz Ricardo Albuquerque (22), social media do Kinoforum, associação responsável por realizar o Festival Internacional de Curtas-Metragens de SP. Confirmado no formato digital em Junho, o festival aconteceu no mês de Agosto e, segundo Albuquerque, conseguiu extrapolar seu nicho e alcançar um público maior.

 

Albuquerque também conta que a interação entre os espectadores, realizadores e pessoas do meio do audiovisual, um dos principais atrativos de um festival de cinema, aconteceu na edição não presencial deste ano. Além do elevado engajamento pelas redes sociais, a instituição realizava happy hours via plataforma digital Zoom após as sessões, juntando entusiastas e cineastas para um bate-papo mais descontraído. Os já tradicionais bate-papos e mesas redondas com diretores e elenco, antes e depois da exibição de seus filmes, também foram adaptados para o formato à distância. ‘‘Alguns realizadores me falaram que até preferem que esses debates continuem via online’’, conta Diaz.

 

Questionado sobre a possibilidade de uma edição online em um mundo pós-pandemia, Albuquerque responde que ‘‘essa é a pergunta que todos os festivais de cinema estão fazendo agora...precisaríamos de um desenho de produção totalmente novo, mas é uma questão’’. A resposta positiva à edição deste ano não levantou a questão apenas para o Kinoforum, na medida em que Diaz relata que pretende utilizar novamente as possibilidades de um evento à distância para futuras edições do Ecrã: ‘’Nós não pensamos mais a edição online deste ano como uma coisa pontual.’’. Diaz também conta que a equipe do festival está realizando uma coleta de dados para talvez idealizar uma edição mista entre o presencial e o online no futuro.

 

Financeiramente, os festivais cortaram os custos de equipamentos e locomoção de seus realizadores. Preservando, como sempre, a entrada gratuita, e se mantendo com o pagamento das inscrições e a ajuda de parceiros, as instituições não sofreram grandes prejuízos.

 

Apesar de acontecerem online, ambos os festivais realizaram projetos que ocuparam espaços físicos. O Festival de Curtas contou com um cinema drive-in e o projeto ‘‘A Cidade é Uma Tela’’, caracterizado pela exibição de curtas-metragens na parede de um prédio situado na Vila Buarque. O Festival Ecrã também projetou filmes em paredes e prédios para o público de algumas regiões do Rio de Janeiro. Diaz conta que fez a curadoria destas obras e que buscou exibir filmes que se adequassem ao formato, priorizando curtas sem áudio.

 

No Brasil, os cinemas já foram reabertos em algumas cidades selecionadas. O Festival De Volta Para o Cinema teve início no começo de Setembro e conta com a exibição de blockbusters americanos consagrados, como ‘‘Vingadores’’, ‘‘Star Wars’’ e ‘‘Harry Potter’’. Perguntado se a realização presencial deste festival tão próximo da edição deste ano do Ecrã tenha resultado em algum desconforto, Diaz respondeu que ‘‘nem estava sabendo da existência (do festival)...particularmente, não acho que é o momento, mas talvez eles tenham uma estrutura para cumprir com as recomendações de higiene.’’. Albuquerque também nega qualquer tipo de repercussão no Kinoforum e acredita que são eventos para públicos diferentes.

Tags: