Pajubá fortalece a voz LGBTQIAP+ no Brasil

Com uma forma de comunicação única, dialeto reflete resistência de mulheres trans e travestis
por
Thainá Brito
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13/06/2024 - 12h

Palavras como “lacre” ou “babado” ditas cotidianamente por diversas pessoas, são gírias que vão além de um simples vocabulário divertido. O dialeto Pajubá possui origens em grupos étnicos-linguísticos africanos, como o iorubá e o nagô. As expressões criadas ou adaptadas por mulheres trans e travestis, foram utilizadas na ditadura militar como meio de resistência a repressão que a comunidade vivia.

O dialeto incorpora uma mistura de termos africanos com o português, que são comuns em terreiros de Umbanda e Candomblé – religiões que de certa forma acolhem mulheres trans e travestis – resultando em palavras incompreendidas por quem é de fora da comunidade em questão.

“Foi através dessa linguagem que mulheres trans e travestis aprenderam a sobreviver nas ruas, onde as suas vidas eram completamente devastadas, principalmente com a legitimação da Operação Tarântula, que era uma forma arbitrária e violenta para a morte de travestis no período da ditadura militar” diz Liah Normany, atriz e graduanda em estudos africanos e afro-brasileiros.

A operação policial batizada de Tarântula, de 1987, tinha o objetivo eliminar travestis das ruas de São Paulo, utilizou a justificativa de ‘combate a Aids’ para oficializar a violência contra a comunidade. Assim, o Pajubá foi um aliado, já que quem era de fora do grupo não entendia as palavras enunciadas.

Mulher trans sendo presa durante operação policial em 1980
Mulher trans sendo presa durante operação policial em 1980. Imagem: Juca Martins

“Meu primeiro contato com o Pajubá foi com as manas travestis quando comecei a minha transição. A partir daí, fui conhecendo e descobrindo mais a fundo de como essa linguagem ainda se mantém viva, sendo ressignificada e incorporada como um meio de resistência na atualidade” afirma Liah.

Jornalista
Jornalista Ângelo Vip segurando livro Aurélia - A dicionária da língua afiada. Imagem: Moacyr Lopes Júnior

A linguagem se tornou habitual para muitas pessoas, principalmente jovens. A popularização se deu, em grande parte, pela internet com memes e personalidades famosas. “É uma linguagem que ainda é muito característica no meio LGTBQIA+, mesmo possuindo suas origens na comunidade trans, é muito agregadora a inclusão de toda a comunidade que se faz aliada para que essa sociabilidade linguística não desapareça” conta a atriz.

Em 2006, foi publicado o dicionário intitulado de Aurélia – a dicionária da língua afiada, escrito por Ângelo Vip e Fred Lib. Com muito humor, a ‘dicionária’ descreve termos (principalmente em pajubá) da comunidade LGBTQIAP+ de diversos países falantes da língua portuguesa, fugindo do politicamente correto.

O livro deixou de circular após ameaças de ação judicial por parte da Editora Positivo e da família do lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda, que detém os direitos dos produtos Aurélio, alegando que o livro seria uma ‘deturpação do nome’, mas argumentando que ‘não seria uma prática homofóbica’.

 

Algumas expressões em pajubá e seus significados:

Aquenda o alibã: cuidado com a polícia

Neca: pênis

Dar a Elza: roubar, afanar

Amapô: mulher

Acué: dinheiro

Picumã: Cabelo, peruca

Gongar: Ridicularizar, fazer zombaria